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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
As origens da siderúrgica (6)

Por volta de 1973, um dos fundadores da Companhia Siderúrgica Paulista, Martinho Prado Uchôa, produziu um livrete contando A História da Cosipa, com fotos antigas e seu depoimento, como protagonista que foi desses episódios.

Com 72 páginas, projeto gráfico de Vicente Gil/Assessoria Visual Ltda. e impressão Linova Editora Artes e Serviços Gráficos Ltda., a obra não contém mais dados sobre o livrete em si (que teria sido apoiado pela Cosipa) e nem legendas para as fotos, aqui reproduzidas junto com parte do texto (que no original é complementado pela descrição das assembléias gerais da empresa entre 1953 e 1966). Esta é a continuação do texto:


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Martinho Prado Uchôa

1960

6 de janeiro - General Macedo Soares parte para Europa.

13 de janeiro - Viagem a Itapeva para conhecer a jazida de dolomita adquirida pela Cosipa.

25 de fevereiro- Contrato assinado com o BNDE. Muitos atrasos.

2 de março - O general muda-se para São Paulo.

13 de março - Minha partida e do engenheiro José Pinheiro para a Europa a fim de verificarmos o andamento dos projetos e encomendas.

24 de abril - Regressando ao Brasil, Pinheiro relata o estado dos trabalhos de Delattre, Stein Roubaix, Schneider, Heurtey, Allis Chalmers, Schloemann, Bliss Henschel, Ferrostal, GHH, L.D. Linz Donawitz, Creusot, Cornigliano, escritório Potenza e Port Talbot, na Inglaterra.

30 de maio - Visita a Volta Redonda com Knall, Barros Pinto e Hart.

24 de agosto - Volto a Europa e me encontro com Nogueira para acelerarmos o andamento de projetos de estruturas, entre outros. O engenheiro Carlos Antonio Nogueira Filho, calculista da CSN, responsável pelo maior contingente das estruturas metálicas da primeira fase, havia redimensionado, para perfis europeus, os edifícios da laminação, inicialmente calculados para perfis norte-americanos.

Greves nos Estados Unidos haviam obrigado a um rápido deslocamento da fabricação para especialistas do Brasil (FEM), da Alemanha e da França. A urgência, que afinal foi conseguida, para os edifícios da laminação, vinculava-se à necessidade de tê-los montados, com suas respectivas pontes-rolantes, para promover o abrigo e as facilidades de manuseio, adequados à montagem dos demais equipamentos.

22 de outubro - Regresso para São Paulo. Decreto 48.323 autoriza a Cosipa a funcionar como empresa de mineração.

26 de outubro - Decreto 49.143 declara a Cosipa empresa civil, considerada de interesse militar.

1961

27 de janeiro - United States Steel (USS) compra 75 mil ações.

31 de janeiro - Posse de Jânio Quadros na Presidência da República.

9 de fevereiro - Jacobsen, representante da USS, propõe envio de técnico para a construção.

23 de fevereiro - Eu proponho - e a diretoria inicia gestões junto ao governo federal - a ligação ferroviária Mogi-Ribeirão Pires, evitando a passagem de trens de minério de Minas por São Paulo.

7 de março - Haenel pede demissão do cargo de superintendente, que vinha ocupando desde 28 de outubro de 1960.

28 de abril - Assembléia Geral Ordinária sustada.

5 de maio - Última reunião de diretoria comigo, Quartin, Haenel, Macedo e Caetano.

9 de maio - Eleita nova diretoria. Sou substituído.

18 de maio - Transmissão da presidência. Francisco de Paula Vicente de Azevedo, novo presidente.

30 de maio - Visita a Volta Redonda com Knall, Barros Pinto e Hart para verificar andamento dos trabalhos da Cosipa.

4 de julho - Elevado o capital social da Cosipa, de Cr$ 2 bilhões para Cr$ 12 bilhões. O BNDE se dispõe a tomar em underwriting as ações ordinárias que não encontrassem tomadores particulares, o que foi feito conforme deliberação de seu Conselho de 22 de janeiro de 1962. Até a assinatura deste contrato de financiamento, o BNDE forneceu à Cosipa, por conta de sua participação no capital social, adiantamentos que totalizaram Cr$ 5,02 bilhões. No inícoo de 1961, o Banco do Estado de São Paulo concedeu à Cosipa adiantamento de Cr$ 300 milhões, estabelecendo-se que o reembolso desse adiantamento se processaria gradativamente, na base de Cr$ 50 milhões para cada chamada, para integralização das ações que viessem a ser subscritas. O Banco do Estado de São Paulo em muito colaborou, antecipando a subscrição de capital underwriting de alguns acionistas privados. O BNDE também, relativamente às suas ações e às da União.

