CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE II - Capítulo 3 (cont.)
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
3.8.3 -
Agenda 21 Regional
Por
iniciativa de algumas organizações da sociedade civil foi
realizado em junho de 2001 o "I Congresso Nacional de Consciência
Ambiental – Construindo a Agenda 21 Regional", tendo conseguido
o apoio de empresas estatais durante o processo que antecedeu o evento.
O objetivo
primordial foi o de mobilizar os órgãos públicos e
a sociedade civil organizada, para a elaboração e implementação
de ações integradas, com vistas ao desenvolvimento sustentável
da RMBS.
Para o encerramento
do Congresso foi organizada uma plenária, onde se pretendia contar
com a participação dos nove Secretários do Meio-Ambiente,
de modo a promover uma ampla discussão com a sociedade sobre a formação
da Agenda 21 Regional.
Porém,
somente os representantes de Santos, Cubatão, Peruíbe e Praia
Grande compareceram, enquanto que São Vicente, Bertioga, Guarujá,
Mongaguá e Itanhaém ignoraram a reunião.
Apesar destas
ausências, foram apresentadas várias questões por diversos
representantes de ONGs, respondidas pelos Secretários presentes.
Não foi elaborado um documento final destas discussões conforme
havia sido divulgado no início dos trabalhos, perdendo-se um importante
registro oficial dos anseios e preocupações da sociedade.
A seguir são listadas algumas das observações e reivindicações
formuladas pela comunidade neste evento, fruto das anotações
pessoais da autora:
realizar
novo seminário com a participação dos representantes
dos nove municípios devido à relevância do assunto;
implantar
em todos os municípios de programa similar ao troca-treco
realizado em Santos, de modo a colaborar com a não deposição
de resíduos nos logradouros públicos;
realizar
anualmente um seminário regional sobre meio-ambiente, com palestras
de especialistas;
instituir
e ativar o COMDEMA em todos os municípios;
instalar
de um fórum permanente sobre questões ambientais regionais;
instituir
a educação ambiental nos currículos escolares, permeando
todas as atividades das escolas;
agregar
os jovens na construção da Agenda 21;
ampliar
as vagas para estagiários nos programas ambientais;
realizar
fórum itinerante, de modo a viabilizar a participação
das comunidades dos nove municípios;
incentivar
a população a ampliar a participação nas discussões
da Lei de Diretrizes Orçamentárias dos diversos municípios,
visando obter dotações para projetos ambientais;
criar
grupos de trabalho por temática, de modo a otimizar as discussões
e ações;
desenvolver
programas de educação ambiental junto com as universidades
da região;
lançar
campanha educativa como meio de sensibilização da população;
inserir
os grupos de terceira idade nos fóruns a serem implantados;
viabilizar
economicamente as ONGs locais para o desenvolvimento de grupos de trabalho
voltados à captação de recursos externos à
região: estadual, federal e iniciativa privada;
criação
de uma Universidade Metropolitana do Meio-Ambiente.
A partir de
entendimentos entre as pessoas que organizaram o Congresso formou-se um
Grupo Gestor para o denominado "Programa Consciência Ambiental –
Construindo Uma Agenda 21 Regional", composto inicialmente por 17 entidades,
a saber:
ABES
- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental; Associação
TUIM – Proteção e Educação Ambiental; CATI
– Coordenadoria de Assistência Técnica Integral; CETESB
– Agência de Santos; Clube
Soroptimista Internacional de Santos; FORJA
21 – Fórum Juvenil da Agenda 21; IBAMA
– Escritório Regional Santos; Instituto
Topos; Núcleo
Regional de Educação Ambiental da Baixada Santista - SEMA, OAB
Santos – Comissão de Meio-Ambiente; Prefeitura
Municipal de Santos – SEMAM; Programa
de Jovens - Núcleo de Educação Ecoprofissional – Santos; Rede
Cidadania; SABESP; SESC
Santos; Soroptimist
Internacional Santos – Praia; SOS
Praias e Desenvolvimento Sustentado.
Em documento
formatado em agosto de 2001, a respeito do "Programa Consciência
Ambiental", o Grupo Gestor (GG) propôs a elaboração
de um plano estratégico participativo que permita a implementação
da Agenda 21 Regional, conciliando o desenvolvimento sustentado
com a vantagem sustentada.
A primeira
atividade deste Grupo Gestor foi denominada "Evento de Partida". Tratou-se
da promoção de um Seminário, no mês de outubro
do mesmo ano, com a presença de representante da Agenda 21 Nacional
pelo Ministério do Meio-Ambiente. Foi organizado com a intenção
de agregar novas organizações e indivíduos na construção
da Agenda.
