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Matéria originalmente publicada pelo editor de Novo Milênio no caderno de Informática do jornal A Tribuna de Santos em 13/10/1998
Publicado em Novo Milênio em (mês/dia/ano/horário): 12/08/00 20:14:50
DEMOCRATICAÇÃO DA INFORMÁTICA - 2
Quando democracia e informática se unem

Morava na favela, mas fazia cartão de Natal no computador

O sonho do professor de informática Rodrigo Baggio de democratizar o acesso ao uso dos computadores começou a tomar forma em 1993, quando ele refletia com os alunos sobre o que os jovens de classe média poderiam fazer para ajudar na construção de um mundo melhor. Rodrigo e seus alunos criaram então, no Rio de Janeiro, a JovemLink, uma BBS (serviço de troca de mensagens e programas) especialmente feita para que esses jovens pudessem debater temas como cidadania, sexualidade ou ecologia, com jovens de comunidades pobres.

No entanto, essas comunidades pobres não reuniam condições para acessar a JovemLink: faltava equipamento e operadores. Foi quando o grupo despertou para a necessidade de facilitar o acesso das comunidades pobres aos computadores. Foi criada a Campanha Informática para Todos.

A estratégia da campanha era recolher computadores para doá-los a centros comunitários e associações de moradores. Isso foi feito. No entanto, após um ano, percebeu-se que os computadores não eram bem aproveitados - nas comunidades não havia a cultura do uso da informática. No final de 1994, a campanha já tinha duas salas repletas de computadores que não funcionavam ou que necessitavam de reparos. Necessidade que levou Rodrigo a reunir um grupo de jovens da favela Dona Marta e começar a ensinar-lhes a manutenção de computadores.

O resultado foi fantástico, e dessa experiência amadureceu a idéia de criar uma escola de informática na própria favela. Foram mantidos contatos com uma empresa que aprovou o projeto, e em março de 1995 foi criada a primeira Escola Comunitária de Informática na favela, com cinco microcomputadores 486 DX2/66, na época top de linha, monitores com tela colorida, placa de fax-modem e impressora a cores. A iniciativa também recebeu apoio de outra empresa, que fazia a manutenção dos computadores.

Crescimento - A partir daí, a campanha obteve grande adesão de profissionais da área, de pessoas que se interessam por informática, de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e de empresas. Com as primeiras doações de equipamentos, esse novo grupo que começava a se articular entrou em contato com centros comunitários que atuavam em favelas para fundar as primeiras Escolas de Informática e Cidadania (EICs).

A campanha conseguiu criar uma vinheta para a televisão, divulgada pela Rede Globo. Nesse momento, Baggio percebeu que tudo estava sendo feito em termos muito amadorísticos, pois o telefone divulgado para contatos era o da casa dele e recebia ligações a qualquer hora do dia. Isso levou a um contato com o Fundo Inter-Religioso, que tinha um sistema de telemarketing com mais de dez linhas telefônicas, uma das quais cedida para o grupo. Ficou claro então que se poderia criar um movimento.

O passo seguinte foi a organização de um encontro, ao qual compareceram cerca de 60 pessoas que também partilhavam o sonho de democratizar a informática. O resultado desse processo foi a criação, em abril de 1995, do Comitê para Democratização da Informática (CDI).

O Comitê - que a princípio estava estruturado em grupos de articulação, de manutenção e de educação, com o objetivo de montar e sustentar EICs em comunidades de baixa renda e em grupos que trabalham com portadores de necessidades especiais - de um pequeno conjunto de voluntários, transformou-se (em novembro de 1995) na primeira ONG de informática do Brasil.

Através desse trabalho, por exemplo, foi possível a Adílio Cabral dos Santos, aos 14 anos, aprender a usar um programa gráfico para fazer cartões de Natal, vendidos a R$ 1,50. Ele mora na Casa da Carioca, uma instituição que ajuda crianças de rua a retornarem a seus lares. Junto com Francisco de Souza, de 16 anos, é um dos maiores talentos que emergiram do curso de informática para adolescentes nessa entidade, cujo laboratório de informática foi montado com equipamento doado pela Unisys.

Veja, nesta série:
(1) Do sonho para a realidade
(2) Democracia e informática se unem
(3) Como funciona o trabalho do CDI
(4) Manuais explicam a forma de montar a escola
(5) Um manual do CDI - algumas páginas