GENTE E COISAS DA CIDADE Chapéu de sol
Lydia Federici
Seu nome científico? Uma variedade de agárico. Agárico qualquer coisa. Ou qualquer coisa agaricus. Mas todos o conhecem por chapéu
de sol.
São árvores bonitas? Depende do gosto e da planta. Crescem logo e à toa, sem cuidado nenhum, dando uma sombra generosa. Por esse motivo é que, nesta cidade quase sempre ensolarada, orlaram toda a avenida da praia com as plantas de folhas largas, de
um verde escuro e denso. Têm um inconveniente, porém. Como espalham a galharia em todas as direções, os operários da Prefeitura, uma vez por ano, dão-lhe, entre resmungos, uma poda em regra. Ramo que encosta nos fios elétricos, cai sob o serrote.
Daí o aleijão que os chapéus de sol da avenida praiana apresentam. São Feios.
Na areia, onde mais tarde foram plantados, poderiam expandir-se livremente. Ficariam bonitos, então. Evitariam que milhares de banhistas se utilizassem da sombra das outras árvores e simples arbustos que, aqui e ali, enfeitam o jardim. Mas quem
diz? Os tarzãs bobões vivem a arrancar-lhes os galhos. E depois compram guarda-sóis de fábrica.
Que outras utilidades têm essas árvores que os turistas vivem a namorar? Só fornecem sombra? Qual o que. Por esta época, carregadas de frutos, oferecem munição gratuita ao exercício de pontaria da molecada. Para os que gostam de coisas azedas, têm
as frutas amendoadas, entre a casca e o caroço, três milímetros de polpa fibrosa. Que, a uma simples dentada, amarra a boca por uma hora. Os troncos rugosos são o passatempo favorito de todo rapaz que espera a namorada atrasada: são deliciosos de
descascar. As folhas ajudam os automobilistas a manter limpos os para-brisas dos carros. Mas tem que ser folha verde, que a seca, caída no chão, não presta. Daí a outra razão de, quase sempre, a gente ver um marmanjão dependurado num galho.
Mas, nesta terra ilhada, quem quiser ver, de fato, no duro, um verdadeiro exemplar de agárico, tem que ir procurá-lo na Ponta da Praia. Qualquer que seja a sua idade, meu amigo, aquela árvores ainda é um pouco mais velha. Está bem diante do Vasco,
no meio da avenida. É todo um poema de força e de vigor. É uma glória. Um templo fresco e repousante. Em que, de manhã, milhares de pequeninas vozes saúdam a alvorada. No qual o coro de pardais chilreantes, à tarde, quando o sol avermelha tudo, se
ouve o toque de recolher.
Só quem viu e ouviu o chapéu de sol da Ponta da Praia é que pode, emocionado, compreender o que seja realmente essa árvore amiga. E tão maltratada.
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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