Martinho Prado Uchôa
1960
6 de janeiro - General Macedo Soares parte para Europa.
13 de janeiro - Viagem a Itapeva para conhecer a jazida de dolomita adquirida
pela Cosipa.
25 de fevereiro- Contrato assinado com o BNDE. Muitos atrasos.
2 de março - O general muda-se para São Paulo.
13 de março - Minha partida e do engenheiro José Pinheiro para a Europa a fim
de verificarmos o andamento dos projetos e encomendas.
24 de abril - Regressando ao Brasil, Pinheiro relata o estado dos trabalhos de
Delattre, Stein Roubaix, Schneider, Heurtey, Allis Chalmers, Schloemann, Bliss Henschel, Ferrostal, GHH, L.D. Linz Donawitz, Creusot, Cornigliano,
escritório Potenza e Port Talbot, na Inglaterra.
30 de maio - Visita a Volta Redonda com Knall, Barros Pinto e Hart.
24 de agosto - Volto a Europa e me encontro com Nogueira para acelerarmos o
andamento de projetos de estruturas, entre outros. O engenheiro Carlos Antonio Nogueira Filho, calculista da CSN, responsável pelo maior contingente
das estruturas metálicas da primeira fase, havia redimensionado, para perfis europeus, os edifícios da laminação, inicialmente calculados para
perfis norte-americanos.
Greves nos Estados Unidos haviam obrigado a um rápido deslocamento da fabricação para
especialistas do Brasil (FEM), da Alemanha e da França. A urgência, que afinal foi conseguida, para os edifícios da laminação, vinculava-se à
necessidade de tê-los montados, com suas respectivas pontes-rolantes, para promover o abrigo e as facilidades de manuseio, adequados à montagem dos
demais equipamentos.
22 de outubro - Regresso para São Paulo. Decreto 48.323 autoriza a Cosipa a
funcionar como empresa de mineração.
26 de outubro - Decreto 49.143 declara a Cosipa empresa civil, considerada de
interesse militar.
1961
27 de janeiro - United States Steel (USS) compra 75 mil ações.
31 de janeiro - Posse de Jânio Quadros na Presidência da República.
9 de fevereiro - Jacobsen, representante da USS, propõe envio de técnico para a
construção.
23 de fevereiro - Eu proponho - e a diretoria inicia gestões junto ao governo
federal - a ligação ferroviária Mogi-Ribeirão Pires, evitando a passagem de trens de minério de Minas por São Paulo.
7 de março - Haenel pede demissão do cargo de superintendente, que vinha
ocupando desde 28 de outubro de 1960.
28 de abril - Assembléia Geral Ordinária sustada.
5 de maio - Última reunião de diretoria comigo, Quartin, Haenel, Macedo e
Caetano.
9 de maio - Eleita nova diretoria. Sou substituído.
18 de maio - Transmissão da presidência. Francisco de Paula Vicente de Azevedo,
novo presidente.
30 de maio - Visita a Volta Redonda com Knall, Barros Pinto e Hart para
verificar andamento dos trabalhos da Cosipa.
4 de julho - Elevado o capital social da Cosipa, de Cr$ 2 bilhões para Cr$ 12
bilhões. O BNDE se dispõe a tomar em underwriting as ações ordinárias que não encontrassem tomadores particulares, o que foi feito conforme
deliberação de seu Conselho de 22 de janeiro de 1962. Até a assinatura deste contrato de financiamento, o BNDE forneceu à Cosipa, por conta de sua
participação no capital social, adiantamentos que totalizaram Cr$ 5,02 bilhões. No inícoo de 1961, o Banco do Estado de São Paulo concedeu à Cosipa
adiantamento de Cr$ 300 milhões, estabelecendo-se que o reembolso desse adiantamento se processaria gradativamente, na base de Cr$ 50 milhões para
cada chamada, para integralização das ações que viessem a ser subscritas. O Banco do Estado de São Paulo em muito colaborou, antecipando a
subscrição de capital underwriting de alguns acionistas privados. O BNDE também, relativamente às suas ações e às da União.
25 de agosto - Renúncia de Jânio.
