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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 34)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 3 de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Conversa de mulher

Lydia Federici

Pensamento único de mulher é homem. Mas conversa, não.

Homem se interessa por mulher? Fala da mulher. Sem peia de espécie alguma. Com toda a naturalidade. De forma direta. Mulher quer o homem? Homem que não lhe sai do pensamento? Pois não fala dele. Conversa, com rodeios, sobre todas as coisas que, no fim, podem levá-la a ele. Ou melhor: que conseguem arrastá-lo a ela.

Garota de 15 anos pode falar do Robertinho, do Serginho, do Paulinho. Mas do Antoninho, do seu Antoninho, de quem, realmente, ela gosta, ah! Isso não. Por pudor? Qual o que. Menina de hoje não usa mais isso. Não fala no Antoninho, em conversa com as colegas, por uma razão muito simples de defesa. Defesa do seu bem. Está doido? As outras logo haveriam de tentar conquistá-lo.

Depois dessa idade, conversa de moça ainda é mais disfarçada. Pensando no homem, perde um tempo danado falando de modas, indo ao cabeleireiro, trocando novidades. Coisas que, na ideia delas, as embelezam, as tornam irresistíveis. Para a conquista do homem que, incongruentemente, nem chegam a citar.

Mulher casada, em suas conversas, vai de um exagero a outro. Na lua de mel, com os olhos em branco, endeusam quem? O marido? Não. O casamento. Pouco depois, o dicionário mais completo, com toda a coleção de nomes pouco bonitos, é insuficiente para xingar quem? O que? O casamento?

Não. Aí elas vão diretas: maldizem o marido. Essa coisa que Deus, numa hora pouco inspirada, criou e que só pensa em ganhar dinheiro, que não ganha dinheiro suficiente, que só olha para as outras mulheres, um ser incapaz de ser gentil, de consertar uma torneira, de tomar conta de um filho. Mas, sobre isso, só conversam num dia em que estão a ponto de estourar. É conversa válvula-de-pressão. Usada raramente. Sempre, depois, lamentada.

Mas do que mulher gosta mesmo de falar é sobre mulheres. Varam horas contando histórias que ouviram, fatos que viram. Dizem que mulher não tem muita imaginação. Pois sim. Um colar de pérolas que um marido ainda enamorado deu à esposa, ou que um marido exasperado teve que comprar para sua palradora e chatíssima Eva, é ponto de partida para tantas hipóteses quantas mulheres compõem o grupo. E, em todas essas conversas sobre mulheres, no fundo, quem ainda aparece como personagem invisível, é o homem.

Se conversa de homem é dinheiro e mulher, a de mulher é só homem. Do começo ao fim. Só que o personagem sempre aparece camuflado. É ou não é?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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