Muitos chamaram Billings de louco e
visionário, mas houve também quem lhe reconhecesse o valor. Em 1928, o jornalista Assis Chateaubriand escrevia, em O Jornal, um artigo
intitulado "Moisés": "Quanto mais admiro a obra desse genial americano, mais me capacito que uma das maiores fortunas do Brasil contemporâneo é a
posse, mesmo a título precário, deste engenheiro que é justamente reputado um dos três grandes engenheiros hidráulicos que tem o mundo de nossos
dias..."
O Brasil tomou conhecimento, assim, da existência daquele grande batalhador. O artigo
teve repercussão, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro: "(...) No mundo de alto rendimento econômico em que vivemos, o aparecimento de um
homem providencial como o Senhor Billings representa a abertura de largas avenidas através de um futuro que nos era totalmente desconhecido. (...)
Poder-se-ia aqui afirmar que a diferença entre o homem simplesmente capaz e o homem genial está na capacidade desse último de fazer loucuras, desde
que essas loucuras sejam, afinal, bem sucedidas. E Billings tem essa notável capacidade de fazer loucuras bem sucedidas".
Como Chateaubriand, outros brasileiros, conscientes da contribuição de Billings ao
progresso do Brasil, faziam a sua defesa contra os exaltados que o atacavam, principalmente por ser ele um estrangeiro. Mas logo viria a consagração
internacional. Em 1936, a Institution of Civil Engineers de Londres convidou Billings a apresentar um trabalho sobre o que fazia no Brasil. Ele
apresentou um relatório sobre a energia hidráulica no Brasil, especialmente em São Paulo. O documento Water-Power in Brazil tornou-se
clássico no assunto, tanto que sua leitura passou a ser recomendada nas escolas de Engenharia e foi publicado também pela revista norte-americana
Civil Engineering.
Em 1947, Billings foi eleito membro honorário da American Society of Civil Engineers.
Nessa época, as instalações hidrelétricas do Rio e de São Paulo já eram famosas em todo o mundo. Dizia-se que o Brasil era um país tao poderoso que
ali se fazia os rios correrem da foz para a nascente, quando se necessita de força elétrica, como em Cubatão.
Mas não era apenas Cubatão e outras obras hidrelétricas que o Brasil ficaria devendo à
capacidade de iniciativa do engenheiro norte-americano. Freqüentemente atacado por aqueles que viam em sua pessoa e na empresa em que trabalhava
simples instrumentos do "capital colonizador", Billings jamais deixou que as críticas interferissem com o seu amor à Pátria adotiva.
Outra grande contribuição de Billings foi a sua participação no combate à malária. Em
Cuba, ele mesmo já fora atacado pela febre amarela, doença que dizimara a população local, em 1908, na época da construção da represa de Lajes.
Quando organizou a construção das represas e da usina de Cubatão, Billings não se esqueceu do problema e instruiu o médico Abel Vargas para que
impedisse, a qualquer custo, a propagação de uma epidemia entre os operários, numa região infestada pelos mosquitos da malária.
Toda a área onde trabalhariam os operários foi limpa, removendo-se a vegetação
rasteira, onde se abrigam as larvas dos mosquitos. Além disso, testes de sangue eram feitos nos novos operários, para impedir que gente já
contaminada fosse contratada. Medidas como essa impediram o aparecimento da epidemia.
Em 1940, o engenheiro infatigável começou a dar sinais de cansaço. Era o preço que
pagava por sua total absorção no trabalho, o que, às vezes, desesperava à Sra. Billings. Finalmente, Billings resolveu se aposentar, assim que
terminasse a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, em 1944, quando ele era vice-presidente da Companhia, com a morte do presidente, Sir Herbert
Couzens, foi indicado para sucedê-lo.
E Billings, depois de muito relutar, aceitou mais aquele encargo. Foi presidente por
dois anos e, em sua gestão, demonstrou que ainda estava bem viva a sua capacidade de previsão e sua fé no futuro do Brasil. Previa ele que, com o
fim da guerra, São Paulo e Rio de Janeiro deveriam entrar em nova fase de progresso. Seria preciso haver energia para isso e a Light deveria obter
novas concessões para ampliar o potencial de Cubatão e do sistema do Rio.
Em 1946, Billings recebeu, das mãos do ministro Neves da Fontoura, a maior
condecoração que o Brasil pode dar a um estrangeiro: a Ordem do Cruzeiro do Sul, com os agradecimentos oficiais do governo brasileiro a um homem
que, por mais de vinte anos, dedicou, ao progresso do Brasil, o melhor de seus esforços, como se estivesse trabalhando para a sua própria pátria.