25 de outubro - Caso da United States Steel. General Macedo, regressando dos
Estados Unidos, informa que a USS, que já possuía 20 milhões de ações, estava interessada em participar do capital. A USS fez a seguinte proposta:
a) inicialmente, subscreveria todo o saldo disponível de ações em underwriting. No próximo aumento de capital subscreveriam o que fosse
permitido (10% ou 20%, ou mais) mas não queriam a maioria, pois conheciam as tendências nacionalistas da América. A Cosipa fixou em 30%; b)
promoveriam o treinamento do pessoal para entrada em operação; c) forneceriam os técnicos necessários para auxiliar no projeto e construção da
usina; d) financiariam o fornecimento de lingotes para o início das operações; e) em contrapartida, exigiam a indicação de um membro entre os cinco
que compõem a diretoria.
A proposta mereceu aprovação unânime da diretoria em Reunião de Diretoria de
28/10/1961, do Conselho em 16/12/1961, tendo sido encaminhada ao BNDE, cujo presidente, Faria Lima, não deu resposta.
agosto/outubro - O BNDE fixou adiantamento de Cr$ 9,3 bilhões, sendo Cr$ 4
bilhões de empréstimo e o restante como participação no futuro aumento de capital. Previsão da parte da União no aumento de capital de Cr$ 500
milhões para Cr$ 2,5 bilhões, além dos Cr$ 300 milhões já investidos de acordo com a Lei nº 4.469.
A Cosipa defrontou-se com a necessidade de ultimar os entendimentos entabulados e as
providências programadas quanto à situação financeira, bem como de dar ao desenvolvimento das obras o ritmo indispensável que, pelas dificuldades
conhecidas, não pudera até então ser alcançado.
Sob o aspecto econômico-financeiro, o ano de 1961 foi marcado por dois acontecimentos
de fundamental importância para os interesses da Cosipa: a reforma cambial, consubstanciada nas instruções 204 e 208 da Sumoc, e a concretização do
amparo financeiro do BNDE através da reforma dos estatutos sociais, com o aumento de capital de Cr$ 2 bilhões para Cr$ 12 bilhões e da contratação
do financiamento de Cr$ 4 bilhões.
A abolição do chamado câmbio de custo de Cr$ 100/dólar e o encarecimento exagerado nos
preços da construção civil impuseram ao orçamento, em junho de 1960, cerca de Cr$ 30 bilhões. O novo orçamento, pronto em agosto de 1961, alcançou o
total de Cr$ 74,7 bilhões. Apesar da enorme elevação do orçamento, o BNDE deu continuidade ao programa traçado, inclusive, do suprimento dos fundos,
a despeito de se achar virtualmente subvertido o esquema financeiro fixado para o empreendimento.
6 de dezembro - Promulgada a Lei nº 3.993 que concedeu à Cosipa, assim como à
Usiminas e à Ferro e Aço de Vitória, isenção, por cinco anos, dos impostos de importação, consumo, taxa de despacho aduaneiro, taxa de melhoramento
dos portos, taxa de renovação da marinha mercante, imposto federal do selo.
27 de dezembro de 1961 - USS desinteressou-se, devido à mudança de governo dos
Estados Unidos e Brasil.
1962
Nesse ano, a Cosipa entrou sob regime de crédito aberto pelo BNDE, em virtude do
contrato de financiamento assinado em 12 de setembro de 1961, cujos recursos - somados aos de outras fontes, como o aumento do capital social -,
arrecadados pontualmente nas épocas determinadas, constituíam os suprimentos indispensáveis para as obras.
Muito antes do esgotamento desses recursos, ou seja, em novembro de 1961, foi
solicitado ao BNDE o estudo de um outro contrato de financiamento, da ordem de Cr$ 19 bilhões, destinado à continuação dos trabalhos de acordo com
um novo cronograma acompanhado daquele pedido; o assunto, porém, quase um ano depois, foi praticamente encerrado com o adiamento, por parte do BNDE,
em 17 de outubro de 1962, da concretização do contrato de financiamento, criando-se com isso uma situação de extrema gravidade para a Cosipa que,
aliás, desde junho vinha se mantendo de adiantamento, precário e insuficiente e assim mesmo proporcionado pelo BNDE, graças ao esforço do seu
presidente, Leocádio Antunes.
