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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 31)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 31 de janeiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

O espanto do turista

Lydia Federici

O paulistano não perde muito de seu tempo vendo isso. Ele, de Santos, só quer areia e mar. Quanto mais, melhor. Mas o turista que vem de Campinas ou de Ribeirão Preto, depois de alguns dias de praia e de mar azul, acaba indo dar um giro pela cidade. Descobre, então, meio curado de seu complexo que, tirando o mar, isto não é nada melhor que a cidade de onde vem.

Se tem um carro, vai varando ruas. Ao léu. Passeia pelos bairros operários. Embica, por acaso, na zona residencial média. Com curiosidade, examina as avenidas e ruas arborizadas onde deve morar a família rica de Santos. Descobre algumas casas bonitas e modernas. Umas quase escondidas pelas outras. Nos poucos bangalôs, nos raros palacetes antigos, seus olhos, acostumados aos hectares de terra, espantam-se com a exiguidade dos jardins.

"Santista é doido. Não gosta de terra. Junta sua casa à do vizinho“.

É, meu amigo. O negócio não é bem esse. Gostamos de terra, sim. Mas que fazer se não temos chão?

Lá, de onde você veio, se der na veneta de sua senhora construir uma casa numa quadra toda, a solução é simples. É só chegar para fora da zona construída, escolher a quantidade de chão desejada, encher um cheque e pronto. Um parque imenso servirá de moldura, dará realce à casa de seus sonhos. Aqui não. Milhões não resolvem. Estamos numa ilha de limites determinados pela natureza. Aqui,nesta banda, vivemos nós. Do outro lado, os vicentinos.

É certo que, deste lado, ainda há terrenos. Do alto do Monte Serrate, descobrem-se algumas manchas verdes logo ali embaixo, perto da Santa Casa. Na Ponta da Praia também. Mas é só. O resto é só telhado. Ou terraço de arranha-céu.

Não gostamos de terra? Não apreciamos jardins? Somos doidos?

Pois sim! É claro que, podendo, preferiríamos ter isso tudo. Mas como, cada vez mais, o problema do chão aumenta, que podemos fazer? É ter, na área de serviço, um vaso com um antúrio sofredor, cuja terra, nas horas em que a saudade bater forte, a gente, com unção, acariciará.

É, Braz Cubas, como Martim Afonso, apaixonou-se por esta ilha. Tiveram gosto, sem dúvida. Só que não puderam prever isso que aqui está. Mas que importa não termos mais chão para enfeitar de verde? Nosso mar, às vezes cor de esmeralda, satisfaz-nos bem. E, apesar de espremido, quem sai daqui?


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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