25 de agosto - Renúncia de Jânio.

25 de outubro - Caso da United States Steel. General Macedo, regressando dos Estados Unidos, informa que a USS, que já possuía 20 milhões de ações, estava interessada em participar do capital. A USS fez a seguinte proposta: a) inicialmente, subscreveria todo o saldo disponível de ações em underwriting. No próximo aumento de capital subscreveriam o que fosse permitido (10% ou 20%, ou mais) mas não queriam a maioria, pois conheciam as tendências nacionalistas da América. A Cosipa fixou em 30%; b) promoveriam o treinamento do pessoal para entrada em operação; c) forneceriam os técnicos necessários para auxiliar no projeto e construção da usina; d) financiariam o fornecimento de lingotes para o início das operações; e) em contrapartida, exigiam a indicação de um membro entre os cinco que compõem a diretoria.

A proposta mereceu aprovação unânime da diretoria em Reunião de Diretoria de 28/10/1961, do Conselho em 16/12/1961, tendo sido encaminhada ao BNDE, cujo presidente, Faria Lima, não deu resposta.

agosto/outubro - O BNDE fixou adiantamento de Cr$ 9,3 bilhões, sendo Cr$ 4 bilhões de empréstimo e o restante como participação no futuro aumento de capital. Previsão da parte da União no aumento de capital de Cr$ 500 milhões para Cr$ 2,5 bilhões, além dos Cr$ 300 milhões já investidos de acordo com a Lei nº 4.469.

A Cosipa defrontou-se com a necessidade de ultimar os entendimentos entabulados e as providências programadas quanto à situação financeira, bem como de dar ao desenvolvimento das obras o ritmo indispensável que, pelas dificuldades conhecidas, não pudera até então ser alcançado.

Sob o aspecto econômico-financeiro, o ano de 1961 foi marcado por dois acontecimentos de fundamental importância para os interesses da Cosipa: a reforma cambial, consubstanciada nas instruções 204 e 208 da Sumoc, e a concretização do amparo financeiro do BNDE através da reforma dos estatutos sociais, com o aumento de capital de Cr$ 2 bilhões para Cr$ 12 bilhões e da contratação do financiamento de Cr$ 4 bilhões.

A abolição do chamado câmbio de custo de Cr$ 100/dólar e o encarecimento exagerado nos preços da construção civil impuseram ao orçamento, em junho de 1960, cerca de Cr$ 30 bilhões. O novo orçamento, pronto em agosto de 1961, alcançou o total de Cr$ 74,7 bilhões. Apesar da enorme elevação do orçamento, o BNDE deu continuidade ao programa traçado, inclusive, do suprimento dos fundos, a despeito de se achar virtualmente subvertido o esquema financeiro fixado para o empreendimento.

6 de dezembro - Promulgada a Lei nº 3.993 que concedeu à Cosipa, assim como à Usiminas e à Ferro e Aço de Vitória, isenção, por cinco anos, dos impostos de importação, consumo, taxa de despacho aduaneiro, taxa de melhoramento dos portos, taxa de renovação da marinha mercante, imposto federal do selo.

27 de dezembro de 1961 - USS desinteressou-se, devido à mudança de governo dos Estados Unidos e Brasil.


1962

Nesse ano, a Cosipa entrou sob regime de crédito aberto pelo BNDE, em virtude do contrato de financiamento assinado em 12 de setembro de 1961, cujos recursos - somados aos de outras fontes, como o aumento do capital social -, arrecadados pontualmente nas épocas determinadas, constituíam os suprimentos indispensáveis para as obras.

Muito antes do esgotamento desses recursos, ou seja, em novembro de 1961, foi solicitado ao BNDE o estudo de um outro contrato de financiamento, da ordem de Cr$ 19 bilhões, destinado à continuação dos trabalhos de acordo com um novo cronograma acompanhado daquele pedido; o assunto, porém, quase um ano depois, foi praticamente encerrado com o adiamento, por parte do BNDE, em 17 de outubro de 1962, da concretização do contrato de financiamento, criando-se com isso uma situação de extrema gravidade para a Cosipa que, aliás, desde junho vinha se mantendo de adiantamento, precário e insuficiente e assim mesmo proporcionado pelo BNDE, graças ao esforço do seu presidente, Leocádio Antunes.

