CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE II - Capítulo 3 (cont.)
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
3.2.7 -
Município de Praia Grande
3.2.7.1
- História
A
história de Praia Grande está relacionada à história
de São Vicente. No mesmo ano de 1532, fundação da
primeira cidade do Brasil, Ana Pimentel, esposa do donatário Martim
Afonso
de Souza, cedeu o trecho de terra situado desde o morro do Xixová
até além do Rio Itinga a quatro portugueses. Estes atravessaram
o canal do Mar Pequeno de barco, e embrenharam-se pelo Rio Piaçabuçu,
iniciando a colonização do atual Município de Praia
Grande. O Rio Piaçabuçu é o principal rio de Praia
Grande, e por quatro séculos foi o principal caminho de acesso para
Itanhaém.
O processo
de ocupação de Praia Grande teve como fator fundamental a
sua localização geográfica, por estar situada entre
as Vilas de São Vicente, da qual pertencia, e a Vila de Conceição
de Itanhaém. Além de ser conhecida por Piaçabuçu,
do tupi "Porto-Grande", era também chamada de "Caminho de Conceição
de Itanhaém".
Desde sua fundação
até o final do século XIX o núcleo populacional possuiu
um caráter essencialmente agrícola. Segundo o primeiro recenseamento
da Capitania de São Vicente, em 1765, no trecho entre as "Prayas
de Taypus e Mongaguá", existiam muitos sítios na região
e agricultores que utilizavam o trabalho de negros forros e escravos para
produzir e abastecer as Vilas de São Vicente e Santos de produtos
agrícolas e artesanais.
Nas primeiras
décadas do século XX uma nova forma de ocupação
e fixação desenvolveu-se na região com as construções
da Fortaleza de Itaipu, 1902 a 1919; da Estrada de Ferro Santos-Juquiá,
iniciada em 1912, e, principalmente, da construção da Ponte
Pênsil em 1914, que durante muito tempo constituiu a principal via
terrestre de acesso à Praia Grande.
A Ponte Pênsil,
que liga o Morro dos Barbosas, na ilha de São Vicente, ao Morro
Japuí, no continente, além de servir para a travessia de
carroças e pedestres, tinha como função sustentar
as tubulações de esgoto provenientes de Santos e São
Vicente, o qual era lançado nas águas marítimas de
Praia Grande.
A partir da
década de 20 os sítios começaram a ceder lugar aos
primeiros loteamentos, entre eles o Jardim Guilhermina, 1926, e o Jardim
Matilde, 1925. Em 1927 iniciou-se
a construção do Aeroclube de Santos, mais tarde denominado
de Aeroclube de Praia Grande, com o aterramento de uma grande área.
Inaugurado
em 1936, ficou conhecido como Campo da Aviação, cedendo o
nome para o bairro que se formou ao redor a partir de 1945. O Aeroclube
de Praia Grande foi desativado em 2001.
Com a construção
da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e com a abertura do Bairro Cidade
Ocian, em 1956, um empreendimento da iniciativa privada que ergueu 22 prédios,
com sistema de coleta de esgoto e água encanada, a ocupação
do território se intensificou.
O desenvolvimento
populacional e imobiliário que ocorreu a partir dos anos de 1950,
os interesses de lideranças políticas locais, o sentimento
de isolamento e abandono em relação a Administração
Vicentina, aliados a falta de infra-estrutura e serviços básicos,
foram os fatores que determinaram o início do movimento em prol
da emancipação político-administrativa de Praia Grande.
Em 1958, concomitantemente
à criação da Comarca de São Vicente, foi também
criado o subdistrito do Boqueirão, considerado o primeiro passo
para a emancipação A articulação de políticos
locais junto com os moradores levou à realização de
um plebiscito em 1963, onde, dos 707 eleitores moradores, 680 votaram a
favor da Emancipação. O desmembramento de Praia Grande do
Município de São Vicente foi legitimado em 26 de outubro
de 1966, e em janeiro de 1967 foi instalado oficialmente o Município
de Praia Grande com a posse de um interventor federal.