Foi nessa ocasião que, ausente do País o presidente do BNDE, a diretoria da Cosipa
recorreu ao ministro da Fazenda, Miguel Calmon, que em 9 de novembro não só concedeu um suprimento de Cr$ 1 bilhão, como obteve recomendação do
Conselho de Ministros do Banco do Brasil para que celebrasse com a empresa uma operação no montante de Cr$ 8 bilhões para fazer os pagamentos dos
atrasados que vinham desde agosto, e das contas a vencer até 31 de dezembro.
Situação da Cosipa - Estudo este apreciado pelo ministro da Indústria e
Comércio, que serviu de base à resolução do Conselho de Ministros de 11 de janeiro de 1963, determinando providências para assegurar o financiamento
integral do projeto.
Esta importante resolução teve em vista o novo orçamento, organizado para a primeira
etapa, de 500 mil t e no montante de Cr$ 100 bilhões, e incluiu recomendação expressa para que o BNDE atribuísse prioridade ao estudo do projeto de
ampliação da usina, para a segunda etapa, de 800 mil t de aço em lingotes por ano.
Na inauguração do canteiro de obras, em 1959, o presidente da Cosipa, Teodoro Quartim
Barbosa, em seu discurso de saudação ao presidente João Goulart, aventou a possibilidade de escalonar a construção da usina, primeiro terminando a
montagem da laminação para operar com lingotes de Volta Redonda e, em seguida, a instalação da coqueria, do alto-forno e da aciaria, o que
anteciparia, em pelo menos dois anos, o início do faturamento.
Supunha-se que a laminação, operando com lingotes de Volta Redonda, poderia começar a
funcionar em fins de 1960 e a usina integrada em 1963. Com um empreendimento iniciado com o dólar a Cr$ 60 e terminado com o dólar a Cr$ 2 mil,
sempre com dificuldades financeiras e instabilidade política, esse plano não pôde ser cumprido.
Inauguração oficial da Usina
No dia 31 de março de 1966, às 10h45, o presidente da
República, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, chegou à usina, em Piaçagüera, onde foi recebido oficialmente pelo professor Iberê Gilson,
diretor-presidente e demais diretores da Cosipa. Assistiu, na coqueria, o desenformamento de coque, durante dez minutos, sendo saudado pelo
professor Iberê:
- O sonho que alguns acalentaram e que outros tantos iniciaram, transformou-se de
quimera na realidade de hoje; aço jorrando nas plagas de Piaçagüera para São Paulo e para o mundo; aço que da atual etapa inicial de 500 mil
toneladas anuais atingirá em pouco tempo volume quádruplo ou sêxtuplo; aço que impulsionará o admirável parque industrial paulista e brasileiro; aço
que contribuirá substancialmente para o desenvolvimento econômico e social de nossa Pátria; aço que ajudará a potencializar nosso balanço de
pagamentos. Para a consecução desse êxito, muitos foram os antagonistas a se vencer e os óbices a se transpor O atual governo, cônscio do alto
significado deste empreendimento para a economia do País, não esmoreceu esforços nem mediu sacrifícios no sentido de substituir a descrença pela
esperança, tornando possível o que na voz geral seria impossível: o término das obras dessa usina, que com tanto júbilo, nesta hora, se inaugura
oficialmente e propositadamente de forma inusitada, posto que, não em início ou em meio à sua construção, mas já integrada em sua plenitude
operacional.
Em seguida, o marechal Castelo Branco disse que "o empreendimento não reflete apenas a
ação do governo, completando a iniciativa privada. Representa também o sentido de continuidade da obra governamental".
A Laminação a Quente foi inaugurada em 18 de dezembro de 1963 pelo presidente João
Belchior Marques Goulart e completada com a Laminação a Frio, em 15 de outubro de 1964, por ocasião da visita do presidente da França, Charles de
Gaule.
Em 28 de outubro de 1965 entrou em funcionamento o
Alto-Forno 1, em 3 de novembro os Conversores da Aciaria e em 21 de dezembro as bias de coque, transformando a Cosipa em uma usina integrada.
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Como disse no prefácio
deste trabalho, prometi a um grupo de engenheiros escrever a história da Cosipa. Iniciando a mesma com a fundação da companhia e terminando com a
inauguração da usina integrada, julgo ter cumprido a promessa feita, razão pela qual aqui termino este trabalho. |