Cubatão e a jornada da Independência
Dentro do processo da Independência política do Brasil, estão as viagens que D. Pedro realizou pelas
províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e S. Paulo. A última é particularmente célebre devido ao Grito do Ipiranga, momento decisivo da
Independência.
BARREIROS, Eduardo Canabrava. Itinerário da Independência. Coleção
Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1972, p. 131/136.
"Após a chegada do Príncipe Regente à cidade de São
Paulo, o que se deu a 25 de agosto, e decorridos dez dias de atividades políticas intensas, seguiria ele para a vila de Santos conforme se pode ver:
"...a 5 de setembro, dirigiu-se para Santos, acompanhado pelo mesmo séquito com que
chegou à capital, e mais o Brigadeiro Jordão".
E em outra fonte, referindo-se ao mesmo acontecimento:
"A 5 de setembro dirigiu-se com o séquito com que viera
da côrte, e mais os brigadeiros Manuel Rodrigues Jordão, o capitão-mor Manuel Marcondes de Oliveira e Melo, ao depois Barão de Pindamonhangaba, e o
padre Belchior Pinheiro, de Minas, à praça de Santos".
Corroborando as duas fontes citadas, vamos registrar mais este informe:
"No dia 5 de setembro o príncipe partiu para Santos em visita à família Andrada".
Voltemos entretanto ao roteirista que acompanhamos desde a Côrte, o major Francisco de
Castro Canto e Melo, para que mencione um detalhe da viagem a Santos:
"Chegando ao Cubatão, ordenou-me S.A. que voltasse, conduzindo ofícios que deveriam
ser, quanto antes, remetidos ao Ministro do Reino".
Diz J. J. Machado d'Oliveira que D. Pedro foi...
"...à praça de Santos, a fim de examinar o estado das fortificações, e visitar a
família de seu amigo paulista José Bonifácio de Andrada, onde esteve o dia 6, e na madrugada do dia 7 partiu para a capital
(..). Realizada a viagem, e tendo-se apenas demorado um dia em Santos, pôs-se de novo a caminho
para a cidade de São Paulo, na madrugada de 7 de setembro".
Em outras fontes vamos também encontrar referências à partida de D. Pedro da Vila de
Santos: "Na madrugada de 7 de setembro partiu D. Pedro de Santos para esta capital, São Paulo".
"... ali em Santos esteve o dia 6, e, no dia 7, ao alvorecer, regressou para a Capital".
Mas, antes de abandonar a vila de Santos, convém relembrar que esta localidade foi uma
das primeiras de nossa costa marítima, sendo fundada antes mesmo de completar-se meio século de existência do Brasil.
Desta vila seguiria D. Pedro, e seu séquito, pelo tortuoso caminho que na baixada
cruzava ilhas fluviais, córregos, rios e ribeirões, até alcançar o povoado do Cubatão. Primitivo Porto de Santa Cruz, às margens do rio Cubatão,
próximo ao sopé da serra de Paranapiacaba, por onde se subia ao planalto.
O Manuscrito de Évora assim se refere ao local:
"...de Santos embarca-se em canoas, e se vai pousar ao pé da Serra do Cubatão". Da mesma época é a Jornada do Conde
de Assumar, isto é, 1717, e em relação ao mesmo local diz o seguinte: "Pela manhã tivemos aviso da Câmara da Cidade
de São Paulo de termos mandado o comboy a uma paragem chamada a Cubatão".
Pelo registro dos antigos viajantes, o presente trecho de caminho, do povoado do
Cubatão ao planalto, era dos mais penosos, como se pode ver ainda da mesma Jornada do Conde de Assumar: "A
marcha foi tirana, não somente pela aspereza de Paranapiacaba que assim se chama a serra, que logo que saímos pela manhã começamos a subir, quanto
por estar chovendo todo o dia, e pelos grandes lameiros, que acabada a serra encontramos, e tão infames, que nenhum da comitiva deixou de cair
neles" - e mais adiante: "Marchamos pela manhã e experimentamos ainda uma légua de mau
caminho, porém depois saímos a uma campina muito espaçosa que se perdia de vista".
O Manuscrito de Évora, como o anterior, dos princípios do século XVIII, também
se refere a este trecho de caminho: "Caminho para as Minas partindo de Santos. Embarca-se em canoa, e se vai pousar ao
pé da Serra do Cubatão, pela manhã se sobe a serra a qual hoje está capaz de se subir a cavalo, exceto em dois ou três passos onde se apeiam os que
não querem ver em perigo; porque para qualquer parte para onde escorregue se precipita infalivelmente. Em pouco mais de três horas se vence a
iminência daquela serra, da qual se vê o mar, e a planície da terra comunicada de transparentes águas de infinitos rios que servem para a vista de
agradável e lisonjeiro objeto; a esta e sua cordilheira deram os íncolas primeiros o nome de Paranapiacaba, que significa na língua Geral do
Brasil: lugar onde se vê o mar".
Não é sem razão que os membros da Câmara Municipal de São Paulo subscreveram o ofício
de 22 de setembro de 1790, dirigido ao então governador da província, D. Bernardo José de Lorena, e no qual além dos excessos louvaminheiros,
agradecem as providências tomadas em relação a essa famosa estrada. O dito governador havia "mandado fazer importantes
reparos na estrada de São Paulo a Santos, principalmente na descida da serra do Cubatão, facilitando assim o trânsito entre a costa e o interior e
beneficiando o comércio".
Nosso Príncipe Regente teria transitado com menos esforço e sacrifício, nesse trecho
chamado de tirano pelo escriba da Jornada do Conde de Assumar, graças à iniciativa do governador que legaria seu nome a esse caminho,
durante muitos anos conhecido como Calçada do Lorena.
Galgando a serra, surgiria a pousada de Zanzalá, citada por J.J. von Tschudi, em 1860.
Seria mais antigo ainda, esse local? ... A Jornada do Conde de Assumar, de 1717, faz referência a uma pousada após subir a serra, que bem
poderia ser, pela posição, o ponto depois denominado Zanzalá.
Nota complementar:
D. Pedro passou depois por Rio Pequeno, Rio Grande, São Bernardo. Perto de um rancho
de tropeiros, conhecido hoje como a Casa do Grito, atingiu o alto da Colina do Ipiranga, cenário máximo da proclamação da Independência. |