No início
do séc. XX a crença de que os banhos de mar tinham fins terapêuticos,
devido a concentração de iodo, levou vários turistas
para as praias de Praia Grande. Em 1927 o Jardim Guilhermina já
tinha construído na orla de sua praia, várias cabines de
banho em madeira para os turistas de um dia. A década de 1940 registrou
grande movimento destes turistas ao final de semana na área do Boqueirão,
uma pequena vila em torno da principal via de acesso a São Vicente.
Nas décadas
de 1960, 70 e 80, a cidade de Praia Grande era conhecida como um balneário
dos paulistas, sendo característicos os ônibus estacionados
ao longo da praia, onde aumentava consideravelmente o número de
barraquinhas de madeira destinadas à venda de bebidas e lanches
para o turista de um dia.
Na década
de 1990, em vista da sujeira em que ficavam as praias e ruas da cidade
após os fins de semana, e do inconformismo dos moradores locais,
foi promulgada uma lei municipal proibindo a entrada de ônibus no
município, sem a apresentação anterior de destino
certo. Esta lei, que vigora ainda nos dias atuais, conseguiu terminar com
a prática deste tipo de turismo, contribuindo para alterar a imagem
local.
3.2.7.2
- Caracterização
O Município
de Praia Grande possui uma área territorial de 145 km², com
uma ampla planície litorânea, não sofrendo grandes
influências das escarpas da Serra do Mar. Oficialmente, toda área
do município é considerada como área urbana.
Distante 72
km da Capital de São Paulo, Praia Grande é passagem obrigatória
aos que se dirigem ao Litoral Sul, visto ser cortada pelas Rodovias Pedro
Taques e Padre Manoel da Nóbrega. Encontra-se praticamente no centro
geográfico da RMBS, como pode ser constatado na figura
3.20.
Figura
3.20: Localização de Praia Grande na RMBS Fonte: CETESB,
2003b.
Praia Grande
possui um total de 10 praias, sem que haja obstáculos geográficos
entre elas. Na verdade trata-se de uma longa faixa de praia, subdividida
apenas administrativamente. Os nomes das praias, a partir da divisa com
São Vicente, em direção à Mongaguá,
são: Canto do Forte, Boqueirão, Guilhermina, Aviação,
Vila Tupy, Ocian, Mirim, Caiçara, Flórida, e Solemar.
Dentro de seus
domínios encontram-se partes do Parque Estadual da Serra do Mar
e do Parque Estadual Xixová –Japuí. O primeiro possui uma
área de 45,31 km², correspondendo a 31,25% da área do
município, e o segundo ocupa 5,54 km², ou seja, 2,10% de Praia
Grande.
A população
residente em 2000 (IBGE, 2003) era de 193.582 habitantes, e a projeção
populacional para 2003 (SEADE, 2003) foi de 215.556, considerando-se uma
taxa geométrica de crescimento anual da população
no valor de 3,70. O crescimento populacional verificado na década
de 1970 diminuiu nas duas décadas seguintes, e, comparando-se o
valor agora adotado para a taxa de crescimento, verifica-se que é
esperada uma diminuição ainda maior para os próximos
anos. Esta afirmação pode ser verificada na tabela
3.10, inserida a seguir.
Tabela
3.10
TAXA
GEOMÉTRICA DE CRESCIMENTO ANUAL
|
PERÍODO
|
T.G.C.A.
|
1970-1980
|
12,85%
|
1980-1991
|
05,88%
|
1991-2000
|
06,27%
|
Fonte:
SEADE, 2003 Elaboração: PMPG, 2003. |
Economicamente,
Praia Grande vive do turismo relacionado ao comércio e à
infra-estrutura necessária para atender a esta população
flutuante, como o mercado da construção e serviços
públicos. Não possui uma grande rede hoteleira como os municípios
de Santos e Guarujá devido ao grande número de condomínios
de pequenos apartamentos e de colônias de férias. A
população flutuante varia de 3000.000 pessoas nos finais
de semana a 1.500.000 na alta temporada de verão.
De acordo com
os dados levantados pela SEADE (2003), no ano de 2000 o abastecimento de
água atendia a 98,18% da população, e a coleta de
lixo a 99,07% dos domicílios.