Em matéria
publicada no jornal local A Tribuna antes do evento, foi registrado
que a intenção do Grupo era a de buscar um modelo abrangente
de gestão regional, participativa e descentralizada, que integrasse
as dimensões sócio-econômicas, políticos-institucionais,
culturais e ambientais, através de um documento prático e
operacional.
O evento não
produziu o objetivo almejado e em dezembro de 2001 foi organizado um Painel
de Debates sobre a Agenda 21 Regional, novamente buscando sensibilizar
a comunidade sobre a importância da implantação da
Agenda como uma alternativa para assegurar, às futuras gerações,
um modelo de gestão que contemple a qualidade de vida e do meio-ambiente.
Nesta oportunidade apresentaram palestras sobre duas experiências:
a de Santos e a de Santo André.
No dia 05 de
junho de 2002, Dia Internacional do Meio-Ambiente, foi realizado outro
encontro para o qual foram convidados representantes dos diversos municípios.
Na ocasião foi apresentado o "Projeto de Concepção
e Ações Básicas".
A mais alta
autoridade presente foi o Secretário de Obras e Meio-Ambiente do
município de São Vicente. Peruíbe, Cubatão
e Guarujá enviaram representantes, enquanto Santos não se
encontrava
presente apesar de compor o GG. Apesar dos insistentes pedidos formulados,
o representante de São Vicente não se prontificou a designar
um representante oficial para acompanhar os trabalhos, mas, colocou-se
à disposição para reuniões em seu gabinete.
O referido
Projeto apresentou como princípio básico a harmonização
da relação entre o indivíduo e o meio, a partir de
intervenções na gestão de conflitos e de estímulo
à visão futura nas comunidades que integram a Região.
Foram apresentadas as seguintes etapas para a construção
da Agenda 21 Regional:
Levantamento
sócio ambiental através de Analise Situacional: a ser
realizado através de estudos básicos e temáticos em
torno de temáticas semelhantes às que compõem a Agenda
21 Brasileira, isto é, Cidades Sustentáveis, Agricultura
e Pesca Sustentáveis, Infra Estrutura de Integração
Regional; Gestão de Recursos Naturais, Redução das
Desigualdades Sociais; Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Sustentável;
Aplicação
de métodos de análise prospectiva: através de
equipe preparada para atuar em processo estimulação de construção
do futuro, serão levantadas as principais fontes de satisfação
e insatisfação das comunidades em oficinas de discussões;
Identificação
de ações práticas e operacionalizáveis:
a partir dos levantamentos das duas fases anteriores, definir as ações
que possam propagar qualidade de vida e sustentabilidade dos recursos,
a nível local e regional, para um cenário inicial de 10 anos;
Elaboração
de uma Agenda 21 Regional: redação de documento que traduza
as intenções, compromissos e desejos de mudanças da
comunidade regional.
A discussão
sobre os diversos recursos necessários, políticos, cognitivos,
organizativos e econômicos, também foi contemplada neste documento.
Destaca-se
aqui que recursos políticos foram considerados como competências
do GG para a orientação das ações e acompanhamento
dos avanços, não fazendo alusão às organizações
públicas executivas e legislativas dos municípios.
Como fatores
críticos para o sucesso dos projetos que viessem a ser contemplados
dentro desta ação foram destacados: a eficácia dos
recursos adotados, a eficiência da equipe gestora, o envolvimento
da comunidade, o apoio dos meios de comunicação e a adesão
dos patrocinadores.
A apresentação
deste Projeto foi contemplada com pequena divulgação da mídia
escrita na fase anterior ao evento, e nenhuma após a realização
do mesmo. Os representantes municipais presentes limitaram-se a se colocar
à disposição do GG para futuras reuniões, sem
entrar em discussão uma participação mais efetiva
no processo como um todo.
As reuniões
semanais que continuaram após o evento, passaram a contar com a
presença de mais algumas organizações da sociedade
civil que se interessam pelo processo devido a seus antecedentes na luta
ambiental, e levantou a problemática da inclusão formal destas
no contexto. Iniciou-se então um trabalho mais profundo sobre a
Estrutura Organizacional, que culminou com a identificação
dos atores, indivíduos ou organizações, dentro de
um organograma, conforme exposto a seguir:
Fig. 3.32:
Organograma Proposto. Fonte: GG
Ag21R, 2002.
Os grupos ficaram
assim identificados:
Fórum
Regional Comunitário: espaço superior de identificação
de eixos de ação, com ocorrência periódica na
Região. Representa o órgão máximo de identificação
de expectativas;
Grupo
Gestor: responsável pela logística do Programa e responsável
por agregar atores sociais ao processo, assim como desencadear a mobilização
comunitária;
Grupo
de Apoio: fonte de subsídios práticos na orientação
do Programa, composto por atores que demonstrem interesse espontâneo
na efetiva participação do processo, podendo vir a compor
o Grupo Gestor, dependendo da atuação.
