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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 25/5/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:14:12
Y2K
Governos podem ser responsabilizados pelo Bug do Milênio 

Prejuízos aos cidadãos por essa falha terão de ser ressarcidos

Da mesma forma como as empresas em geral não podem ignorar a falha nos computadores conhecida como Bug do Milênio, e seus diretores responderão em juízo por todos os prejuízos causados aos clientes e parceiros de negócios (ver Informática, edição de 18/5), os prefeitos, governadores e diretores de estatais podem ser chamados a repor aos cofres públicos os prejuízos que venham a causar pela omissão no reparo de seus sistemas informatizados. Uma emissão indevida de formulários de cobrança de 100 anos de imposto atrasado para todos os cidadãos, por exemplo. Se 1999 é o ano dos analistas de sistemas, 2000 será o ano dos advogados.

Aqueles alertas e esta previsão foram feitos durante a palestra sobre o Bug do Milênio realizada dia 19/5/1999 pelo especialista norte-americano William David Kiss IV, consultor do governo estadunidense que está viajando pelo Brasil e outros países para alertar as comunidades sobre os riscos que estão correndo, face a esse problema de data nos computadores. 

A questão política foi destacada pelo vereador santista Martinho Leonardo, que vem se preocupando com a preparação dos sistemas computacionais santistas, públicos e particulares, para que não sejam atingidos por essa falha nos computadores (internacionalmente conhecida como Y2K Bug). O vereador teve a iniciativa de convidar o consultor americano para as palestras em Santos (a primeira ocorreu em 2/1999), com o apoio da Associação Comercial de Santos, da Unisanta, das empresas Computerworld, Atec Informática, F Di Gianni Informática, Net-Ten Informática e deste caderno Informática.

Recepcionado pela direção da Universidade Santa Cecília (Unisanta) em seu Anfiteatro I, William Kiss fez uma demonstração prática (usando o programa The Millenium Bug Toolkit) de como 95% dos computadores do mundo possuem um defeito no chip RTC (Real Time Clock - Relógio de Tempo Real), que impede a alteração dos primeiros dois dígitos do ano de [19] para [20], na passagem para o ano 2000. Essa é apenas uma das manifestações do problema, pois também os programas de computadores precisam ser corrigidos para trabalharem com datas nativas de quatro dígitos para o ano (isto é, sem a necessidade de interpretação e conversão a partir de datas em que [1999] seja representado como [99]).

Explicou que um enganoso jogo de palavras nos contratos de venda dos equipamentos e cessão de programas "informa" aos clientes que o produto é "capaz" de operar datas a partir do ano 2000 (apenas por conseguir simular via programa as datas a partir de 1º de janeiro próximo), mas não é "compatível", o que implica na possibilidade de tal simulação falhar em determinadas situações. Poucos são os produtos de hardware e software que passam atualmente pelas especificações PD2000-1, o teste oficial de compatibilidade contra o Bug do Milênio.

Com isso, podem advir grandes prejuízos para os usuários, incluindo a falência de empresas, não entrega de mercadorias, falhas em serviços públicos como black-outs, cobrança de um século de juros sobre débitos, ou o não pagamento de seguros porque, para o computador, o cliente sequer nasceu. Com a disseminação dos chips, mesmo videocassetes, fornos de microondas, taxímetros, marcapassos e aparelhos de geoposicionamento por satélite podem apresentar falhas, tão mais graves quanto mais dependentes de seu funcionamento perfeito estiverem seus usuários.

Sem tempo – "Só encontrar todos os programas a serem corrigidos pode ser um grande trabalho", explicou o palestrante, lembrando que não basta corrigir a falha no equipamento, o sistema operacional e a rede, há muito a ser feito (e faltam já no mercado os profissionais habilitados para isso). Por exemplo, é preciso verificar todos os arquivos de back-up e a forma como são recebidos os dados de fontes externas às empresas. 

Cada micro deve ser verificado, mesmo que sejam todos de um mesmo lote, pois já foram encontrados casos em que parte do lote foi entregue com chips RTC não compatíveis com o Y2K. Mesmo os arquivos existentes em cada micro podem conter dados em formato inadequado, ainda que os aplicativos sejam instalados a partir do mesmo programa. Assim, são tantas as possibilidades de ocorrência do Bug que se torna impossível prever de antemão o tempo para a verificação total do sistema. E a parte mais demorada ainda é o teste final de compatibilidade e certificação.

Embora o custo da colocação de um chip RTC atualizado, para um fabricante de computadores, fosse de apenas mais US$ 0,20, não há na prática, para o usuário, como fazer essa troca. O chip está integrado na placa-mãe do computador de tal forma que a substituição implicaria no redesenho dos circuitos dessa placa. Ou seja, seria necessário substituir a placa-mãe. Esse alto custo, ainda assim, resolve apenas a parte física do problema: resta o principal, que é substituir ou atualizar os softwares e corrigir um a um os arquivos gerados pelos usuários. Neste ponto, Kiss lembra que muitos programas contêm trechos de código que são de responsabilidade de outras empresas, algumas delas já extintas, daí não haver suporte técnico para sua correção em tais casos.

Assim, as empresas que não iniciaram ou estão apenas no início da correção do Y2K devem preparar imediatamente um plano de contingência que inclua alternativas para as falhas que possam surgir em seus sistemas vitais, como a volta aos sistemas manuais de trabalho (com máquinas de escrever e de somar...), controles paralelos etc. A previsão do governo americano é que o Y2K só será liquidado nos Estados Unidos em 2005 e no resto do mundo em 2010.

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