O esgotamento
sanitário é um grave problema encontrado no município.
A rede coletora de esgoto não é suficiente para atender a
população, residente e flutuante, apesar dos investimentos
realizados nos últimos anos. A tabela 3.11
mostra a situação nos anos de 1994 e de 2001.
Tabela
3.11
SERVIÇOS
DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO – Praia Grande
|
|
Dez.
1994
|
Dez
2001
|
Índice
de Atendimento Coleta de Esgotos (%) |
32
|
43
|
Índice
de Tratamento dos Esgotos Coletados (%) |
90
|
100
|
Número
de Ligações de Esgoto |
10.395
|
18.592
|
Número
de Sistemas de Tratamento de Esgotos |
-
|
2
|
Fonte:
SABESP, 2003 |
A rede de drenagem
é composta por aproximadamente 62 quilômetros de canais, distribuídos
por toda a Cidade. São utilizados canais abertos e fechados que
recebem as águas pluviais provenientes dos bueiros, desaguando nos
Rios Branco, Preto e Piaçabuçu.
A rede de drenagem
também possui um sistema de interceptores instalado embaixo da maior
parte da avenida da praia, cujas tubulações recebem água
das diversas ruas próximas à praia transportando-as para
os dois emissários submarinos da Sabesp (Forte e Tupi), onde o material
é tratado e lançado em alto-mar.
Interligado
à situação de saneamento básico, encontra-se
o índice de déficit habitacional no município. Em
abril de 2002 a administração municipal registrava um déficit
estimado em torno de 2,8 mil famílias, atribuindo este fato ao número
de novos moradores de baixa renda, provenientes de outros municípios
da Baixada Santista. Além de a administração tentar
diminuir este déficit com a construção de moradias
populares, e neste caso específico há a carência de
áreas disponíveis para este tipo de empreendimento, também
realiza um controle de contenção de invasões (CIDADE...,
2002).
Em maio de
2003, pouco mais de um ano dos dados retro citados, Praia Grande apresentava
uma demanda reprimida de seis mil unidades habitacionais, segundo os cálculos
realizados pela Secretaria Municipal de Obras Públicas. Nesta ocasião,
a Prefeitura apontava como maior preocupação sobre esta questão,
a situação de 600 famílias que ocupavam áreas
de risco, sobre mangues e nas margens do Rio Negro e Rio Itinga. Constava
para esta data também, o levantamento de cerca de mil famílias,
moradores da Favela Caieiras, que aguardavam a regularização
de seus lotes (DÉFICIT..., 2003).
3.2.7.3
- Quadro e Política Ambiental
A estrutura
administrativa do executivo municipal de Praia Grande conta com uma Secretaria
de Urbanização e Meio-Ambiente, e inserida nesta, o Departamento
de Meio-Ambiente, órgão que respondeu ao questionário
desta pesquisa. Sua estrutura compõe-se de uma sala e três
técnicos.
De acordo com
as informações recebidas, a administração municipal
considera como principal problema ambiental em seu território o
aterro de áreas de preservação permanente (mangue)
para a construção de barracos. O Departamento de Contenção
de Invasão, outro braço da SEURB, é o órgão
responsável pelo controle das invasões, realizando fiscalização
diária e contínua. Não são elaborados e divulgados
documentos a respeito destas invasões, existindo somente relatórios
a respeito da quantidade de moradias de madeira demolidas.
Existem atualmente
dois programas ambientais em andamento: a recuperação ambiental
de uma área contaminada com produtos tóxicos, provenientes
de uma aciaria desativada, e o programa "Esgoto Certo". Este programa é
desenvolvido em parceria com a SABESP e com os estagiários de uma
escola técnica de Mongaguá, e possui como objetivo principal
melhorar a balneabilidade das praias do município.
Foi dividido
em três etapas. A primeira, já realizada, constou da fiscalização
de todas as edificações verticais multifamiliares, localizadas
nas áreas que possuem encanamento de esgoto. A segunda etapa, em
andamento, está promovendo a fiscalização dos edifícios
que não se localizam na área esgotada, e que, portanto, devem
possuir fossa e filtro anaeróbico, e caixas de gordura. Na terceira
etapa serão abrangidos os estabelecimentos comerciais e as residências
unifamiliares.