Para o engenheiro, talvez a razão - de receber tal prova de reconhecimento do trabalho
prestado por sua companhia em prol do desenvolvimento do Brasil - fosse que, observando quase que diariamente o constante crescimento da região mais
progressista do País, tornara-se um crente no seu futuro. Ele estava convicto de que, apesar dos muitos problemas que se levantaram desde o término
da guerra, sua fé no desenvolvimento contínuo do Brasil seria amplamente justificada em futuro próximo.
Nesse mesmo ano, Billings renunciou à presidência da Light, embora permanecesse na
empresa como consultor, até 1949, quando voltou definitivamente aos Estados Unidos. Na ocasião, recebeu duas grandes homenagens. Uma lhe foi
prestada por seus companheiros de trabalho, junto ao reservatório do Rio Grande. Foi na manhã do dia 12 de maio de 1949. Ao lado de Billings,
estavam velhos e leais companheiros. Alguns o seguiam desde os tempos da Espanha.
Falou o engenheiro Adolpho Santos Júnior: "Aqueles que, como eu, lembram-se de 25 anos
atrás, dos vales cortados, em lentos meandros, pelo Pinheiros e pelo Rio Grande, que se recordam das terras agrestes da crista da Serra, da floresta
virgem, dos picos e dos precipícios e das baixadas pantanosas, e agora vêem rios canalizados, estações de bombeamento, represas e lagos que se
estendem dos campos de Piratininga até Paranapiacaba, de onde se vê o mar, vêem as tubulações e a grande usina hidrelétrica - a sétima do mundo em
capacidade - sabem que tudo o que foi feito se deve, em grande parte, ao senhor...
"Nós, que trabalhamos ao seu lado, temos gravada, em nossos corações e em nossas
mentes, toda a medida de seus esforços e de seus trabalhos... Desejamos que o seu nome seja lembrado e o seu trabalho reconhecido por todos que
depois de nós vierem, enquanto existir este reservatório. A fim de perpetuar o seu nome, foi decidido que, de hoje em diante, e enquanto se der
valor ao esforço de um homem, este reservatório seja chamado Represa Billings!"
Na noite do mesmo dia, recebido pelo Instituto de Engenharia de São Paulo, juntamente
com o Engenheiro Edgard de Souza - outro grande nome ligado às empresas Light -, Billings ouviu do engenheiro Álvaro de Souza Lima: "A data de hoje
ficará marcada especialmente, nos anais do Instituto, como sendo o dia em que se prestou homenagem a dois ilustres engenheiros. No exercício de sua
profissão, eles mereceram a eterna gratidão do povo paulista, a que serviram e a que ainda servem..."
Pouco depois, Billings deixava o Brasil para viver em La Jolla, na Califórnia, onde
viria a morrer, em novembro de 1949. Nesses últimos meses de vida, com muitas horas de ócio à sua frente, pela primeira vez na vida, decerto o velho
engenheiro terá rememorado a sua longa carreira: mais de metade da vida passou como um verdadeiro andarilho. Lembrou-se talvez de quando descreveu
aos antigos colegas da universidade que tipo de vida era essa: "Para trabalhos de engenharia em terras estranhas, muitos são os chamados mas poucos
são os escolhidos. Aquele a quem faltar uma educação generalizada, intensa preparação profissional, firmeza de caráter e de objetivos ou uma genuína
simpatia para com o povo do país onde está trabalhando, logo falhará..."
Depois de enumerar as desvantagens que cercam os que conseguem sucesso, prosseguiu,
dizendo que as compensações por essas desvantagens incluem altos salários e o reconhecimento alheio, não só por parte dos homens que pagam pelos
serviços, como do povo a que serve. Depois que o engenheiro aprende a compreender integralmente as melhores qualidades desse povo, dos que ocupam os
postos mais altos aos mais humildes operários, ele adquire e mantém sólidas amizades nesses países. Então é só em sua terra que ele se sente um
estranho.
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No Brasil, certamente Billings jamais seria um estranho. Mais do que isto, o povo
brasileiro guardará, por muitos anos, a memória desse extraordinário engenheiro, principal responsável por duas obras de engenharia-hidráulica
respeitadas no mundo inteiro: ...o sistema hidrelétrico de São Paulo...e o sistema hidrelétrico do Rio de Janeiro.
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