CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE II - Capítulo 3 (cont.)
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
3.2.6 -
Município de Peruíbe
3.2.6.1
- História
A
aldeia dos índios Perohybe já existia desde antes
da chegada de Martim Afonso de Souza. As primeiras notícias datam
de 1532, quando Pero Corrêa pediu a confirmação de
suas terras à Martim Afonso de Souza, dizendo já estar desde
1542 ocupando as mesmas.
Em 1549 chegaram
os primeiros padres para iniciar a catequese dos indígenas. O padre
Leonardo Nunes, chamado pelos índios de Abarebebê, converteu
Pero Corrêa, que libertou todos os índios, e auxiliou na construção
da capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. No ano de
1593 Pero Corrêa doou sua propriedade, a fazenda na praia de Peruíbe,
à Companhia de Jesus, e a partir de 1640 a aldeia passou a ser conhecida
como Aldeia de São João Batista, visto ser uma aldeia missionária.
No último
quarto do século XVIII, a Aldeia de Peruíbe passou a ter
uma produção para comércio de chapéus de palha,
esteiras e fios de tucum, tendo sido registrados conflitos entre os índios
e os religiosos sobre a destinação dos proventos advindos
deste trabalho.
No início
do século XIX, os religiosos franciscanos abandonaram a Aldeia,
levando os equipamentos que beneficiavam a sobrevivência dos índios,
como os carros de boi e ferramentas. Em 1829 os vereadores de Itanhaém
informaram ao Presidente da Província de São Paulo que a
única freguesia (local com maior concentração de moradores)
existente no município, a Aldeia de São João de Peruíbe,
estava em estado de completo abandono, e sem condições de
ser elevado à condição de Vila. A extinta Aldeia,
contava em 1830, com apenas 62 habitantes distribuídos por 20 habitações.
O avanço
comercial em Peruíbe só se iniciou na década de trinta
por ocasião da crise cafeeira que implicou numa diversificação
agrícola, aliada a uma liberação da força de
trabalho.
O cultivo da
banana na região iniciou-se em 1927, e na década de 50 houve
um aumento da atividade imobiliária, passando a receber novos investidores
no comércio. A partir de 1960 a bananicultura passou a ser considerada
como a principal linha produtiva, seja em área cultivada, em valor
da produção, em consumo de bens capital, seja em mão-de-obra.
A ocupação
turística em Peruíbe aumentou a partir dos anos 50 em função
do aumento da procura pelas praias paulistas e com a melhoria nas condições
de tráfego da área: conclusão da BR-116 na década
de 60, das duas pistas da Via Anchieta, terminadas em 1947 e em 1950, e
da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, também na década
de 60. Com o desenvolvimento da função turística ocorreu
uma valorização das terras da área, resultando na
expulsão dos moradores localizados nas proximidades da orla marítima
para a região da serra, e, proporcionando também, a instalação
de sítios de lazer na região.
3.2.6.2
- Caracterização
O Município
de Peruíbe possui uma extensão territorial de 358,3 km²,
fazendo limites com Iguape ao sul, Itanhaém ao Norte, Itariri e
Pedro de Toledo a Oeste, e o Oceano Atlântico a Leste. A figura
3.17 mostra a localização geográfica de Peruíbe
no espaço da RMBS.
Figura
3.17: Localização de Peruíbe na RMBS Fonte: CETESB,
2003b.
De acordo com
o Censo 2000 (IBGE, 2003), o município apresentava uma população
fixa de 51.451 habitantes, sendo a população urbana de 50.370
pessoas e a rural de 1.081 habitantes. A projeção elaborada
pela SEADE (2003) para o ano de 2003 apontou uma população
de 57.282 habitantes, com uma taxa de urbanização de 98,04%.
A população flutuante nas temporadas de férias é
estimada em 300.000 pessoas.
A tabela
3.8 apresenta o crescimento populacional de 1991 a 2003, podendo ser
observado o elevado crescimento populacional deste município.
Tabela
3.8
EVOLUÇÃO
DA POPULAÇÃO RESIDENTE EM PERUÍBE
|
Ano
|
População
Residente
|
1991
|
32.773
|
1996
|
41.398
|
2000
|
51.451
|
2003
|
57.282?
¹
|
Fonte:
SEADE, 2003 1 –
taxa geométrica de crescimento = 3,79 |
Os índices
apresentados pela SEADE (idem) em relação ao saneamento básico
existente no ano de 2000 mostram uma deficiência no serviço
de coleta do esgoto sanitário, conforme pode ser verificado na tabela
3.9, abaixo.
