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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 23/2/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:08:29
SOCIEDADE
Novas profissões vão garantir o mercado 

Carlos Pimentel Mendes
Editor

A resposta sobre que mercado haverá para as novas tecnologias - dúvida formulada por Marcelo Vieira de Castro Santos em artigo nesta edição - está contida no próprio ambiente em que ela foi formulada. E pode ser considerada positiva.

Primeiro, pelo fato de existir a dúvida, mostrando que existe na sociedade um nível elevado de consciência sobre as conseqüências do emprego de novas tecnologias. A preocupação fará com que a sociedade humana encontre caminhos para o reequilíbrio.

Segundo, por ter surgido durante uma apresentação de Smart Community - conjunto de tecnologias que tornarão as edificações mais confortáveis e inteligentes, conforme foi enfocado na edição passada de Informática. O avanço tecnológico cria o desemprego em uma série de atividades que vão se tornando obsoletas, da mesma forma que os acendedores/apagadores de lampiões públicos a gás foram superados pelo surgimento da iluminação elétrica. É um fato incontestável, faz parte da própria evolução.

A computação criou novos empregos, como o de analista de sistemas e o de editor de Informática. Certamente, desempregou datilógrafos, revisores, linotipistas, mas criou toda uma gama de novas atividades, como a de webmaster, programador de computadores, criador de páginas Web, desenvolvedor de softwares, integrador de computadores, especialista em cabeamento etc. Até o cada vez mais onipresente Bug do Milênio criou uma nova e muito bem remunerada categoria de profissionais, encarregados de localizar e corrigir as falhas nos sistemas de computação. Também pode ser facilmente prevista uma nova era de ouro para advogados, nos processos causados pelo Bug.

Mudanças – Já foi dito (Lavoisier) que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Para ficar apenas com o caso citado das Comunidades Inteligentes, há toda uma gama de profissões que surgirão, e a mais evidente é a de administrador de sistema predial: cada edifício do novo milênio vai precisar de um especialista em computação para fazer a manutenção do sistema, da mesma forma como hoje precisa de um zelador ou porteiro. 

A instalação dos cabos e equipamentos vai empregar muita gente especializada nessas atividades. O incremento no uso de câmeras de vídeo, cabos óticos e computadores obriga a aumentos equivalentes na produção desses equipamentos, na obtenção e no transporte de matérias primas, no controle de qualidade etc.

O crescimento do sistema delivery vai precisar de pessoal especializado em receber os pedidos de mercadorias e serviços, fazer a triagem e providenciar o atendimento das solicitações. O supermercado virtual talvez não tenha pessoas na fila dos caixas, mas precisará de gente fazendo a retaguarda no atendimento informatizado. 

Elas até poderão trabalhar em suas casas, mas continuarão empregadas. E o crescimento da competição forçará a que pessoas sejam contratadas para desenvolver peças publicitárias específicas para cada grupo de cidadãos com interesse específico (a publicidade precisará ser cada vez mais segmentada e dirigida para ser eficiente). A própria segmentação de atividades, buscando-se atingir universos cada vez mais específicos (e portanto menores) de consumidores, acaba ampliando o mercado de trabalho.

A tecnologia emprega e desemprega. Ao mesmo tempo em que os menos capacitados terão ainda mais reduzidas suas oportunidades no mercado de trabalho, os melhor preparados com certeza terão oportunidade de realizar novas atividades de nível superior. A indústria do entretenimento é a que mais cresce no mundo, e a computação é fator primordial em sua infra-estrutura, mesmo sem considerar o incremento na  produção e distribuição de títulos em CD, DVD etc.

Transição – Estamos saindo da Era Industrial e entrando na Era da Informação. Toda fase de transição é traumática, pois implica numa quantidade incalculável de mudanças simultâneas, que causam naturalmente preocupações e receios. A adaptação a um novo ambiente é sempre difícil, e certamente nunca na história humana tantas mudanças ocorreram em tempo tão curto. A própria computação demorou mais de vinte anos para mudar o mundo, a Internet está fazendo isso em menos de cinco anos...

Educação é a palavra-chave para diminuir as desigualdades. Um marceneiro suburbano que saiba produzir móveis para uso em computação, por exemplo, pode vendê-los pela Internet para o mundo inteiro, em vez de apenas no seu bairro. Um bom vigia de prédio pode, via rede mundial, atuar na portaria de um edifício da Europa, sem sair de Santos. 

O mercado globalizado permite que até a atividade mais especializada - alisador de pelo de gato assustado, para usar algo que me veio à mente agora - tenha grande número de clientes em potencial. Assim, o que hoje não seria um trabalho rentável poderá se tornar um novo negócio milionário. Publicar um livro era coisa para reis antes de Gutemberg popularizar a impressão, virou então negócio para editoras. 

Hoje, qualquer um pode publicar na Internet a custo zero (escreve o texto numa biblioteca pública com acesso à Internet, utiliza um site gratuito tipo Geocities e quem quiser faz sua cópia impressa). Se houver cobrança, mesmo que de centavos, pelo acesso ao texto, eis o lucro aparecendo.

Vejo com otimismo um futuro que traz tantas novas oportunidades. É claro que se torna necessária a criação de novas estruturas, mecanismos para forçar a distribuição de rendas e trabalho. 

Já é hora de se implantar normas como a semana reduzida de trabalho, provocando o uso de mais funcionários em rodízio, como forma até de provocar a reversão do círculo vicioso desemprego/queda no consumo/desemprego. O maior número de turnos de trabalho numa semana cria empregos e aumenta o consumo, além do maior tempo disponível pelas pessoas criar demanda por novas opções de lazer e entretenimento. As próprias empresas já estão percebendo isso em vários países. Apesar de tudo, chegaremos lá.

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