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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 40)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 10 de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Carregadores de café

Lydia Federici

Estão espalhados por toda a cidade onde houver um armazém de café. Na General Câmara, na João Pessoa, na Rua do Comércio, junto ao cais. Todos fazem a mesma coisa. Tiram, dos caminhões, as sacas de café que vêm do interior e levam-nas para dentro dos armazéns. Seu único distintivo? O gorro ajustado na cabeça. Característica? O pescoço forte. E uma filosofia digna de ser imitada: uma vez que têm que trabalhar, trabalham de bom humor. Nunca os vi, pelo menos os da Rua Riachuelo, tristes, briguentos ou carrancudos.

De manhã cedo, sentam-se alguns na soleira de pedra das portas do armazém. Outros encostam-se ao paredão liso e alto. Tudo e nada os divertem. E fazem-nos rir. Ri o português atarracado e ri o preto reluzente. Pelam-se por ver uma senhora encostar o carro ao meio fio, sempre atrapalhada com a marcha a ré. "Dona. Aqui não pode deixar. Vão chegar os caminhões de café".

E, de fato, lá vêm eles, em fila, grandes e pesados, roncando grosso. Movimentam-se os carregadores. Os homens, encostados na parede, bocejam e esticam os braços musculosos. Acabou-se a folga da espera. Com a visão, sempre comentada, das caixeiras que passam apressadas, tique-taqueando as chinelas. Os sentados levantam-se com preguiça, ajeitam as calças de riscado. A camiseta de algodão branca estufa com o suspiro que dão. Ainda olham para a rua. Sorriem do esforço que parece fazer o rapaz que carrega uma pasta magra. Riem para a menina sonolenta que passa, levando, com cuidado, a panela amassada de alumínio rebrilhante.

"Hoje tem leite, hein, nenê? Que bom". A garota sorri.

Em fila, chegam-se ao caminhão. Os braços se erguem e amortecem o peso da saca que dois companheiros, do alto, lhe chegam para a cabeça. Os músculos do pescoço engrossam. Com as mãos que, até então, tinham estado quase ociosas, a desenhar riscos no passeio sujo, firmam, pelos cantos, o saco pesado. Somem, em passos cadenciados, na escuridão do depósito. Quando reaparecem, piscam para a luz, para o sol. Sorriem. Aspiram, com delícia, o perfume deixado pela senhora que acabou de passar. E cuja saia balouçante eles, de soslaio, ainda veem sumir na esquina. Lá pegam mais 60 quilos. E, de novo, mais uma saca. Outra mais.

Meia hora depois, o suor escorrendo-lhes pelo corpo, encharcando-lhes camisetas e calças, dos homens há pouco limpos só se reconhece o mesmo sorriso divertido. E a mesma gentileza: "Pode passar, senhorita". Braços, ombros, costas, roupas estão enfarinhados de um verde pardacento. Com as unhas, coçam o pescoço. Ajeitam o gorro. Sungam as calças.

E, enquanto houver café, continuam a sorrir para os vestidos estampados e a receber, na cabeça, mais uma saca com 60 quilos de grãos empoeirados.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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