GENTE E COISAS DA CIDADE Banho de óleo
Lydia Federici
Quem chega e vê o semicírculo de 5 quilômetros da praia de Santos pensa que, de uma ponta à outra, é tudo a mesma beleza.
Concordo. Que é uma beleza, é. Mas a mesma beleza, uma beleza igual, isso não. A avenida é sinuosa. Há os trechos de jardim mais caprichados. A areia ensolarada é que é toda igual. Mas o mar que se espreguiça na Ponta da Praia é muito diferente do
que canta no Gonzaga. Ou daquele que murmura, resmunguento, contra as pedras baixas e limpas da Ilha Urubuqueçaba.
Para os que vem de fora, essas diferenças não existem. Seus olhos ávidos buscam, indiferentemente, qualquer pedaço de areia brilhante. Basta-lhes que o mar esteja logo ali, a uma pernada,não mais.
Por que, então, preferem o Gonzaga? Simples de explicar. É o ponto central e conhecido. É a praia onde seus avós, seus pais, trocavam de roupa, nas cabines que – imitação tosca de balneários – se estendiam da Ana Costa ao canal 2. Procuram o
Gonzaga porque é no Gonzaga que eles sempre ouvem falar.
E por que os grupos grandes vão para o José Menino? Para a festa coletiva? Simples também. Ali, há lugar para estacionar os ônibus fretados. Os restaurantes baratos, que havia no meio da praia,
facilitando-lhes tudo, eram, para sua ânsia de liberdade, muito convenientes. Camaradas como eles só. E havia, também, como ainda há, convenhamos, aquele bico de praia com aquela ilha danada de bonita. Que eles sempre tentam alcançar. Dando,
depois, trabalho aos bombeiros do Posto 1.
O santista, no entanto, sabe que, de um trecho a outro, de um lado de canal a outro, a praia tem suas peculiaridades. Mande-se um broto do Gonzaga ao Embaré para ver o que acontece. Ou um guapo do Boqueirão à praia do José Menino. É um domingo
perdido. Inutilizado. Estragado desde a manhã.
Quem gosta de mar sossegado, quase parado como um lago, tem de ir buscá-lo na Ponta da Praia. Mar batido, cheio de ondas, é o que fica diante da entrada livre da barra. Ali, no sempre inocente mar de Santos, se consegue, às vezes, ter impressão de
perigo. Descobre-se a força do mar. Isso, qualquer santista sabe. Porque conhece a praia e o mar.
Mas uma coisa que, neste domingo, nem santista pôde descobrir, foi que o mar, em certas zonas, não era o mar amigo de sempre. Daí o resmungo e as pragas contra a sujeira do óleo. Pra que jogam óleo no mar. Que coisa!
Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal
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