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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 13/4/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:11:46
TELECOMUNICAÇÕES
Governo prepara as normas para o uso de Internet a cabo no Brasil 

Tecnologia já existe, falta apenas a regulamentação e liberação do sistema

"A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está preparando a regulamentação do uso do sistema de televisão a cabo para o tráfego de dados da Internet, pois não há como impedir", revelou o secretário executivo do Ministério das Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, em entrevista exclusiva para Informática, após a aula inaugural de Engenharia de Telemática que proferiu na Universidade Santa Cecília, dia 29/3/1999. Como haviam demonstrado as empresas do setor alguns dias antes, durante o congresso e exposição Telexpo'99 na capital paulista, toda a tecnologia necessária já está disponível para o uso de modems a cabo, faltando apenas a liberação do sistema pelas autoridades. A questão foi abordada por Informática na edição de 30/3/1999.

Lembrando que "hoje em dia é difícil separar telefonia de computação, pois os equipamentos de telefonia são grandes computadores; é uma situação bem diferente de 30 anos atrás, quando os equipamentos eram eletromecânicos", Juarez explicou que atualmente as empresas de televisão a cabo não possuem autorização para explorar serviços de telefonia. Assim, está sendo revista a legislação e preparada a regulamentação desse serviço, devendo o texto da norma ser previamente submetido a consulta pública.

A respeito da preocupação dos provedores de acesso Internet quanto à concorrência predatória que as empresas de televisão a cabo poderiam trazer ao setor, o secretário explicou que as empresas de telefonia foram orientadas a não se tornarem provedoras de Internet, pois são dominantes no mercado e inibiriam os provedores de acesso privados. "Normalmente, temos esse cuidado, e esperamos que os exploradores de TV a cabo sejam facilitadores de meios, permitindo que diferentes provedores trafeguem dados através de seus cabos".

Custos  –  A respeito das manifestações dos internautas sobre o alto custo do acesso à Internet no Brasil, Juarez confia no aumento da competitividade entre as empresas como solução, em função das novas opções para o usuário. "Haverá outra empresa concorrendo com a Embratel, e as teles regionais poderão operar a longa distância, enquanto a própria Embratel também poderá prestar serviços locais e regionais. Podem surgir novos serviços via satélite e até mesmo usando a rede de energia elétrica já instalada para a transmissão de dados", cita.

A propósito, Juarez comenta que as operadoras de telefonia celular terão que se ajustar quanto aos padrões usados, para que o usuário tenha facilidade de usar seu telefone celular em qualquer lugar. E cita as metas de expansão que o Ministério das Comunicações planeja atingir: "A meta é ter 33 milhões de acessos fixos, fora os resultados obtidos pelas empresas-espelho, em 2001. Esse número pode chegar a 40 milhões de terminais se as empresas-espelho atingirem até lá a meta de 20% de participação no mercado nacional".

Entre os novos avanços no setor de telecomunicações, o secretário cita o Projeto Iridium, com satélites em orbita baixa ao redor do globo (não são geoestacionários). O Brasil é signatário do projeto e já tem alguns terminais instalados, começando neste ano a operação comercial. E há outras iniciativas no gênero.

Pesquisa – Questionado sobre a pauta do Ministério para os próximos meses, o secretário lembrou que já está em análise no Congresso o projeto de lei que cria o Fundo de Desenvolvimento Tecnológico, e estão em preparo, para apresentação ao Legislativo ainda neste ano (1999), os projetos da Lei Geral de Radiodifusão e da Lei Postal. 

O Fundo de Desenvolvimento Tecnológico visa fazer com que as empresas invistam em pesquisa no Brasil, ainda que a tecnologia aqui desenvolvida seja utilizada em outros países, e permitirá uma integração maior empresa/universidades. "Existe a necessidade desse fundo, para auxiliar o setor nas pesquisas. Nos Estados Unidos, 70% das pesquisas em desenvolvimento são da iniciativa privada, enquanto no Brasil o governo é que entra com 70% e a iniciativa privada com 30%. É importante que as empresas passem a investir mais no setor, pelo menos para reverter esse quadro", observa o secretário.

Ele mostra um quadro sobre o uso de tecnologia de comutação digital própria em diferentes países, encabeçado pela Alemanha, com 98,4% (de suas empresas Siemens e Alcatel), pela Suécia, que usa 93,4% de tecnologia da empresa sueca Ericson, e pelo Japão, com 93% de nacionalização (Fujitsu, Hitashi, Nec e Oki). Também merecem destaque a França (88% do mercado de telecomunicações é dominado pela Alcatel), o Canadá (84,4%, da Nortel) e os Estados Unidos (onde 83,3% da tecnologia estão concentrados nas empresas Lucent e Nortel).

No Brasil, segundo ele, o uso de tecnologia nacional permitiu baixar sensivelmente o custo médio do terminal dentro das centrais telefônicas, caindo de US$ 1.100 por terminal em dezembro de 1989 para US$ 200 em dezembro de 1993 (após a entrada nas licitações da empresa brasileira Tropco-RA, a partir de junho de 1990): "Hoje, o custo é de menos de US$ 100, que é o preço internacional desse terminal de comutação telefônica".

Conselho – Ante a pergunta sobre que conselho ele dá aos estudantes de Telecomunicações, Juarez responde: "O ambiente é de alta competitividade. Então, o aluno precisa ter mente aberta, com formação mercadológica, além do tecnicismo. Ele tem de estar preparado para conhecer todas as facilidades tecnológicas, mas também deve ter formação profissional para vender os serviços que ele conhece."
E continua, reprisando o que havia citado em sua aula na Unisanta: "Neste novo tempo, ele terá de possuir formação em Marketing, além da base técnica em Telecomunicações".

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