Secretaria
Executiva (Rede Cidadania): entidade organizadora e executora, responsável
pela sistematização das diversas atividades;
Grupo
de Impulsão: função de viabilizar na prática
as propostas definidas pelos demais segmentos organizacionais, serão
integrados ao sistema dependendo das decisões e diagnósticos
levantados.
A partir destas
definições foi preparado um segundo documento, intitulado
"Projeto de Organização e Captação de Recursos",
tendo sido apresentado à comunidade em 28 de agosto de 2002. Este
novo evento também contou com pouquíssima divulgação,
e apresentou um comparecimento mínimo da comunidade. Desta vez,
em termos políticos, só houve a presença da Prefeitura
de Santos, que havia retornado ao processo depois de um longo afastamento.
De positivo, conseguiu o interesse de mais algumas organizações
da sociedade civil.
O passo seguinte
que consistia da efetiva busca de recursos financeiros para viabilizar
a continuidade dos trabalhos, como um espaço físico próprio,
dotado de infra-estrutura adequada como secretária, telefone, computadores,
etc..., organização do Fórum Comunitário e
divulgação da construção da Agenda,
buscando agregar novos atores, deparou-se com um problema burocrático
e jurídico de legalizar os trabalhos e participações.
Neste momento,
houve uma paralisação das discussões em torno de ideais
e projetos, partindo-se para a elaboração de um Regimento
a ser legalmente registrado. Foram escolhidas algumas pessoas do GG para
formatá-lo, com o objetivo de agilizar o processo, paralisando as
reuniões gerais. O término do documento coincidiu com o final
do ano, época não considerada propícia por todos para
a continuidade dos trabalhos, ficando postergados para o ano de 2003.
O GG voltou-se
a reunir a partir de março de 2003, agora não mais com a
infra-estrutura espacial da Rede Cidadania. As primeiras reuniões
foram realizadas na sede do SESC - Santos, e posteriormente na sede da
Associação TUIM, que acabava de se associar à ONG
Oikos Mundi.
Com o Regimento
finalizado, mas ainda não registrado, as discussões retornaram
para o campo das ações a serem implementadas. Devido à
impossibilidade da Rede Cidadania continuar com a proposta de assumir a
Secretaria Executiva, a Associação Tuim apresentou-se como
interessada, e na data de 09 de abril expôs sua proposta dentro de
uma visão de Planejamento Estratégico, com uma gestão
de objetivos, em contraponto à idéia anterior que era a de
uma gestão por projetos.
Outra idéia
importante defendida foi a inclusão de um Grupo de Municípios,
onde estariam representados todos os poderes públicos, executivo,
legislativo e judiciário, dos nove municípios. As reuniões
seguintes foram destinadas a discutir os diversos pontos da proposta, com
o objetivo de oficializar a nova Secretaria Executiva dentro dos parâmetros
legais, viabilizando assim a elaboração de projetos para
a busca de recursos financeiros imprescindíveis à implementação
do processo de construção da Agenda 21 Regional.
Entre as várias
ações em discussão nesta nova fase, para serem implementadas
a curto e médio prazo, dependentes quase exclusivamente de aportes
financeiros destacaram-se: conscientização da população
através de inserções de textos educativos sobre o
assunto, na mídia escrita da região; realização
de palestras nos diversos municípios, com a finalidade de transmitir
o conhecimento sobre a importância da construção de
uma Agenda 21 Local e Regional, conscientizando a comunidade e ampliando
o número de agentes multiplicadores; organização de
um Fórum Regional Comunitário, com o objetivo de levantar
os anseios da comunidade metropolitana de uma forma integrada.
As discussões
a respeito de detalhes do contrato a ser assinado, pela entidade que pretendia
assumir a Secretaria Executiva com as demais entidades, mostrou a inviabilidade
jurídica da questão. Em setembro de 2003 foi deliberado que
era necessário rever todo o processo, optando-se por paralisar estas
negociações. Decidiu-se
então que o grupo deveria se engajar no processo do Fórum
da Cidadania, que estava organizando pré-conferências temáticas
para embasar a Conferência Metropolitana da Cidadania - CONCIDADANIA,
a ser realizado em dezembro do mesmo ano.
Esta adesão
se daria com a organização de uma pré-conferência
específica sobre Agenda 21 Regional, considerando o evento
como um recomeço, onde se pretendia o engajamento de novas entidades,
uma maior divulgação do conhecimento específico sobre
Agendas
21 Locais, e, o início de uma discussão sobre a metodologia
de implantação a ser seguida na construção
da Agenda 21 Regional.
