Y2K
Governos podem ser responsabilizados
pelo Bug do Milênio
Prejuízos aos cidadãos
por essa falha terão de ser ressarcidos
Da mesma
forma como as empresas em geral não podem ignorar a falha nos computadores
conhecida como Bug do Milênio, e seus diretores responderão
em juízo por todos os prejuízos causados aos clientes e parceiros
de negócios (ver Informática, edição
de 18/5), os prefeitos, governadores e diretores de estatais podem
ser chamados a repor aos cofres públicos os prejuízos que
venham a causar pela omissão no reparo de seus sistemas informatizados.
Uma emissão indevida de formulários de cobrança de
100 anos de imposto atrasado para todos os cidadãos, por exemplo.
Se 1999 é o ano dos analistas de sistemas, 2000 será o ano
dos advogados.
Aqueles alertas e esta previsão
foram feitos durante a palestra sobre o Bug do Milênio realizada
dia 19/5/1999 pelo especialista norte-americano William David Kiss IV,
consultor do governo estadunidense que está viajando pelo Brasil
e outros países para alertar as comunidades sobre os riscos que
estão correndo, face a esse problema de data nos computadores.
A questão política
foi destacada pelo vereador santista Martinho Leonardo, que vem se preocupando
com a preparação dos sistemas computacionais santistas, públicos
e particulares, para que não sejam atingidos por essa falha nos
computadores (internacionalmente conhecida como Y2K Bug). O vereador teve
a iniciativa de convidar o consultor americano para as palestras em Santos
(a primeira ocorreu em 2/1999), com o apoio
da Associação Comercial de Santos, da Unisanta, das empresas
Computerworld, Atec Informática, F Di Gianni Informática,
Net-Ten Informática e deste caderno Informática.
Recepcionado pela direção
da Universidade Santa Cecília (Unisanta) em seu Anfiteatro I, William
Kiss fez uma demonstração prática (usando o programa
The Millenium Bug Toolkit) de como 95% dos computadores do mundo possuem
um defeito no chip RTC (Real Time Clock - Relógio
de Tempo Real), que impede a alteração dos primeiros dois
dígitos do ano de [19] para [20], na passagem para o ano 2000. Essa
é apenas uma das manifestações do problema, pois também
os programas de computadores precisam ser corrigidos para trabalharem com
datas nativas de quatro dígitos para o ano (isto é, sem a
necessidade de interpretação e conversão a partir
de datas em que [1999] seja representado como [99]).
Explicou que um enganoso jogo de
palavras nos contratos de venda dos equipamentos e cessão de programas
"informa" aos clientes que o produto é "capaz" de operar datas a
partir do ano 2000 (apenas por conseguir simular via programa as datas
a partir de 1º de janeiro próximo), mas não é
"compatível", o que implica na possibilidade de tal simulação
falhar em determinadas situações. Poucos são os produtos
de hardware e software que passam atualmente pelas especificações
PD2000-1, o teste oficial de compatibilidade contra o Bug do Milênio.
Com isso, podem advir grandes prejuízos
para os usuários, incluindo a falência de empresas, não
entrega de mercadorias, falhas em serviços públicos como
black-outs, cobrança de um século de juros sobre débitos,
ou o não pagamento de seguros porque, para o computador, o cliente
sequer nasceu. Com a disseminação dos chips, mesmo videocassetes,
fornos de microondas, taxímetros, marcapassos e aparelhos de geoposicionamento
por satélite podem apresentar falhas, tão mais graves quanto
mais dependentes de seu funcionamento perfeito estiverem seus usuários.
Sem tempo – "Só encontrar
todos os programas a serem corrigidos pode ser um grande trabalho", explicou
o palestrante, lembrando que não basta corrigir a falha no equipamento,
o sistema operacional e a rede, há muito a ser feito (e faltam já
no mercado os profissionais habilitados para isso). Por exemplo, é
preciso verificar todos os arquivos de back-up e a forma como são
recebidos os dados de fontes externas às empresas.
Cada micro deve ser verificado, mesmo
que sejam todos de um mesmo lote, pois já foram encontrados casos
em que parte do lote foi entregue com chips RTC não compatíveis
com o Y2K. Mesmo os arquivos existentes em cada micro podem conter dados
em formato inadequado, ainda que os aplicativos sejam instalados a partir
do mesmo programa. Assim, são tantas as possibilidades de ocorrência
do Bug que se torna impossível prever de antemão o tempo
para a verificação total do sistema. E a parte mais demorada
ainda é o teste final de compatibilidade e certificação.
Embora o custo da colocação
de um chip RTC atualizado, para um fabricante de computadores, fosse
de apenas mais US$ 0,20, não há na prática, para o
usuário, como fazer essa troca. O chip está integrado
na placa-mãe do computador de tal forma que a substituição
implicaria no redesenho dos circuitos dessa placa. Ou seja, seria necessário
substituir a placa-mãe. Esse alto custo, ainda assim, resolve apenas
a parte física do problema: resta o principal, que é substituir
ou atualizar os softwares e corrigir um a um os arquivos gerados
pelos usuários. Neste ponto, Kiss lembra que muitos programas contêm
trechos de código que são de responsabilidade de outras empresas,
algumas delas já extintas, daí não haver suporte técnico
para sua correção em tais casos.
Assim, as empresas que não
iniciaram ou estão apenas no início da correção
do Y2K devem preparar imediatamente um plano de contingência que
inclua alternativas para as falhas que possam surgir em seus sistemas vitais,
como a volta aos sistemas manuais de trabalho (com máquinas de escrever
e de somar...), controles paralelos etc. A previsão do governo americano
é que o Y2K só será liquidado nos Estados Unidos em
2005 e no resto do mundo em 2010.
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