Tabela
3.9
SANEAMENTO
BÁSICO – PERUÍBE – ANO DE 2000
|
Serviço
|
Nível
de Atendimento
|
Abastecimento
de água |
89,11
%
|
Esgoto Sanitário |
9,26 %
|
Coleta de
Lixo |
96,74
%
|
Fonte:
SEADE, 2003 |
Peruíbe
também tem sua economia direcionada para o turismo. Trata-se de
uma cidade balneária onde grande parte das residências é
caracterizada como segunda moradia. Também possui uma área
ocupada pela bananicultura, que ocupa 1.718 hectares.
Seu relevo
é composto por uma extensa planície litorânea e uma
região predominantemente montanhosa, recuada da linha costeira.
Apresenta variações de altitude com altas declividades.
Em relação
ao uso e ocupação do solo observa-se que toda a faixa mais
próxima ao mar já se encontra urbanizada, assim como as áreas
mais próximas ao centro da cidade, com uma tendência de expansão
em direção à Serra do Mar. A figura
3.18 permite visualizar uma parte da orla marítima, revelando
sua ocupação por edificações de baixa altura.
Figura
3.18: Vista aérea da orla de Peruíbe Fonte: Prefeitura
Municipal de Peruíbe, 2003.
3.2.6.3
- Quadro e Política Ambiental
Peruíbe
é o único município da RMBS que possui um documento
intitulado de Plano Diretor de Meio-Ambiente e Recursos Hídricos.
Visto a grande maioria das respostas ao questionário proposto fazerem
menção ao mesmo, ou redirecionarem para este documento, optou-se
iniciar este item por uma explanação sobre o mesmo.
O Plano Diretor
de Meio-Ambiente foi elaborado pela ENGEFOTO, empresa de engenharia e aerolevantamento
sediada em Curitiba, com recursos financeiros provenientes do FEHIDRO.
Apresenta como meta principal a implementação do referido
Plano como instrumento de gestão para a política ambiental
do Município, e, para atingir este objetivo, estrutura o documento
em três partes: a caracterização do quadro ambiental
de Peruíbe, um macro-zoneamento ambiental e, por último,
a apresentação de subsídios para a recuperação
da bacia hidrográfica do Rio Preto.
O capítulo
dedicado à caracterização do quadro ambiental discorre
sobre o clima, formas de relevo, geologia e solos, finalizando com um mapeamento
de vegetação e uso do solo, e um resumo da legislação
ambiental, a nível federal e estadual, aplicável ao município.
O zoneamento
ambiental proposto constitui-se no estabelecimento de parâmetros
de uso e ocupação do solo, ressaltando-se o seu caráter
preliminar, visto prever-se sua alteração em um curto espaço
de tempo devido à conciliação com os interesses econômicos
e com os ideais ecológicos e sociais, como a proteção
da flora e fauna locais e as preocupações concernentes às
invasões. Coloca-se o macro-zoneamento projetado como um parâmetro
ou como um instrumento auxiliar para a atuação das instituições
que operam na área. O território de Peruíbe foi dividido
em dez zonas, a saber:
Zona
de Preservação Permanente – Várzea: compreende as
formações pioneiras com influência fluvial, características
da planície litorânea;
Zona
de Preservação Permanente – Mangue ou Campo Salino: compreende
os ambientes salobros, situados em desembocaduras de rios e regatos do
mar;
Zona
de Preservação Permanente – Restinga: compreende formações
pioneiras, com influência direta das águas do mar;
Floresta
Atlântica;
Zona
de Controle e Recuperação Ambiental – mineração:
apresenta uso intensivo por atividades mineradoras;
Zona
Prioritária de Regularização Fundiária: corresponde
ao Loteamento Guaraú, área de preservação invadida
e que apresenta densidades consideradas inadequadas pelo planejamento municipal;
Zona
de Recuperação e Desenvolvimento da Bacia do Rio Preto;
Zona
de Valorização Urbana da Orla: refere-se à faixa de
ocupação ao longo da orla marítima, considerando a
extensão total e mais duas quadras para o interior do continente.
Sugere-se a implementação de infra-estruturas de valorização
paisagística;
Zona
de Ocupação Urbana: compreende a mancha de ocupação
urbana existente, legal e ilegal;
Unidades
de Conservação: abrange as três Unidades de Conservação
existentes no Município, a saber, Estação Ecológica
Juréia-Itatins, Área de Proteção Ambiental
Cananéia-Iguape-Peruíbe, e Parque Estadual da Serra do Mar.
A bacia hidrográfica
do Rio Preto está localizada na área central de Peruíbe
podendo ser visualizada na fig. 3.19 a seguir.
Figura
3.19: Localização da Bacia do Rio Preto Fonte: ENGEFOTO,
2003.
