A Procissão dos Mortos
Marildo Passerani
A história original foi contada por Antonio Isidoro Trombino;
outra versão foi contada por seu filho, Setímio Fernando Trombino.
Vamos contar agora uma história que tem duas versões: a
da Procissão dos Mortos.
Conta-se que em noites escuras, com a descida da neblina, um caminhante desavisado lá
nos finais da Avenida Nove de Abril, perto do Cruzeiro Quinhentista, via a Procissão dos Mortos,
mudando-se do cemitério velho para o novo. Em fila, os fantasmas saíam de suas campas na área agora ocupada pela Refinaria,
e seguiam pela avenida até o cemitério novo, no Sítio Cafezal.
Na realidade, sabe-se que essa lenda nasceu de um fato verídico: em 1953, quando a
Petrobrás apontou a área do Cemitério de Cubatão, entre o Caminho do Mar e a
Calçada do Lorena, como a melhor localização para sua refinaria de petróleo, a Prefeitura adquiriu outro terreno, no
antigo sítio Cafezal, para estabelecer seu cemitério; a antiga área fora destinada como campo santo, ainda pela Prefeitura de Santos, em 1902
(conforme documentos em posse do Arquivo Histórico), e o cemitério ali permanecia, até ser perturbado pelo progresso.
Com a desapropriação do cemitério, houve a necessidade de exumar e identificar os
corpos; relatos de antigos moradores dão conta de que essa foi uma tarefa extremamente desagradável e até horripilante: muitos corpos estavam
semi-decompostos, muitos precisaram ser desmembrados com golpes de machadinha, para caberem nas urnas; o povo assistiu à saída dos caixões em
caminhão aberto, e essas cenas ficaram na imaginação popular, criando o mito da Procissão dos Mortos. |