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Ronaldo faz gol e mostra como a
tradução é complicada
Um exemplo
das complicações que o idioma universal terá de enfrentar
foi tirado do linguajar esportivo pelo jornal francês Le Monde,
que publicou ampla matéria
no dia 5 sobre a preocupação reinante na Europa em se
criar uma forma de entendimento o mais precisa possível, para acelerar
a transcrição de seus documentos para as onze línguas
oficiais da União Européia: "Hoje, malgrado a predominância
do inglês, as barreiras linguísticas entravam de fato a livre
navegação na Web. (...) O mundo inteiro está de acordo
sobre uma codificação única, repousando sobre a linguagem
HTML criada no início dos anos 90 pelo CERN de Genebra."
O jornal entrevistou o pesquisador francês
da UNL, Selon Gilles Serasset, do Grupo de Estudos para a Tradução
Automática (Groupe d´Étude pour la Traduction Automatique
- Laboratoire CLIPS, ou Geta-Clips)
do Instituto de Informática e de Matemáticas Aplicadas (IMAG)
de Grenoble (França), que exemplificou as dificuldades atualmente
encontradas na Europa: "Disponho hoje de dicionários (N.E.: eletrônicos)
capazes de traduzir o inglês para seis outros idiomas (francês,
alemão, espanhol, italiano, japonês e russo), mas não
por exemplo entre espanhol e alemão. São necessários
15 dicionários para cobrir o escopo de combinações
possíveis com sete idiomas". Seu colega Nikolai Puntikov, que dirige
uma das duas equipes encarregadas pela ONU da língua russa, calculou
que seriam necessários "mais de 50 mil dicionários para gerar
todas as combinações dos idiomas falados na Terra".
Ainda conforme o Le Monde,
o pesquisador indiano Pushpak Bhattacharya, do Instituto Indiano de Tecnologia
de Mumbai, sublinha as dificuldades específicas da conversão
para o idioma hindi: "Nossa língua é dotada de regras que
governam a escolha das preposições em função
do substantivo ou do verbo, e permitem gerar a complexidade morfológica.
Nós temos hoje mais de 1.500 regras necessárias à
conversão entre UNL e o hindi". Se a conversão da UNL para
um determinado idioma é difícil, o contrário é
considerado fácil pelos pesquisadores, apesar dos problemas de ambigüidade.
O gol - O exemplo usado pelo
jornal vem do futebol: "Ronaldo marcou de cabeça dentro do canto
esquerdo do gol" (em francês, "Ronaldo a marqué de la tête
dans l'angle gauche du but") é uma frase que comporta vários
termos ambíguos, especialmente "marcou" e "gol". O sistema de tradução
precisa entender primeiro quem fez o quê: Ronaldo marcou. O que ele
marcou? Uma meta! (fora da acepção esportiva, but
significa meta, não é tão preciso como gol, do inglês
goal).
Com que instrumento? A cabeça...
Outro pesquisador, Mathieu Nicodeme,
da sociedade francesa Systran (responsável
pelo sistema
de tradução utilizado pelo site Altavista), lembra como
um dicionário incompleto pode modificar uma tradução,
ironizando: "Com um dicionário muito pobre, Bill Gates será
traduzido como fabricante de portas"...
Mesmo assim, Gilles Serasset é
otimista: "Posso imaginar que nossos filhos, que manuseiam como virtuoses
a informática, saberão se comunicar com seus correspondentes
do mundo inteiro, utilizando instrumentos adaptados". E seu colega Jesus
Cardeñosa, da Faculdade de Informática de Madrid (Espanha),
também está satisfeito, pois 90% dos problemas gramaticais
ligados à conversão entre espanhol e UNL já foram
resolvidos.
Além disso, já se começa
a pesquisar e refletir sobre a definição de uma gramática
universal (UG, Universal Grammar), que virá completar a UNL, reunindo
os pontos comuns das gramáticas de cada idioma, segundo Takenori
Makino, o responsável pelo projeto baseado na universidade japonesa
de Toho.
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