É considerada
de relevante importância para a administração municipal,
tendo sido objeto específico no contrato firmado para a elaboração
do PDMA. A proposta formulada para esta área pela ENGEFOTO consta
de nove projetos, observando-se que os autores inseriram uma ressalva de
que todos os projetos são de caráter preliminar, necessitando
de detalhamento, e sujeitos à discussão pelo corpo técnico
da Prefeitura e pelos representantes da comunidade.
Trata-se realmente
da discriminação de nove áreas de atuação
para a bacia, compondo-se, cada uma delas, de diretrizes e ações.
São eles:
Projeto
de Revegetalização; Projeto
de Monitoramento Hídrico; Projeto
de Ecoturismo; Controle
das Atividades de Extração Mineral; Valorização
da foz do rio Preto; Relocação
de invasores em Áreas de Preservação Permanente; Revegetalização
e equipamentação de Faixa de Domínio; Arborização
Urbana; Capacitação
de funcionários.
Este Plano
Diretor Ambiental não pode ser caracterizado como um documento legal,
visto não haver passado pelo corpo legislativo municipal e por audiências
públicas. Compõe-se de uma mescla de um sucinto inventário
ambiental, com sugestões de ações para uma área
específica, considerada de maior importância pelo executivo
municipal.
Peruíbe
conta com um Departamento de Meio-Ambiente (DMA), caracterizado como secretaria
municipal, e foi este o Departamento solicitado para colaborar na presente
pesquisa.
A administração
municipal considera que os maiores problemas ambientais do município
são:
a
poluição dos Rios Preto e Branco, devido ao descarte de resíduos
pela população ribeirinha;
as
condições de degradação da vegetação
natural nas margens destes mesmos rios, e,
a
visitação desordenada na Estação Ecológica
Juréia-Itatins nas épocas de alta temporada.
Maiores dados
a respeito dos dois primeiros problemas citados são os encontrados
no PDMA, não existindo outros documentos sobre o assunto. Com o
objetivo de sanar estes problemas, são desenvolvidos programas de
plantio de mudas nativas às margens do Rio Preto, e mutirões
de limpeza nos bairros que são cortados por este rio, além
do "Programa Rio Limpo", em parceria com a ONG Sol da Juréia e a
Polícia Ambiental, envolvendo os estudantes das escolas locais com
visitas ao mangue e leitura de cartilhas especialmente elaboradas para
a conscientização do público-alvo.
A Educação
Ambiental é desenvolvido pelo DMA em parceria com a rede escolar
municipal, estadual e privada, através da implantação
do projeto "Cidadão Consciente – Cidade Limpa", que tem como metodologia
ministrar palestras na rede escolar, apresentando o funcionamento da coleta
municipal de resíduos sólidos e o Aterro Sanitário.
Os resíduos
sólidos são despejados em um Aterro Sanitário Municipal
implantado em 1989. Até o ano de 2001, tanto os serviços
de coleta, quanto os de controle do aterro, eram terceirizados. A partir
desta data os serviços foram municipalizados, passando à
responsabilidade conjunta do DMA e do Departamento de Obras e Serviços
Municipais, através da Divisão da Coleta Municipal.
Os resíduos
provenientes de serviços de saúde são coletados e
transportados em veículos apropriados para uma empresa na cidade de Mauá, onde são incinerados. Apesar de
Peruíbe contar oficialmente com um Conselho de Meio-Ambiente, o
mesmo não se encontra em atividade por estar em processo de reestruturação,
não havendo informações sobre o estágio deste
processo.
O documento
oficial intitulado como Plano Diretor do Município e promulgado
pela Lei nº 733/79, trata da legislação do planejamento
e uso do solo, assim como das normas aplicáveis às construções.
Pode ser interpretado como a junção de uma lei de zoneamento
e uso do solo, com um código de obras. Não faz nenhuma referência
a outra área temática. Constam várias alterações,
em artigos diversos, com acréscimo e supressão de outros,
por meio de leis complementares até dezembro de 2002.
Focando na
temática do meio-ambiente, a única pauta que recebe normas
específicas é quanto à disposição dos
resíduos, de qualquer natureza, proibindo-se de que sejam lançados
em cursos d’água ou diretamente na atmosfera, conforme o tipo de
resíduo, sem a prévia autorização da CETESB.
Ainda não incorporou os instrumentos urbanísticos instituídos
pelo Estatuto da Cidade.
Em relação
aos impactos esperados no Município com a abertura da segunda pista
da Rodovia dos Imigrantes, o DMA se preocupa com o crescimento da demanda
para visitação nas Unidades de Conservação,
e com o aumento dos resíduos domiciliares.
Peruíbe
não conta com uma Agenda 21 Local, e não se pronunciou
a respeito das pretensões de iniciar ou não um processo da
mesma. |