INDUSTRIALIZAÇÃO
RPBC promoveu mudança radical
Há 50 anos, Refinaria mudou perfil até então rural
Joaquim Miguel Couto (*)
Colaborador
Nesse mês de abril, não só Cubatão comemora aniversário.
No dia 16, a Refinaria Presidente Bernardes completará 50 anos de sua inauguração. Sua construção em Cubatão representou o
maior fator de mudança na história da Cidade. Sem a refinaria, Cubatão tenderia a continuar sendo um grande bananal, cortado por rodovias cada vez
mais modernas, mas que pouco contribuiriam para o seu progresso.
O que levou o Conselho Nacional de Petróleo (CNP) a escolher Cubatão para sediar, na
época, a maior refinaria de petróleo do País? Responder essa pergunta é o objetivo desse artigo.
Um dos projetos contidos no Plano Salte do Governo Federal, de 1948, era a aquisição e
montagem de uma refinaria com capacidade de refino de 45 mil barris diários de petróleo. Em 13 de março de 1949, a refinaria começava a sair do
papel, com a Lei nº 650, que autorizava a abertura de créditos especiais ao CNP para adquirir o projeto e o material destinado à construção de uma
refinaria com capacidade diária de 45 mil barris.
A partir dessa data, começou uma disputa nacional para sediar as instalações da maior
refinaria do País. Cabia ao CNP a decisão da localização das refinarias. A Tribuna, então, entrou na luta para trazer a refinaria para
Santos, com editoriais e reportagens relacionando uma série de motivos que demonstravam porque o Porto de Santos seria o melhor local para instalar
a refinaria.
A Comissão era composta pelo engenheiro Avelino de Oliveira (presidente da Comissão e
diretor da Divisão Técnica do CNP), coronel Arthur Levy (representante do Ministério da Guerra), engenheiro Antenor Rangel Filho (representante do
Comércio) e pelo bacharel João Lourenço (representante do Ministério da Fazenda).
Em 29 de julho de 1949, o Governo Federal assinou os contratos para a aquisição da
refinaria com o consórcio francês Fives-Lille & Schneider & Cie. (para o fornecimento dos equipamentos) e com a norte-americana Pan American
Hydrocarbon Research Inc. (responsável pela elaboração do projeto, compra, inspeção e expedição dos materiais, obras complementares e
funcionamento). Para muitos estudiosos do setor, a assinatura do contrato de construção da grande refinaria representou, definitivamente, o início
da indústria petrolífera no Brasil.
O pagamento ao consórcio francês Fives-Lille & Schneider pelos materiais e
equipamentos necessários à refinaria viria das divisas que o Brasil possuía naquele país, acumuladas durante a Segunda Guerra. A capacidade de 45
mil barris/dia era correspondente a 80% do consumo de derivados no Brasil, da época.
Finalmente, em 17 de agosto de 1949, o general João Carlos Barreto, presidente do
Conselho Nacional do Petróleo, anunciou o local escolhido pela Comissão Técnica do CNP para localizar a grande refinaria: entre Santos, Rio de
Janeiro, Recife e Belém.
Havia discordância dentro da própria Comissão Técnica quanto ao melhor local. A voz
discordante da escolha do Distrito Federal era o coronel Arthur Levy (presidente da Comissão do Oleoduto Santos-São Paulo e representante do
Ministério da Guerra no CNP).
Proximidade com Porto foi decisiva para vinda da indústria
Foto publicada com a matéria
REFINARIA
Militar foi decisivo na implantação
Santos, Rj, Recife e Belém disputavam o investimento
Joaquim Miguel Couto (*)
Colaborador
No dia seguinte à decisão do CNP, o deputado estadual
Lincoln Feliciano dizia, na Assembléia Legislativa, ter recebido informações de que a refinaria seria instalada em Cubatão, pois um engenheiro
militar tinha inspecionado o local com vista à implantação da indústria. O "engenheiro militar" era o coronel Arthur Levy. Essa foi a primeira vez
que o nome de Cubatão surgia como local provável para sediar a refinaria.
