TELECOMUNICAÇÕES
Governo prepara as normas para o
uso de Internet a cabo no Brasil
Tecnologia já existe,
falta apenas a regulamentação e liberação do
sistema
"A Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) está preparando
a regulamentação do uso do sistema de televisão a
cabo para o tráfego de dados da Internet, pois não há
como impedir", revelou o secretário executivo do Ministério
das Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, em entrevista
exclusiva para Informática, após a aula inaugural
de Engenharia de Telemática que proferiu na Universidade Santa Cecília,
dia 29/3/1999. Como haviam demonstrado as empresas do setor alguns dias
antes, durante o congresso e exposição Telexpo'99 na capital
paulista, toda a tecnologia necessária já está disponível
para o uso de modems a cabo, faltando apenas a liberação
do sistema pelas autoridades. A questão foi abordada por Informática
na edição de 30/3/1999.
Lembrando que "hoje em dia é
difícil separar telefonia de computação, pois os equipamentos
de telefonia são grandes computadores; é uma situação
bem diferente de 30 anos atrás, quando os equipamentos eram eletromecânicos",
Juarez explicou que atualmente as empresas de televisão a cabo não
possuem autorização para explorar serviços de telefonia.
Assim, está sendo revista a legislação e preparada
a regulamentação desse serviço, devendo o texto da
norma ser previamente submetido a consulta pública.
A respeito da preocupação
dos provedores de acesso Internet quanto à concorrência predatória
que as empresas de televisão a cabo poderiam trazer ao setor, o
secretário explicou que as empresas de telefonia foram orientadas
a não se tornarem provedoras de Internet, pois são dominantes
no mercado e inibiriam os provedores de acesso privados. "Normalmente,
temos esse cuidado, e esperamos que os exploradores de TV a cabo sejam
facilitadores de meios, permitindo que diferentes provedores trafeguem
dados através de seus cabos".
Custos – A respeito
das manifestações dos internautas sobre o alto custo do acesso
à Internet no Brasil, Juarez confia no aumento da competitividade
entre as empresas como solução, em função das
novas opções para o usuário. "Haverá outra
empresa concorrendo com a Embratel, e as teles regionais poderão
operar a longa distância, enquanto a própria Embratel também
poderá prestar serviços locais e regionais. Podem surgir
novos serviços via satélite e até mesmo usando a rede
de energia elétrica já instalada para a transmissão
de dados", cita.
A propósito, Juarez comenta
que as operadoras de telefonia celular terão que se ajustar quanto
aos padrões usados, para que o usuário tenha facilidade de
usar seu telefone celular em qualquer lugar. E cita as metas de expansão
que o Ministério das Comunicações planeja atingir:
"A meta é ter 33 milhões de acessos fixos, fora os resultados
obtidos pelas empresas-espelho, em 2001. Esse número pode chegar
a 40 milhões de terminais se as empresas-espelho atingirem até
lá a meta de 20% de participação no mercado nacional".
Entre os novos avanços no
setor de telecomunicações, o secretário cita o Projeto
Iridium, com satélites em orbita baixa ao redor do globo (não
são geoestacionários). O Brasil é signatário
do projeto e já tem alguns terminais instalados, começando
neste ano a operação comercial. E há outras iniciativas
no gênero.
Pesquisa – Questionado sobre
a pauta do Ministério para os próximos meses, o secretário
lembrou que já está em análise no Congresso o projeto
de lei que cria o Fundo de Desenvolvimento Tecnológico, e estão
em preparo, para apresentação ao Legislativo ainda neste
ano (1999), os projetos da Lei Geral de Radiodifusão
e da Lei Postal.
O Fundo de Desenvolvimento Tecnológico
visa fazer com que as empresas invistam em pesquisa no Brasil, ainda que
a tecnologia aqui desenvolvida seja utilizada em outros países,
e permitirá uma integração maior empresa/universidades.
"Existe a necessidade desse fundo, para auxiliar o setor nas pesquisas.
Nos Estados Unidos, 70% das pesquisas em desenvolvimento são da
iniciativa privada, enquanto no Brasil o governo é que entra com
70% e a iniciativa privada com 30%. É importante que as empresas
passem a investir mais no setor, pelo menos para reverter esse quadro",
observa o secretário.
Ele mostra um quadro sobre o uso
de tecnologia de comutação digital própria em diferentes
países, encabeçado pela Alemanha, com 98,4% (de suas empresas
Siemens e Alcatel), pela Suécia, que usa 93,4% de tecnologia da
empresa sueca Ericson, e pelo Japão, com 93% de nacionalização
(Fujitsu, Hitashi, Nec e Oki). Também merecem destaque a França
(88% do mercado de telecomunicações é dominado pela
Alcatel), o Canadá (84,4%, da Nortel) e os Estados Unidos (onde
83,3% da tecnologia estão concentrados nas empresas Lucent e Nortel).
No Brasil, segundo ele, o uso de
tecnologia nacional permitiu baixar sensivelmente o custo médio
do terminal dentro das centrais telefônicas, caindo de US$ 1.100
por terminal em dezembro de 1989 para US$ 200 em dezembro de 1993 (após
a entrada nas licitações da empresa brasileira Tropco-RA,
a partir de junho de 1990): "Hoje, o custo é de menos de US$ 100,
que é o preço internacional desse terminal de comutação
telefônica".
Conselho – Ante a pergunta
sobre que conselho ele dá aos estudantes de Telecomunicações,
Juarez responde: "O ambiente é de alta competitividade. Então,
o aluno precisa ter mente aberta, com formação mercadológica,
além do tecnicismo. Ele tem de estar preparado para conhecer todas
as facilidades tecnológicas, mas também deve ter formação
profissional para vender os serviços que ele conhece."
E continua, reprisando o que havia
citado em sua aula na Unisanta: "Neste novo tempo, ele terá de possuir
formação em Marketing, além da base técnica
em Telecomunicações".
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Aula
destaca o crescimento nacional
Prevista
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