Poluição pode ameaçar turbinas da H. Borden
CUBATÃO - Na grande falta de chuvas que ocorreu no Estado de São Paulo, em 1969, o
esgoto da Capital - desviado para a Represa Billings - produzia uma espécie de gás que, ao descer pela tubulação da Hidrelétrica Henry Borden,
formava atrito no eixo das turbinas geradoras de energia elétrica. Turmas de vigilantes da antiga Light estavam sempre de prontidão junto a essas
turbinas. Além do mau cheiro do esgoto, o atrito da matéria fecal e a geração de gases acabavam, quase sempre, por provocar focos de fogo.
Essa situação poderá ocorrer novamente em Cubatão, se o Governo do Estado, por
exigência do Governo Federal e das indústrias de Cubatão - em especial a Refinaria Presidente Bernardes e a Cosipa - voltar a despejar grandes
volumes de água pela hidrelétrica. Com isso, atenderá aos pedidos da Eletrobrás, para gerar mais energia, e descarregará uma violenta carga de
poluentes que tornarão o Rio Cubatão ainda mais malcheiroso e reduzirão ao mínimo a balneabilidade das praias de Santos e São Vicente.
O autor dessas denúncias é o vereador Romeu Magalhães, PDS, que vem acompanhando a
discussão entre representantes da comunidade da Baixada Santista e do ABCD e o Governo do Estado. A Cetesb nega que a poluição da Billings afete as
praias de Santos e São Vicente. O Governo do Estado nega que a Usina Henry Borden necessite produzir mais energia elétrica.
Papel de palhaço - "Esses técnicos desses órgãos do Governo e os das indústrias
sabem da verdade. Mas, escondem o jogo. Deixam que nós, políticos sustentados pelos votos, falemos mentiras por eles. Acabamos fazendo papéis de
palhaços, sendo enganados por tecnoburocratas que estão preocupados unicamente em sustentar seus cargos, recebendo polpudos salários", adverte Romeu
Magalhães.
Ele enumera duas versões sobre a necessidade de se enviar para a Baixada Santista as
águas saturadas de esgotos da Capital provenientes da inversão do curso do Rio Tietê.
Primeira: "Está prevista uma grande estiagem no sistema hidrelétrico de Urubupungá,
cujos reservatórios já estariam - atualmente - abaixo dos níveis considerados normais. Por causa disso, a geração de energia nessa usina está abaixo
da carga necessária. Como se sabe, os sistemas hidrelétricos de São Paulo são integrados. Uma usina supre a outra. O excedente de energia gerado
aqui em Cubatão, pela Usina Henry Borden, está sendo distribuído em substituição a Urubupungá. Com a previsão da estiagem, é preciso encher o
reservatório da Billings, para que se aumente a carga de geração de energia na Henry Borden. Essa seria uma das causas, segundo os técnicos", conta
Romeu.
Segunda: "O parque industrial de Cubatão precisa de água para o seu processamento
industrial. O maior volume desses recursos vem do Rio Cubatão, cuja vazão normal é muito pequena e, a montante da hidrelétrica, supre a Sabesp para
abastecer as residências da Baixada Santista. Com a descarga da hidrelétrica, a vazão do rio passa a mais de 180 metros cúbicos por segundo. A
refinaria, por exemplo, precisa de uma vazão mínima de 150 metros cúbicos por segundo para abastecer a sua captação colocada na barragem entre as
vias Anchieta e Cubatão-Pedro Taques. Tenho informações de que quando o rio não atinge esse volume, alguém da Petrobrás telefona para a Eletropaulo
e esta empresa é obrigada a aumentar automaticamente a descarga de água da Billings para abastecer a refinaria. A Cosipa também precisa dessa
pressão mínima nas águas do Rio Cubatão para evitar que a cunha salina vinda do Estuário (caindo a pressão, as águas salgadas do Estuário se
misturam às águas do rio e chegam à siderúrgica) invada o seu setor de captação hídrica usada no processo industrial", disse o vereador.
Romeu soube que, há pouco tempo, engenheiros da Sabesp e da Cetesb, duas empresas
estatais, cronometraram a velocidade das águas, com baixa, média e alta pressão, provocada pela descarga na hidrelétrica, tudo isso para saber
quanto tempo levavam para chegar à refinaria e à Cosipa. Com isso, saberiam como controlar as descargas.
Romeu apresenta dados. De acordo com ele, a Usina Henry Borden gera 900.000 kw por
hora com o lançamento de 160 metros cúbicos de água por segundo nas tubulações externas e subterrâneas. Com essa geração a plena carga, ela supre
2,3% da demanda de energia do Estado.
"Temos informações oficiosas de que o Rio Tietê, para cuja inversão são usadas três
poderosas bombas, ganharia mais uma quarta bomba, a ser instalada na Barragem Edgard de Souza", concluiu.
Os poluentes que descem da Billings podem
danificar o equipamento da usina
Foto publicada com a matéria
Protesto às margens da Billings
SANTO ANDRÉ - Para protestar contra o lançamento dos esgotos na Billings, o
grupo Arte e Movimento Ecológico (AME), formado por trabalhadores, populares e artistas de Mauá, no ABC, iniciou ontem um acampamento às margens da
represa, no Bairro Alvarenga, em São Bernardo do Campo, que deverá prosseguir até hoje à tarde ou, dependendo do resultado que apresentar, mais
dias.
Neste período serão realizados shows e manifestações a respeito do
meio-ambiente e, principalmente, da defesa da Billings. Haverá também uma exposição de fotografias mostrando os milhares de peixes que morreram
recentemente, devido à poluição. Políticos e representantes de entidades ecológicas foram convidados para a manifestação.
Lea Aparecida de Oliveira, coordenadora do AME, explicou que esta concentração é
apenas o início de uma ampla mobilização a ser realizada na região do ABC, tendo como principal objetivo a suspensão, por parte do Governo Estadual,
do bombeamento das águas poluídas do Rio Tietê para a Billings.
Atualmente o manancial recebe 50% do volume de água do Tietê, na denominada "operação
balanceada". Além de sua importância no sistema de abastecimento da Grande São Paulo, a represa é tida também como a principal área de lazer do ABC,
principalmente para a população de baixa renda que não tem condições de se deslocar para outras regiões, como o Litoral. |