O presidente da República reuniu o Conselho de Segurança Nacional para decidir sobre a
localização da refinaria de petróleo para 45 mil barris diários e apreciar a situação atual dos municípios anteriormente declarados bases militares.
Quanto à primeira parte, foi indicado o Porto de Santos para instalação da refinaria, de acordo com a deliberação da maioria dos presentes, incluída
a manifestação favorável do presidente da República. (A Tribuna, 03/09/1949:16).
Mais precisamente, o Conselho de Segurança Nacional havia sido instruído pelo coronel
Levy (do Ministério da Guerra), sobre o melhor local para a instalação da refinaria, inclusive para efeito de segurança militar de suas instalações.
30 de dezembro de 1949 |
foi a data em que o Governo Federal adquiriu os terrenos
para construção da Refinaria no sopé da Serra do Mar
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No correio - O coronel Levy confessou sua estratégia para trazer a refinaria
para Santos/Cubatão numa conversa travada na agência dos Correios de Cubatão, envolvendo o então prefeito de Cubatão, Armando Cunha, o vereador
Vitorio Melleti e a agente dos Correios Avelina Couto, no ano de 1950.
No dia 4 de outubro de 1949, o presidente do CNP, João Carlos Barreto, designou o
coronel e o engenheiro Paulo Mendes de Oliveira Castro para constituírem a comissão encarregada de selecionar a área mais conveniente. A indicação
de Levy para chefiar a comissão já era um indício certo da escolha de Cubatão, dado seu conhecimento dos terrenos locais. A própria Câmara
Municipal, em 5 de outubro, cumprimentava o militar por ter sido escolhido para presidir a comissão.
Finalmente, em dezembro de 1949, o Conselho Nacional de Petróleo anunciou, para todo o
País, que Cubatão era o local escolhido para sediar a refinaria de 45 mil barris diários de petróleo.
E, assim, no dia 30 de dezembro, na sede do CNP (Rio de Janeiro), contando com a
presença do prefeito de Cubatão, Armando Cunha, o general João Carlos Barreto assinou as primeiras escrituras de compra e venda dos terrenos,
situados no sopé da Serra do Mar.
O Conselho Nacional do Petróleo convocou o general-de-brigada Stenio Caio de
Albuquerque Lima, ex-representante do Exército na Junta Inter-Americana da Defesa em Washington para comandar a construção.
Extremamente autoritário, o general Stenio construiu um quarto, na área da refinaria,
que usava como cadeia para prender operários indisciplinados. Uma das vítimas foi o próprio coronel Levy, que ficou preso por alguns dias, por
querer passar o oleoduto na área da refinaria sem a autorização do general.
No dia 4 de setembro de 1950, ocorreu um dos maiores momentos da história de Cubatão:
o lançamento da pedra fundamental da refinaria, com a presença do presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra.
Assim, o amanhecer dos anos 1950 encontrou Cubatão envolvida numa grande obra. A maior
refinaria do País começava a se instalar. Milhares de pessoas, vindas de todos os cantos do Brasil, invadiram o pequeno município numa progressão
que não parecia terminar.
O responsável por essa revolução foi Arthur Levy, e sua idéia de que Cubatão era o
melhor lugar para sediar a grande refinaria.
No dia 16 de abril de 1955, a planta industrial era inaugurada oficialmente. Entre os
presentes, estava o presidente da República, Café Filho, e o governador de São Paulo, Jânio Quadros. Arthur Levy também estava presente: era o
presidente da Petrobrás. Antes de se aposentar, o militar seria ainda promovido a general do Exército Brasileiro.
(*) Joaquim Miguel Couto, nascido em Cubatão,
articulista e escritor, descende de tradicional família local e vem contribuindo com o caderno de Cubatão há dez anos. É doutor em Economia pela
Unicamp e professor universitário. O resumo aqui reproduzido é parte de um longo artigo sobre a importância da construção da refinaria de Cubatão. |