Formou-se uma
comissão organizadora para a viabilização do evento,
com algumas entidades do GG e com novas entidades interessadas. Agendado
para o dia 22 de novembro, contou com pouca divulgação na
mídia e pouquíssimos recursos financeiros. Realizado no auditório
cedido pela Universidade Paulista (UNIP), o evento foi dividido em dois
momentos.
No primeiro
momento foram realizadas quatro palestras: a primeira pelo representante
do Instituto Topos e Rede Cidadania, que discorreu sobre os conceitos básicos
de uma Agenda 21 Local e os trabalhos já realizados sobre
o assunto pelo Grupo Gestor; a segunda pelo diretor administrativo da AGEM,
que tratou da importância da integração metropolitana;
a terceira, pela ex-pesquisadora do ICLEI no Programa Comunidades Modelo,
que deu prosseguimento ao assunto iniciado na primeira palestra, aprofundando
sobre a metodologia de Agendas 21 Locais, e, finalmente, a quarta
palestra foi ministrada pelo representante da ONG Piracicaba 2010, coordenadora
da Agenda 21 Local da cidade de Piracicaba.
No segundo
momento, o pequeno público presente apresentou moções,
com o objetivo de serem levadas à Conferência final. Apesar
de terem sido convidados todos os Prefeitos e Secretários de Meio-Ambiente
dos nove municípios, não houve o comparecimento de nenhum
deles.
Durante este
evento, muitas entidades e pessoas físicas demonstraram vontade
de se engajarem no processo de construção da Agenda 21
Regional. Foi acertado pelos membros do Grupo Gestor presentes ao evento,
que seria organizada a última reunião do Grupo Gestor estabelecido,
com o objetivo de fechar os assuntos pendentes e preparar a reunião
seguinte, destinada a recepcionar os novos componentes e reiniciar o efetivo
processo de construção da Agenda 21.
Esta reunião
não ocorreu até o final do mês de fevereiro de 2004,
prazo determinado para o fim da pesquisa em pauta, não havendo conhecimento
de nenhum evento agendado para data posterior a esta.
O acompanhamento
das reuniões do GG como observadora permitiu que fossem observadas
algumas questões relativas ao padrão operacional, as quais
são listadas a seguir com o objetivo de embasar as discussões
sobre a experiência deste Grupo:
Organização
do grupo: logo no início dos trabalhos foram eleitos, entre os dezessete
representantes, um presidente e suplente, e, uma secretaria e suplente,
com as funções de direcionar os diversos trabalhos, assim
como registrá-los;
Freqüência
às reuniões: enquanto algumas entidades compareciam praticamente
a todas as reuniões, outras deixavam de enviar representantes por
meses;
Material
de base: poucas entidades se dedicaram a elaborar textos ou realizar pesquisas
para embasar as discussões. Os projetos eram elaborados por poucos,
e apresentados para os demais para discussão e reformulação;
Registros
de reuniões: não foram redigidas atas de todas as reuniões,
mesmo quando estavam presentes a secretaria eleita ou a suplente;
Comunicação
Interna: foi criado um grupo de endereço eletrônico para o
envio das atas, comunicados de reuniões, e assuntos diversos. Porém,
muitos membros do grupo não acessavam as mensagens enviadas, por
motivos diversos.
As reuniões
do GG foram sempre permeadas por algumas questões como: a falta
de recursos para viabilizar visitas aos diversos municípios, a dificuldade
em agregar os representantes das administrações municipais
ao processo, a sensibilização da comunidade com a implantação
da Agenda 21, a participação das universidades locais,
o papel do GG como orientador ou participante efetivo das ações,
a inserção de novos interessados em participar do movimento
dentro da composição pré-estabelecida, e, a real finalidade
da Agenda 21 Regional.
O objetivo
do GG foi colocado em discussão por diversas vezes, tendo sido definido
por consenso, posteriormente à divulgação do "Projeto
de Concepção e Ações Básicas", que era
o de viabilizar e apoiar a construção da Agenda 21 Regional,
envolvendo os diversos atores da sociedade, e, articulando o primeiro,
o segundo e o terceiro setor [1].
Porém,
destoando das definições de Agenda 21 Local, foi considerado
por alguns dos presentes, que a Agenda 21 Local é apenas
um documento orientador que aponta as questões a serem trabalhadas,
demonstrando que não havia um perfeito entendimento do trabalho
a que estavam se propondo.
NOTA:
[1]
Reunião de 11 de setembro de 2002. |