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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 32)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 1º de fevereiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Postos de salvamento

Lydia Federici

A organização e os métodos de trabalho dos bombeiros dos Postos de Salvamento estão em evidência. Já estamos até dando aulas. Isso, logicamente, muito nos orgulha.

Lembro-me do tempo em que começaram a surgir os primeiros postos. Santos ainda não era esta beleza incômoda de turismo que é hoje. Feliz ou infelizmente, dependendo do ponto de vista. As praias eram frequentadas aos domingos. E nos dias de férias. Tirando isso, tudo era calma. Quando muito, entre um canal e outro, contava-se meia dúzia de banhistas apressados.

Naquele tempo, os bombeiros enjoavam de tanto não ter o que fazer. Corriam os olhos pela praia limpa de gente. No mar sonolento, nenhuma cabecinha a boiar. Nem preta, nem loura. Que fazer se nada havia para fazer? Era inventar um jeito de passar o tempo.

Os guardas de um dos postos puseram seu espírito prático em ação. Tornaram-se, nas horas de folga, pescadores. Mais que isso: cozinheiros também. Iam, com o barco, lá para fora, atiravam o anzol, fisgavam uns peixinhos. Traziam-nos para a praia, limpavam-nos com capricho e, num canto do posto, dentro de uma frigideira preta, rebrilhante de óleo que borbulhava, preparavam seu almoço quente e dourado.

Deus! Como cheiravam bem aqueles peixinhos fritos. Que pitéu deviam ser.

Hoje, esses homens de calção vermelho muitas vezes nem chegam a almoçar. Têm que dar atenção às crianças que lhes cercam o Posto. Atendem aos pedidos de informação das mães nervosas. Não podem deixar de responder, com um "bom dia" efusivo e alegre, aos cumprimentos dos amigos que habitualmente comparecem à praia. Da areia úmida, com os olhos apertados, protegidos mal e mal pela pala dos bonés, varejam as águas mansas ou irrequietas, procurando descobrir o nadador afoito que luta, com desespero, para voltar à terra. Na barca dupla, ninada pelas ondas, estão sempre com as mãos calejadas grudadas aos remos, prontos para aviar, antes que seja tarde, que ali é perigoso nadar. Nas lanchas velozes, alertados pelo rádio, vão buscar um paulistano que, cansado, não mais consegue lutar contra a correnteza.

Já não dispõem de tempo para contar as histórias de quase morte. Que sua dedicação evitou que se consumassem. Todos seus minutos são minutos de trabalho. Horas de atenção permanente. Dias exaustivos. Nem sabem se no mar ainda há peixes.

Como tudo muda.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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