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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 20)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 18 de janeiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Progresso

Lydia Federici

Progresso? Uhn.

As mães das moças de hoje, ou melhor, as cozinheiras das mães das moças de hoje, não tinham esse trabalho.

A japonesa vinha com o tabuleiro carregado de verduras e legumes e batia de porta em porta, pela manhã. Era só chegar até o portão, ajudá-la a arrear o tabuleiro – como é que uma nanica daquelas aguentava tal peso na cabeça? -, escolher à vontade, ganhar um belo maço de cheiro verde, e pronto. Todo dia, vitaminas garantidas, frescas, recém-fabricadas pela terra adubada das chácaras da cidade.

Mas veio a segunda grande guerra. Mandaram os japoneses para o interior. Adeus chácaras e chicórias frescas. Verdura só na quitanda ou no mercado. Vinda de cima da serra, com saudades da terra. Foi uma época feia e triste por um mundo de razões importantes. Inclusive essa, sem importância nenhuma mas que dava para amolar.

Quando a guerra acabou, nada voltou a ser como era. Começou, então, o verdadeiro e desesperançado penar das donas de casa. A ida obrigatória à feira. Sim. Porque quando os japoneses voltaram, vieram diferentes. Armaram bancas nas feiras semanais de cada bairro. Nada de correr de casa em casa, dia após dia. Adeus, facilidades.

Hoje, família que se preze manda, uma vez por semana, um representante seu à feira. Se fora a empregada, que sorte. Sorte dupla: de ter empregada, uma. Duas: de ter empregada que vá às compras, coisa mais rara ainda. Se for o dono da casa – há os abnegados que fazem isso, sim – a alegria também é dupla: pertence à dona da casa e aos feirantes. Principalmente aos feirantes. Homem não conhecem nem perde tempo escolhendo tomate ou brócolis. Leva qualquer coisa, pouco ligando para os preços. Mas há uma dificuldade. É preciso tomar todo o cuidado com a soma, que, pra conta, homem é rápido e danado de bom.

Mas como há falta de empregadas e de maridos solícitos e prestativos, quem tem que ir à feira é a própria dona de casa. Vai renegando, mas vai. E acaba gostando, quando chega a compreender que ali é o lugar ideal para reuniões e comícios. Fazem, na feira, o que fazem os homens nos bares da Rui Barbosa e da Praça Mauá: metem a lenha no governo, resolvem a situação do país. E do mundo todo.

Progresso é isso. Atrapalha de um lado, desatrapalha de outro. Diverte sempre.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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