DEMOCRATICAÇÃO
DA INFORMÁTICA - 3
Como funciona o trabalho do CDI
O
projeto do CDI foi baseado na constatação de que a história
da Humanidade entrou em nova era, a era da informação e da
comunicação em rede, onde o computador desempenha papel fundamental.
A informática vem mudando o mundo em ritmo alucinante, mas o acesso
a ela continua limitado, dado o alto custo dos equipamentos e as ainda
escassas oportunidades de formação disponíveis para
a população de baixa renda.
Os jovens que
vivem nas favelas das grandes metrópoles estão entre os segmentos
sociais mais expostos ao fascínio irresistível dessas novas
linguagens e instrumentos de progresso: foi observado que grande parte
do dinheiro que os meninos de rua ganham com esmolas é gasto com
brinquedos eletrônicos em lojas ou shopping centers, provando existir
uma cultura digital já enraizada também nas camadas menos
favorecidas da sociedade.
Daí
residir na computação um grande potencial de integração
dos jovens à sociedade, por meio dos conhecimentos e das técnicas
da Informática. Poucas alternativas de profissionalização
poderiam ter o mesmo poder de competir com as táticas de aliciamento
promovidas pelo crime organizado, criando condições efetivas
de mudança de um quadro social em que o crime e o tráfico
são muitas vezes as únicas opções de ascensão
social disponíveis num determinismo socioeconômico cruel.
Sedução
- Quando uma Escola de Informática e Cidadania (EIC) é aberta,
em dois ou três dias se inscrevem entre 600 e 800 pessoas, pois o
apelo e a sedução do computador são uma realidade.
Os membros da comunidade percebem que a informática é um
diferencial quando se trata de procurar melhor colocação
no mercado de trabalho. Nesse sentido, o CDI e todas as pessoas envolvidas
nesse projeto notam que o computador, numa comunidade mais pobre, não
é apenas uma máquina ou ferramenta, é a verdadeira
arma para educar, capacitar, profissionalizar, gerar renda e mostrar uma
perspectiva de futuro aos jovens de baixa renda.
Outra ênfase
do trabaho do CDI é a educação para a cidadania. O
educador brasileiro Paulo Freire desenvolveu um método, a partir
da sua experiência com alfabetização de adultos, pelo
qual as pessoas aprendem mais e melhor quando conseguem ligar os conteúdos
da aprendizagem formal (escolar) com aquilo que aprendem no dia a dia,
nas lutas pela sobrevivência.
As EICs procuram
seguir os ensinamentos de Paulo Freire e disseminar entre as pessoas das
comunidades de baixa renda não só o ensino técnico
e profissionalizante, mas uma reflexão sobre a própria realidade
em que elas vivem e sobre os temas que merecem a preocupação
daquelas comunidades. Assim, os conhecimentos técnicos vêm
acompanhados do debate sobre as verdadeiras necessidades das comunidades
e sobre questões atuais como a gravidez na adolescência, o
acesso à educação e saúde etc.
Os instrutores
das EICs devem conhecer profundamente a realidade local e abordar no ensino
dos programas de computadores os temas que servirão para a vida
dos alunos. Por exemplo, quando os alunos utilizam um programa de pintura
em computador, pode-se pedir que façam um desenho sobre a sua comunidade,
e que depois debatam os resultados.
Numa instrução
sobre planilhas eletrônicas, pode-se exercitar dados estatísticos
que retratem a realidade da própria comunidade (índice de
mortalidade, de violência, de natalidade). Ao trabalhar com um editor
de textos, pode-se produzir um jornal que conte a história da comunidade
e seus sonhos. Num banco de dados, pode-se colocar informações
sobre os problemas da comunidade ou telefones úteis para ela.
Os programas
de apresentação permitem reunir todo esse material numa apresentação
da comunidade, que pode ser utilizada para a própria divulgação
dessa comunidade e seus problemas e captação de novos parceiros
no processo de seu desenvolvimento.
Veja, nesta série:
(1)
Do sonho para a realidade
(2)
Democracia e informática se unem
(3)
Como funciona o trabalho do CDI
(4)
Manuais explicam a forma de montar a escola
(5)
Um manual do CDI - algumas páginas |