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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 16)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 13 de janeiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Apartamento

Lydia Federici

A moça tocou a campainha do apartamento, experimentou o trinco – aberto – e entrou.

"Dona Sinhá, sou eu. Não se incomode. Já estou subindo".

"Ih. Isto está tudo revirado… Cuidado com as pernas. Estou no quarto".

A moça passou pelo 'living', pulando uma gaveta atravessada no caminho. Na porta do quarto, estacou. Trepada na cama, que estava encostada no armário, dona Sinhá, com uma pilha de cobertores nos braços erguidos, procurava encaixá-los na divisão superior do embutido. Com um sorriso desanimado, olhou para a amiga, dobrando a cabeça por entre os braços para poder cumprimentá-la.

"Desça daí que eu arrumo isso para a senhora". Agarrou a pilha dos cobertores, largou-a sobre a cama, ajudou a amiga a descer, arrumando os chinelos a jeito Beijaram-se com carinho. "Mas logo com um calor destes a senhora inventa de fazer arrumação? E sozinha, por cima. Onde estão as meninas?" Reparando no quarto revolucionado: "É arrumação ou mudança?"

"Nem uma coisa, nem outra. Como dispunha de 5 minutos, resolvi juntar a coleção de peixes da Cleide, que estava espalhada por todos os lados. Achei que ficariam bem sobre o armário da cozinha. E ficaram. Só que a ideia deu nisto. Tive que remexer em tudo". Deu uma risada gostosa, enxugando, com um lencinho bordado, o suor da fronte.

A moça sorriu. Como é que um armário na cozinha podia ter começado aquela revolução? Sentaram-se à beira da cama. A história foi longa. Para arrumar toda a coleção de peixes de porcelana sobre o armário da cozinha, as bandejas tiveram que ceder seu lugar. Para guardar as bandejas, numa gaveta, não havia espaço. Só tirando a caixa dos talheres. A caixa saiu da gaveta da cozinha e foi para a gaveta do bufê, na sala. Sobrou pilha de livros e cadernos de receitas. Bem arrumados, eles podiam ficar na estante. Para arrumar um vão na estante, só tirando as três caixas de riscos de bordados. E agora? Era enfiá-las no armário do quarto. Mas, para guardar os riscos num lugar acessível, só desalojando as caixas dos sapatos. Que subiram para a divisão do meio onde estavam os cobertores. Os cobertores iam lá para cima. Para o lugar da mala. A mala iria para o banheiro da empregada, com ou sem lugar. Já chegava de bagunça.

Meia hora depois, tudo mais ou menos ajeitado, a moça agarrou no telefone. "É do escritório de imóveis? É o Cláudio? Boa tarde. É Chiquita. Escute. Já resolvi o negócio. Agradeço a oferta. É ótima, realmente. Mas não vou vender minha casa, não".


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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