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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 30)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 30 de janeiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Banho de óleo

Lydia Federici

Quem chega e vê o semicírculo de 5 quilômetros da praia de Santos pensa que, de uma ponta à outra, é tudo a mesma beleza. Concordo. Que é uma beleza, é. Mas a mesma beleza, uma beleza igual, isso não. A avenida é sinuosa. Há os trechos de jardim mais caprichados. A areia ensolarada é que é toda igual. Mas o mar que se espreguiça na Ponta da Praia é muito diferente do que canta no Gonzaga. Ou daquele que murmura, resmunguento, contra as pedras baixas e limpas da Ilha Urubuqueçaba.

Para os que vem de fora, essas diferenças não existem. Seus olhos ávidos buscam, indiferentemente, qualquer pedaço de areia brilhante. Basta-lhes que o mar esteja logo ali, a uma pernada,não mais.

Por que, então, preferem o Gonzaga? Simples de explicar. É o ponto central e conhecido. É a praia onde seus avós, seus pais, trocavam de roupa, nas cabines que – imitação tosca de balneários – se estendiam da Ana Costa ao canal 2. Procuram o Gonzaga porque é no Gonzaga que eles sempre ouvem falar.

E por que os grupos grandes vão para o José Menino? Para a festa coletiva? Simples também. Ali, há lugar para estacionar os ônibus fretados. Os restaurantes baratos, que havia no meio da praia, facilitando-lhes tudo, eram, para sua ânsia de liberdade, muito convenientes. Camaradas como eles só. E havia, também, como ainda há, convenhamos, aquele bico de praia com aquela ilha danada de bonita. Que eles sempre tentam alcançar. Dando, depois, trabalho aos bombeiros do Posto 1.

O santista, no entanto, sabe que, de um trecho a outro, de um lado de canal a outro, a praia tem suas peculiaridades. Mande-se um broto do Gonzaga ao Embaré para ver o que acontece. Ou um guapo do Boqueirão à praia do José Menino. É um domingo perdido. Inutilizado. Estragado desde a manhã.

Quem gosta de mar sossegado, quase parado como um lago, tem de ir buscá-lo na Ponta da Praia. Mar batido, cheio de ondas, é o que fica diante da entrada livre da barra. Ali, no sempre inocente mar de Santos, se consegue, às vezes, ter impressão de perigo. Descobre-se a força do mar. Isso, qualquer santista sabe. Porque conhece a praia e o mar.

Mas uma coisa que, neste domingo, nem santista pôde descobrir, foi que o mar, em certas zonas, não era o mar amigo de sempre. Daí o resmungo e as pragas contra a sujeira do óleo. Pra que jogam óleo no mar. Que coisa!


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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