CÂMARA
E AGENDA 21 REGIONAL - PARTE I - Capítulo 2
Sílvia
de Castro Bacellar do Carmo
CAPÍTULO
2 AGENDA
21: INSTRUMENTO DE REFERÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
2.1 - Construção
da Agenda 21: Conceitos, Definições e Diretrizes.
2.1.1 -
Agenda 21 Global
A Agenda
21 foi considerada o documento mais importante produzido pela Conferência
"RIO-92". Caracteriza-se por ser um plano de ações estratégico,
composto de compromissos que os Estados participantes comprometeram-se
a implementar até o século XXI. Não é um documento
com vínculos legais, de caráter mandatário, que imponha
obrigações a seus signatários, dependendo de cada
um colocá-lo em prática ou não: trata-se da usualmente
denominada soft lawn (CAMARGO et al, 2002).
Busca a preservação
e recuperação ambiental, aliada à justiça social
e à eficiência econômica, sendo que estes três
vetores norteiam todas as diretrizes discutidas e acordadas.
A Agenda
21 Global é composta por 40 capítulos. Ao Capítulo
I, dedicado ao Preâmbulo, somam-se quatro seções:
Seção
I: Dimensões Sociais e Econômicas – Capítulos 2 a 8.
Discorre sobre a cooperação internacional para acelerar o
desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento,
o combate à pobreza, a mudança nos padrões de consumo,
a dinâmica demográfica, a saúde e a habitação;
Seção
II: Conservação e Manejo de Recursos para o Desenvolvimento
– Capítulos 9 a 22. Aborda os temas da proteção
da atmosfera, do planejamento e administração do solo, do
combate ao desmatamento das áreas florestadas, administração
de ecossistemas frágeis, do combate à desertificação,
da promoção da agricultura sustentável e desenvolvimento
rural, da conservação da diversidade biológica, da
biotecnologia, da proteção dos oceanos, da gestão
dos recursos hídricos, e da administração do uso dos
produtos químicos tóxicos e produtos radioativos;
Seção
III: Fortalecimento do Papel dos Grupos Principais – Capítulos 23
a 32. São tratados temas relacionados às minorias étnicas,
as mulheres, as crianças e os jovens os povos indígenas,
a definição de regras para atuação das Organizações
Não Governamentais (ONGs), o poder local, os trabalhadores e os
sindicatos, as regras para empresa e indústrias, a comunidade científica
e tecnológica, e as regras de atuação para os agricultores;
Seção
IV: Meios de Implementação – Capítulos 33 a 40.
Esta seção é dedicada aos mecanismos e recursos financeiros,
ao suporte e à promoção de acessos para a transferência
de tecnologia, à ciência para o desenvolvimento sustentável,
à promoção de educação ambiental, aos
mecanismos nacionais e internacionais de cooperação para
construção de capacidades em desenvolvimento sustentável,
aos arranjos institucionais internacionais, aos mecanismos e instrumentos
legais internacionais e à constituição de bases de
informações para as tomadas de decisões.
Importante
ressaltar que, segundo análise de Sato e Santos (1996), em todos
os capítulos a Educação Ambiental é destacada
como ação prioritária para alcançar os objetivos
almejados.
Essencialmente,
a Agenda 21 propõe uma alteração nos costumes
relacionados ao consumo de um modo geral, isto é, para as indústrias,
empresas, governos e indivíduos.
Segundo Franco
(2001), muitas das expectativas da Agenda não puderam ser levadas
adiante devido à crise econômica global, principalmente nas
questões da pobreza, emprego, saúde e habitação.
2.1.2 -
Agenda 21 Local
O conceito
de Agenda Local surgiu como uma estrutura de trabalho que viabilizasse
o engajamento dos governos locais nas decisões da "ECO-92", e foi
definido durante a fase preparatória para a Conferência, devido
a proposituras do ICLEI [1],
propiciando sua integração ao documento final, a Agenda
21.
Segundo o Ministério
do Meio-Ambiente (MMA) (2000), é um processo de desenvolvimento
de políticas para o alcance da sustentabilidade, cuja implementação
depende diretamente da construção de parcerias entre autoridades
locais e outros setores da sociedade. Através de uma metodologia
participativa, deve produzir um plano de ações para alcançar
objetivos desejáveis pela comunidade local, levando em conta as
vulnerabilidades e potencialidades da base econômica, social, cultural
e ambiental do local.
