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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (4 - crônica 12)

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Clique na imagem para voltar ao índice desta seçãoEm mais de três décadas de atuação diária, Lydia Federici publicou milhares de crônicas no jornal santista A Tribuna. A Hemeroteca Pública Municipal de Santos criou um Espaço Lydia Federici, onde estão expostos desde sua máquina de escrever até os troféus desportivos, bem como os organizados álbuns de recortes reunindo todos os seus textos publicados. Esta crônica foi publicada em 9 de janeiro de 1962 em A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):
 
GENTE E COISAS DA CIDADE

Praias de Santos

Lydia Federici

Há coisa de dez anos atrás, quando alguém de Santos pegava uma revista que estampasse, num prodígio de cores, uma fotografia de praia de fora, que acontecia? Tínhamos, para o resto do dia, um santista doente. Doente de pena. Doente de raiva. Doente de inveja. Aquilo sim é que era praia. Aquilo sim é que era vida de praia.

Biarritz, por exemplo. Biarritz fria e ventosa. Mas onde se viam nobres ingleses sentados em cadeiras coloridas, nos gramados muito verdes das mansões, um copo de uísque a suar contra um sol pálido. Ou então o "Lido", de Veneza, com a parede de 5 andares cheia de olhos nas dezenas de grandes e encocorecados hotéis. Praia ardente de gente tostada, onde americanos descobriram, assombrados, queixos caídos, a exuberância saudável e morna da mulher italiana. Isso existia por aqui?

Praias da "Riviera" italiana. E francesa, com belvederes sobre rochas que mergulham nomar. Onde se trituram, olhos em branco, "calamaretti" dourados. Praias amarelas, pedregosos, com banho de sol tomado nas cobertas de iates, lanchas e barcas. Que vogam, bêbadas de música e de alegria, por baías azuis e tranquilas. Onde disso por aqui?

Praias americanas da Flórida. Miami Beach. Palm Beach. Com piscinas, mulheres magras de "bikini", coqueiros, milionários de dólares. Waikiki perfumada e romântica, com duas mil variedades de hibiscus e muitos milhares mais de havaianas rebolantes. Praias vertiginosas da Austrália, com corredores-de-onda atrevidos e corajosos. Sim. Mas só por lá.

Mar del Plata dos cassinos, de mar frio e revoltado que se atira sobre 800 mil turistas encurralados na praia extensa mas estreita. Pocitos uruguaia, rica e desrecalcada. E aqui?

Até as fotos repetidas mas sempre novas da universal Copacabana deixavam o santista a perguntar-se: "Que tem ela de mais?" Seria a carne morena das mais belas mulatas do mundo? O paredão de arranha-céus? O perfume das belezas do Arpoador?

Sim. Até há pouco tempo a visão colorida das praias de lá deixava o santista chocho, infeliz, complexado, sonhador, irado.

Mas isso passou. É certo que ainda sonhamos com as praias e bares das artistas de Cannes. Ainda nos danamos pelas "nombrilletes" de Saint-Tropez. Ou pelos modelos – "mama mia" – que lançam as modas praieiras de Capri.

Mas as praias de Santos aí estão. São praias de verdade. Oferecendo vida de praia de verdade.


Imagem: reprodução do álbum de recortes de Lydia Federici, no acervo da Hemeroteca Municipal

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