Foi nessa ocasião que, ausente do País o presidente do BNDE, a diretoria da Cosipa recorreu ao ministro da Fazenda, Miguel Calmon, que em 9 de novembro não só concedeu um suprimento de Cr$ 1 bilhão, como obteve recomendação do Conselho de Ministros do Banco do Brasil para que celebrasse com a empresa uma operação no montante de Cr$ 8 bilhões para fazer os pagamentos dos atrasados que vinham desde agosto, e das contas a vencer até 31 de dezembro.

Situação da Cosipa - Estudo este apreciado pelo ministro da Indústria e Comércio, que serviu de base à resolução do Conselho de Ministros de 11 de janeiro de 1963, determinando providências para assegurar o financiamento integral do projeto.

Esta importante resolução teve em vista o novo orçamento, organizado para a primeira etapa, de 500 mil t e no montante de Cr$ 100 bilhões, e incluiu recomendação expressa para que o BNDE atribuísse prioridade ao estudo do projeto de ampliação da usina, para a segunda etapa, de 800 mil t de aço em lingotes por ano.

Na inauguração do canteiro de obras, em 1959, o presidente da Cosipa, Teodoro Quartim Barbosa, em seu discurso de saudação ao presidente João Goulart, aventou a possibilidade de escalonar a construção da usina, primeiro terminando a montagem da laminação para operar com lingotes de Volta Redonda e, em seguida, a instalação da coqueria, do alto-forno e da aciaria, o que anteciparia, em pelo menos dois anos, o início do faturamento.

Supunha-se que a laminação, operando com lingotes de Volta Redonda, poderia começar a funcionar em fins de 1960 e a usina integrada em 1963. Com um empreendimento iniciado com o dólar a Cr$ 60 e terminado com o dólar a Cr$ 2 mil, sempre com dificuldades financeiras e instabilidade política, esse plano não pôde ser cumprido.

Inauguração oficial da Usina

No dia 31 de março de 1966, às 10h45, o presidente da República, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, chegou à usina, em Piaçagüera, onde foi recebido oficialmente pelo professor Iberê Gilson, diretor-presidente e demais diretores da Cosipa. Assistiu, na coqueria, o desenformamento de coque, durante dez minutos, sendo saudado pelo professor Iberê:

- O sonho que alguns acalentaram e que outros tantos iniciaram, transformou-se de quimera na realidade de hoje; aço jorrando nas plagas de Piaçagüera para São Paulo e para o mundo; aço que da atual etapa inicial de 500 mil toneladas anuais atingirá em pouco tempo volume quádruplo ou sêxtuplo; aço que impulsionará o admirável parque industrial paulista e brasileiro; aço que contribuirá substancialmente para o desenvolvimento econômico e social de nossa Pátria; aço que ajudará a potencializar nosso balanço de pagamentos. Para a consecução desse êxito, muitos foram os antagonistas a se vencer e os óbices a se transpor O atual governo, cônscio do alto significado deste empreendimento para a economia do País, não esmoreceu esforços nem mediu sacrifícios no sentido de substituir a descrença pela esperança, tornando possível o que na voz geral seria impossível: o término das obras dessa usina, que com tanto júbilo, nesta hora, se inaugura oficialmente e propositadamente de forma inusitada, posto que, não em início ou em meio à sua construção, mas já integrada em sua plenitude operacional.

Em seguida, o marechal Castelo Branco disse que "o empreendimento não reflete apenas a ação do governo, completando a iniciativa privada. Representa também o sentido de continuidade da obra governamental".

A Laminação a Quente foi inaugurada em 18 de dezembro de 1963 pelo presidente João Belchior Marques Goulart e completada com a Laminação a Frio, em 15 de outubro de 1964, por ocasião da visita do presidente da França, Charles de Gaule.

Em 28 de outubro de 1965 entrou em funcionamento o Alto-Forno 1, em 3 de novembro os Conversores da Aciaria e em 21 de dezembro as bias de coque, transformando a Cosipa em uma usina integrada.

***

Como disse no prefácio deste trabalho, prometi a um grupo de engenheiros escrever a história da Cosipa. Iniciando a mesma com a fundação da companhia e terminando com a inauguração da usina integrada, julgo ter cumprido a promessa feita, razão pela qual aqui termino este trabalho.

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