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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 48)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 20 de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Banho de sol

Lydia Federici

E dizer-se que já houve tempo em que o bonito era um colo imaculadamente leitoso. Uma pele branca, em que se podia descobrir o azulado das veias palpitantes.

Hoje, cara branca é coisa que não se usa mais. Só gente que faz questão de demonstrar que está doente. Ou então bailarina clássica. Ou palhaço de circo. São essas as três exceções. O resto do povo faz questão de usar couro curtido. Ou pelica escura. Dando impressão de quentura. De saúde.

Para quase todos os morenos ou morenas de pele mate, o problema é simples. Basta um pouco de sol. E a cor de saúde aparece. Mas, as ruivas e as louras de verdade, como se arranjam? Não há sol nem preparados que as escureçam. Ficar com jeito de anêmicas? De forma alguma. É avermelhar. E descascar. E tornar a avermelhar. O indispensável é poder provar, pela pele cor de iodo ou de camarão cozido, que se está em Santos, que se passou por aqui, aproveitando o sol de beira-mar.

Vai daí essa ânsia de amorenamento que observamos por todos os lados. Banho de sol, nos fins de semana, no meio da semana, nas temporadas de férias, nos dois "intermezos" de trabalho, é a coisa mais comum em Santos.

É evidente que o lugar predileto de exposição aos raios solares é a praia, o único lugar público onde, sem escândalo, nove décimos de toda nossa pele pode apanhar sol, livremente.

Ali, a granfina apanha sol coado através de óleos protetores, franceses ou americanos. Ali, o broto comum usa, como protetor, a comum coca-cola. Ali, a gente dos bairros se amorena naturalmente, sem a preocupação de filtrar os raios danosos do sol. De qualquer forma, apanhando sol, fica-se queimada, não se fica? Então? Para que gastar dinheiro em bobagens?

Mas há muitos outros lugares em que se pode sentir, no corpo, o calor gostoso do sol. Na coberta de uma lancha, por exemplo. Ultragranfino. Na ponta de um canal. Ultrapoético. Sobre a laje pequena da pedra Feiticeira. Que constitui o ultraperigoso. Mas também é possível queimar-se comodamente sentado num banco de jardim, nos muros baixos das casas, nos terraços dos apartamentos.

Menina de morro apanha sol no tanque, batendo roupa. Na cidade, a rapaziada arregaça a manga, abre a camisa no peito e, do escritório ao banco, pelo lado desprotegido da rua, aproveita 200 metros de sol. Na Santa Casa, o doente espicha a perna fora das cobertas e alegra-se com o retângulo de luz dourada que entra pela janela.

As crianças da Sete de Setembro sentam-se na porta dos porões, as do lado sombreado pulando para a banda de cá da rua. No cais o sol está em todo lado. Os estivadores, muito vivos, se protegem com o suor do próprio corpo. Os serventes baianos tomam sol nas alturas dos arcabouços que levantam.

E daí? Tudo não é sol? Não é saúde? Não é beleza?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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