SOCIEDADE
Novas profissões vão
garantir o mercado
Carlos Pimentel Mendes
Editor
A resposta
sobre que mercado haverá para as novas tecnologias - dúvida
formulada por Marcelo Vieira de Castro Santos em artigo
nesta edição - está contida no próprio ambiente
em que ela foi formulada. E pode ser considerada positiva.
Primeiro, pelo fato de existir a
dúvida, mostrando que existe na sociedade um nível elevado
de consciência sobre as conseqüências do emprego de novas
tecnologias. A preocupação fará com que a sociedade
humana encontre caminhos para o reequilíbrio.
Segundo, por ter surgido durante
uma apresentação de Smart Community - conjunto de tecnologias
que tornarão as edificações mais confortáveis
e inteligentes, conforme foi enfocado na edição
passada de Informática. O avanço tecnológico
cria o desemprego em uma série de atividades que vão se tornando
obsoletas, da mesma forma que os acendedores/apagadores de lampiões
públicos a gás foram superados pelo surgimento da iluminação
elétrica. É um fato incontestável, faz parte da própria
evolução.
A computação criou
novos empregos, como o de analista de sistemas e o de editor de Informática.
Certamente, desempregou datilógrafos, revisores, linotipistas, mas
criou toda uma gama de novas atividades, como a de webmaster, programador
de computadores, criador de páginas Web, desenvolvedor de softwares,
integrador de computadores, especialista em cabeamento etc. Até
o cada vez mais onipresente Bug do Milênio criou uma nova e muito
bem remunerada categoria de profissionais, encarregados de localizar e
corrigir as falhas nos sistemas de computação. Também
pode ser facilmente prevista uma nova era de ouro para advogados, nos processos
causados pelo Bug.
Mudanças – Já
foi dito (Lavoisier) que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo
se transforma. Para ficar apenas com o caso citado das Comunidades Inteligentes,
há toda uma gama de profissões que surgirão, e a mais
evidente é a de administrador de sistema predial: cada edifício
do novo milênio vai precisar de um especialista em computação
para fazer a manutenção do sistema, da mesma forma como hoje
precisa de um zelador ou porteiro.
A instalação dos cabos
e equipamentos vai empregar muita gente especializada nessas atividades.
O incremento no uso de câmeras de vídeo, cabos óticos
e computadores obriga a aumentos equivalentes na produção
desses equipamentos, na obtenção e no transporte de matérias
primas, no controle de qualidade etc.
O crescimento do sistema delivery
vai precisar de pessoal especializado em receber os pedidos de mercadorias
e serviços, fazer a triagem e providenciar o atendimento das solicitações.
O supermercado virtual talvez não tenha pessoas na fila dos caixas,
mas precisará de gente fazendo a retaguarda no atendimento informatizado.
Elas até poderão trabalhar
em suas casas, mas continuarão empregadas. E o crescimento da competição
forçará a que pessoas sejam contratadas para desenvolver
peças publicitárias específicas para cada grupo de
cidadãos com interesse específico (a publicidade precisará
ser cada vez mais segmentada e dirigida para ser eficiente). A própria
segmentação de atividades, buscando-se atingir universos
cada vez mais específicos (e portanto menores) de consumidores,
acaba ampliando o mercado de trabalho.
A tecnologia emprega e desemprega.
Ao mesmo tempo em que os menos capacitados terão ainda mais reduzidas
suas oportunidades no mercado de trabalho, os melhor preparados com certeza
terão oportunidade de realizar novas atividades de nível
superior. A indústria do entretenimento é a que mais cresce
no mundo, e a computação é fator primordial em sua
infra-estrutura, mesmo sem considerar o incremento na produção
e distribuição de títulos em CD, DVD etc.
Transição –
Estamos saindo da Era Industrial e entrando na Era da Informação.
Toda fase de transição é traumática, pois implica
numa quantidade incalculável de mudanças simultâneas,
que causam naturalmente preocupações e receios. A adaptação
a um novo ambiente é sempre difícil, e certamente nunca na
história humana tantas mudanças ocorreram em tempo tão
curto. A própria computação demorou mais de vinte
anos para mudar o mundo, a Internet está fazendo isso em menos de
cinco anos...
Educação é a
palavra-chave para diminuir as desigualdades. Um marceneiro suburbano que
saiba produzir móveis para uso em computação, por
exemplo, pode vendê-los pela Internet para o mundo inteiro, em vez
de apenas no seu bairro. Um bom vigia de prédio pode, via rede mundial,
atuar na portaria de um edifício da Europa, sem sair de Santos.
O mercado globalizado permite que
até a atividade mais especializada - alisador de pelo de gato assustado,
para usar algo que me veio à mente agora - tenha grande número
de clientes em potencial. Assim, o que hoje não seria um trabalho
rentável poderá se tornar um novo negócio milionário.
Publicar um livro era coisa para reis antes de Gutemberg popularizar a
impressão, virou então negócio para editoras.
Hoje, qualquer um pode publicar na
Internet a custo zero (escreve o texto numa biblioteca pública com
acesso à Internet, utiliza um site gratuito tipo Geocities e quem
quiser faz sua cópia impressa). Se houver cobrança, mesmo
que de centavos, pelo acesso ao texto, eis o lucro aparecendo.
Vejo com otimismo um futuro que traz
tantas novas oportunidades. É claro que se torna necessária
a criação de novas estruturas, mecanismos para forçar
a distribuição de rendas e trabalho.
Já é hora de se implantar
normas como a semana reduzida de trabalho, provocando o uso de mais funcionários
em rodízio, como forma até de provocar a reversão
do círculo vicioso desemprego/queda no consumo/desemprego. O maior
número de turnos de trabalho numa semana cria empregos e aumenta
o consumo, além do maior tempo disponível pelas pessoas criar
demanda por novas opções de lazer e entretenimento. As próprias
empresas já estão percebendo isso em vários países.
Apesar de tudo, chegaremos lá.
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