O Programa
de Comunidades Modelo do ICLEI, que promoveu assessoria em 14 municípios
dos cinco continentes, para a elaboração da Agenda 21
Local no período de 1993 a 1997, identificou algumas características
nos processos de construção das Agendas Locais, tais como:
dar
início ao processo com parcerias multi-setoriais que incluam todo
os setores da sociedade;
identificação
de recursos financeiros logo no começo do processo; comprometimento
com recursos da municipalidade;
estratégia
explícita de troca de informações com os cidadãos
locais;
respeito
do município pelas necessidades, prioridades e decisões dos
cidadãos;
envolvimento
de líderes políticos e da equipe no processo;
alinhamento
municipal das políticas e programas com a Agenda 21 Local durante
a evolução do processo;
não
dar início à Agenda 21 Local próximo a eleições
(PATTENDEN, 1997).
De uma maneira
geral, as Agendas 21 Locais enfrentaram o problema de se inserir
nas políticas predominantes, segundo o Instituto Internacional para
o Meio-Ambiente e o Desenvolvimento (IIED, 2001).
Por ocasião
da "Rio+5" em 1997, o ICLEI promoveu uma pesquisa internacional junto a
autoridades locais, objetivando mensurar o grau de implantação
de Agendas 21 Locais. O resultado mostrou um numero de aproximadamente
1.800 cidades que já haviam estabelecido um processo de planejamento
para tal.
Uma segunda
pesquisa foi apresentada por ocasião da "Rio+10", 2002, apontando
um crescimento das iniciativas locais: mais de 6.000 localidades distribuídas
num total de 113 países. Este levantamento foi realizado no período
de novembro de 2000 a dezembro de 2001, e tinha como meta, além
da avaliação numérica, um estudo sobre as restrições
enfrentadas pelas autoridades locais para a efetiva implantação
do processo de construção e implantação da
Agenda
21 Local, e dos documentos e suportes necessários para o seu
desenvolvimento e multiplicação [2].
Segundo as
recomendações do MMA (2000), o documento final elaborado
pelo processo de construção da Agenda 21 Local deverá
refletir uma estratégia particular, definida a partir dos parâmetros
e problemas locais, buscando o desenvolvimento sustentável, com
as seguintes características:
ser
claro e preciso;
identificar
as principais questões e metas a serem alcançadas, com estratégias
de ação de cada tema, de acordo com os entraves identificados
no diagnóstico elaborado durante o processo de construção
da Agenda;
relacionar
organizações e setores envolvidos;
definir
as responsabilidades de cada um;
estabelecer
prazos para as ações;
registrar
as formas de acompanhamento das ações e avaliações
de desempenho.
A elaboração
de uma Agenda 21 Local expressa na forma de um documento é
considerada como um indicador de qualidade urbana, na comparação
entre cidades, quando se trata de uma avaliação de qualidade,
segundo Zorzal (2001), no momento em que esta Agenda reproduzir propostas
de elaboração de parâmetros de medição
de qualidade ambiental coadunados com a adoção de uma política
de melhoria desta referida qualidade.
Este mesmo
autor, em artigo intitulado Concepção de Agenda 21 para
a cidade de Curitiba defende a idéia de que o fato de o Brasil
ter poucas agendas locais documentadas pode ser devido à falta de
uma metodologia clara para sua realização. Em sua pesquisa
propõe o uso do método do ciclo PDCA (Plan, Do,
Check,
Action)
[3]
para se estudar a concepção de uma Agenda 21 Local:
Plan:
constituição de uma política de governo;
Do:
implantação do programa através de ações;
Check:
verificação das ações, utilizando-se indicadores,
quantitativos, qualitativos, subjetivos e o levantamento de custos para
a obtenção de uma melhoria da qualidade ambiental. O uso
dos indicadores é essencial para a determinação do
andamento dos projetos enquanto fomentadores da melhoria da qualidade;
Action:
correção das ações insatisfatórias e
intervenção nas políticas ou programa de governo.
NOTAS:
[1]
ICLEI = International Council for Local Environmental Initiatives.
[2]
A descrição dos resultados desta pesquisa é retomada
e aprofundada no item 2.2.1.
[3]
O Ciclo PDCA é o principal método utilizado atualmente na
Administração pela Qualidade Total. Corresponde a uma ferramenta
que imprimi um caráter científico à administração.
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