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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Chá evitou a Independência em Cubatão (1)

Não foi de folhas de goiabeira, como se pensava. E, segundo a lenda, o príncipe louvou a beleza de Maria do Couto

Este relato foi assim transmitido a Novo Milênio pelo professor Marildo Passerani, de Cubatão:

A Independência quase foi aqui

Marildo Passerani

Apesar de ser redundante, vamos contar mais uma vez essa passagem, procurando informações em novas fontes e na cultura oral da Cidade. Tal fato também é contado, em outra versão, pelo professor Claudir Domingues Graça, da escola Lorena.

Conta José Roberto Torero, em seu livro Chalaça, que o príncipe D. Pedro esteve em Santos no final do mês de agosto de 1822, vindo de São Paulo, para verificar o estado das fortalezas da cidade e para visitar os parentes do ministro José Bonifácio. Essa versão merece crédito, pois é contada pela professora Wilma Therezinha de Andrade, da Unisantos.


Antiga Rua Direita  no início do século XX, vendo-se ao fundo parte da Igreja Matriz de Santos
Imagem: acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa

Ela salienta que o príncipe chegou a Santos de barco, vindo do Cubatão, desembarcando onde hoje é a Avenida Gaffrée e Guinle, no Valongo. Dali, ele desceu o Beco do Inferno (atual Rua Frei Gaspar), chegou aos Quatro Cantos e seguiu pela Rua Direita (atual XV de Novembro) em direção à Matriz de Santos, onde foi rezar; sabemos que a família de José Bonifácio residiu na Rua Santo Antonio (inclusive há indicações da casa onde o ministro nasceu e a casa onde residia a família), onde o príncipe ficou alojado.

Torero conta que no dia 6 de setembro foi servida uma costela de porco apimentada, que fez com que a comitiva amanhecesse padecendo de distúrbios intestinais e, por isso, apressou a volta para a capital.

Aqui entra a versão local: chegando a Cubatão, o príncipe foi obrigado a parar num dos ranchos do atual Largo do Sapo, onde foi tratado com um chá de folha de goiaba, considerado na medicina popular como antidiarréico; quem lhe prepara tal poção é uma jovem cubatense, Maria do Couto, que chama a atenção do príncipe por sua formosura; apesar de casada, o príncipe não se constrange em louvar-lhe a beleza...

Passada a fase aguda do distúrbio, o príncipe se põe a subir a Calçada do Lorena, sendo alcançado pelo mensageiro real na colina do Ipiranga.

Agora fica a pergunta: se não fosse o chá de Maria do Couto, onde o mensageiro encontraria D. Pedro?

No dia 7 de setembro de 2004, o jornal A Tribuna de Santos publicou, na seção Ponto de Vista, este artigo:

O chá que mudou a história

Paulo Mota (*)
Colaborador

Diz a história que D. Pedro I, indo da Baixada Santista a São Paulo, onde proclamou a Independência, fez o que todo mundo fazia naquele tipo de viagem: parou em Cubatão, no antigo Largo do Sapo, às margens do Rio Cubatão (perto de onde hoje está uma indústria de estireno), para trocar montarias e descansar.

Enquanto isso, vindo do Rio de Janeiro, um mensageiro trazia aviso do conselheiro imperial, José Bonifácio, de que as cortes portuguesas queriam que o imperador voltasse para a Europa.

Já ao chegar em Cubatão, D. Pedro sentia-se mal, em decorrência possivelmente de algo estragado que comera em Santos. A indisposição não era pequena e tudo indicava que ela o faria ficar mais do que as 24 horas habituais dos viajantes no Largo do Sapo. Para sermos mais claros: sua majestade estava com diarréia.

Entra em cena, então, dona Maria do Couto, a mulher que cuidava da estalagem. Serviu ao imperador um chá de folhas de goiabeira, utilíssimo em tais emergências, por suas propriedades, digamos assim, retentoras.

O resto é o que se sabe: D. Pedro ficou bom, subiu a serra no prazo previsto e o mensageiro imperial, vindo do Rio, ao invés de encontrá-lo às margens do Cubatão, encontrou-o às margens do Ipiranga, onde foi dado o famoso grito.

Isso tudo está sendo lembrado no espetáculo Caminhos da Independência, apoiado pela Prefeitura e encenado pelo grupo Teatro do Kaos, em cartaz nestes dias em que se comemora a Semana da Pátria.

Mas a gente sempre se pergunta: o que teria ocorrido se dona Maria do Couto não acudisse D. Pedro com o providencial chá de folhas de goiabeira? Não é exagero dizer que haveria mudanças na história. A independência seria proclamada em Cubatão, o que, para começo de conversa, já mudaria a letra do Hino Nacional. O quadro do Pedro Américo, hoje no Museu da Independência, no Ipiranga, teria outro cenário de fundo. Aliás, o próprio Museu do Ipiranga não existiria (provavelmente seria construído ali no lugar da atual fábrica de estireno). Pensando bem: o parque industrial não seria instalado. Afinal, aqui seria implantado o complexo turístico histórico semelhante ao existente hoje no planalto paulista.

Quase com certeza, Cubatão continuaria sendo um bairro de Santos, que o colocaria, ao lado das praias e dos golfinhos do aquário, entre suas atrações turísticas. E sabe o que mais? Nem este artigo teria sido escrito. O que não é capaz de fazer um chá de folha de goiabeira.

(*) Paulo Mota é jornalista.

Convite para o espetáculo Caminhos da Independência, na terceira edição (2004)

A história do chá é relatada de outra forma pelo tataraneto de Maria do Couto, o professor universitário Joaquim Miguel Couto. Ele aliás herdou o nome do bisavô, que foi irmão de leite do imperador D. Pedro II:

O chá de D. Pedro

Em relação ao artigo "O chá que mudou a história", do jornalista Paulo Mota, publicado na edição de 7 de setembro, tenho que fazer uma correção.

O que foi dado a D. Pedro por Maria do Couto, na manhã do dia 7 de setembro de 1822, em nossa casa, situada no Porto Geral de Cubatão, não foi um 'chá de folhas de goiabeira', mas sim uma mistura de água com farinha de mandioca, adoçada com açúcar. Não se sabe se a mistura deu certo, pois D. Pedro não esperou os efeitos, partindo logo em seguida.

O que se sabe, no entanto, é que D. Pedro não subiu a serra no lombo de uma mula. D. Pedro saiu do Porto Geral de Cubatão, em direção à Calçada do Lorena, montado em seu cavalo, e dessa forma subiu a Serra do Mar, como aliás faziam quase todos os viajantes da época.

Prof Joaquim Miguel Couto

Ilustração de Padrón, publicada com o texto

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Veja mais:
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Chá evitou a Independência em Cubatão (2)

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