Em projeto
existem dois programas, ambos em fase de formatação de Projeto
de Lei. Um é direcionado ao destino adequado dos resíduos
provenientes da construção civil, em atendimento à
Resolução CONAMA 307, e o segundo à obrigatoriedade
de captação de águas pluviais nas edificações
novas.
A Educação
Ambiental, que antes era de competência do Departamento de Meio-Ambiente,
passou a ser vinculado à Secretaria de Educação a
partir do ano de 2002, estando inserido na proposta pedagógica da
grade escolar.
Até
o início do ano de 2004, os resíduos sólidos coletados
no município eram descartados no Lixão Municipal do Jardim
da Glória, situado às margens da Av. dos Trabalhadores, próximo
a áreas densamente povoadas. Com uma área de 150 mil m²,
o Lixão da Glória estava ativo há 30 anos, e já
estava avançando sobre o manguezal que circunda a área, contaminando
o lençol freático e os cursos d’água localizados no
entorno, quando foi condenado pela CETESB e pelo Ministério Público,
que exigiram a sua extinção.
Os resíduos
passaram a ser levados para um aterro sanitário na cidade de Mauá,
região do ABC, enquanto no antigo Lixão foi construída
uma unidade de transbordo. Já foi escolhida uma área para
a implantação de um aterro sanitário, dentre algumas
áreas determinadas pela CETESB. Situada na Fazenda Rio Branco, próxima
à Serra do Mar, prevê-se um prazo de três anos para
o licenciamento ambiental, construção da estrutura e início
das atividades (LIXÃO deve..., LIXÃO do..., DESATIVAÇÃO
de ..., 2003).
O Conselho
Municipal de Meio-Ambiente foi criado pela Lei nº 882, de setembro
de 1994, recebendo novo tratamento através da Lei 1108 de dezembro
de 2000. Caracterizado como órgão autônomo e deliberativo,
está por força de lei vinculado ao Prefeito. Apesar da lei
instituir as diretrizes básicas e as atribuições do
Conselho, não houve promulgações posteriores a ela,
com a nomeação de seus componentes, não estando, portanto,
em atividade.
O Plano Diretor
da Estância Balneária de Praia Grande foi instituído
através da Lei Complementar nº 152, em 26 de dezembro de 1996,
constando em sua ementa que se refere ao período de 1997 a 2006.
Definido como o instrumento básico da política de desenvolvimento
urbano em seu artigo primeiro, relaciona os planos temáticos de
conservação ambiental como uns dos seus instrumentos de implementação.
Dedica o Título
V à Política de Desenvolvimento Ambiental, dividindo-o em
cinco capítulos, que tratam, além dos princípios e
diretrizes gerais, das áreas de especial interesse ecológico
(mangue, Serra do Mar, Morro do Xixová, e restinga), das áreas
degradadas, do licenciamento ambiental, e da educação ambiental.
Transcreve-se
a seguir o artigo 39, por se considerar relevante para o quadro do posicionamento
deste município em relação às preocupações
ambientais, estando de acordo com as diretrizes que norteiam o desenvolvimento
sustentável.
ART. 39 – São
princípios básicos da política ambiental no Município
de Praia Grande:
I – a multidisciplinariedade
no trato das questões ambientais;
II – a integração
com as políticas ambientais regional, estadual e federal e demais
ações do governo;
III – a participação
comunitária na defesa do meio-ambiente;
IV – a prevalência
do interesse público nas decisões sobre questões ambientais; V – a racionalização
do uso do solo, água e ar;
VI – a proteção
dos ecossistemas, através da preservação e manutenção
de áreas representativas;
VII – a conciliação
da conservação ambiental coma as demandas do desenvolvimento
social e econômico da sociedade.
O PD encontra-se
em processo de revisão pela Secretaria de Planejamento, com vista
a incorporar os instrumentos urbanísticos do Estatuto da Cidade.
Praia Grande
não possui uma Agenda 21 Local, não tendo posição
a respeito da implantação do processo. |