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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 41)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 11 de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

A grande descoberta

Lydia Federici

Eram cinco homens. Todos cinco de terno azul marinho, desses que têm o paletó cruzado. Jaquetão que chamam, não é? Usavam-nos severamente abotoados sobre uma camisa clara, de colarinho devidamente engravatado. As meias escuras sumiam dentro dos sapatos pretos de amarrar.

Se fossem a uma festa estariam devidamente trajados. A um casamento, também. Mas na praia ensolarada, repleta de falta de roupa, aqueles cinco ternos estavam completamente deslocados. E logo cinco? Todos iguais?

Tinham descido de um ônibus grande, atravessando, em transe, o jardim, pulado para a areia fofa que lhes dificultava o avanço apressado. Caminharam, em linha reta, até o mar. Sem falar, sem olhar para ninguém. Esquisitos de uma vez.

Junto ao mar, estacaram. Todos na mesma linha, ombro contra ombro. Uma onda, morrendo, chegou-lhes aos pés. Não se mexeram. Observaram a água refluir. Hipnotizado, um avançou para a água que fugia para o grande mar. Os outros quatro seguiram-no e, todos juntos, sempre unidos, iguais, ombro tocando ombro, ficaram olhando outra onda pequenina que avançava. Que avançou até eles, molhando-lhes a sola dos sapatos. Então eles riram e se entreolharam maravilhados. O do meio abaixou-se, mergulhou a mão no centímetro de água. Ainda abaixado levantou o braço, levou a mão molhada ao rosto, passou-a pelos lábios. Os companheiros olhavam-no numa expectativa que os fazia curvar o corpo, arregalar os olhos, entreabrir os lábios.

"É mesmo". E sacudiu, solenemente, por três vezes, a cabeça.

E então todos se abaixaram e, na onda que avançava com preguiça, espalmaram as mãos e repetiram o mesmo ritual do companheiro.

Um grupo curioso de banhistas, principalmente de crianças, olhava os cinco homens de terno, gravata e sapatos molhados. Que oração era aquela? Que faziam eles? Dóris, curiosa, com as costas queimadas rebrilhando de óleo, aproximou-se da fila. Bem no momento de ouvir, incrédula, decepcionada, divertida, a frase que ficou soando a apregoar a grande descoberta:

"E não é que é salgada mesmo?"


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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