DEMOCRATICAÇÃO
DA INFORMÁTICA - 2
Quando democracia e informática
se unem
Morava
na favela, mas fazia cartão de Natal no computador
O
sonho do professor de informática Rodrigo Baggio de democratizar
o acesso ao uso dos computadores começou a tomar forma em 1993,
quando ele refletia com os alunos sobre o que os jovens de classe média
poderiam fazer para ajudar na construção de um mundo melhor.
Rodrigo e seus alunos criaram então, no Rio de Janeiro, a JovemLink,
uma BBS (serviço de troca de mensagens e programas) especialmente
feita para que esses jovens pudessem debater temas como cidadania, sexualidade
ou ecologia, com jovens de comunidades pobres.
No entanto,
essas comunidades pobres não reuniam condições para
acessar a JovemLink: faltava equipamento e operadores. Foi quando o grupo
despertou para a necessidade de facilitar o acesso das comunidades pobres
aos computadores. Foi criada a Campanha Informática para Todos.
A estratégia
da campanha era recolher computadores para doá-los a centros comunitários
e associações de moradores. Isso foi feito. No entanto, após
um ano, percebeu-se que os computadores não eram bem aproveitados
- nas comunidades não havia a cultura do uso da informática.
No final de 1994, a campanha já tinha duas salas repletas de computadores
que não funcionavam ou que necessitavam de reparos. Necessidade
que levou Rodrigo a reunir um grupo de jovens da favela Dona Marta e começar
a ensinar-lhes a manutenção de computadores.
O resultado
foi fantástico, e dessa experiência amadureceu a idéia
de criar uma escola de informática na própria favela. Foram
mantidos contatos com uma empresa que aprovou o projeto, e em março
de 1995 foi criada a primeira Escola Comunitária de Informática
na favela, com cinco microcomputadores 486 DX2/66, na época top
de linha, monitores com tela colorida, placa de fax-modem e impressora
a cores. A iniciativa também recebeu apoio de outra empresa, que
fazia a manutenção dos computadores.
Crescimento
- A partir daí, a campanha obteve grande adesão de profissionais
da área, de pessoas que se interessam por informática, de
Organizações Não-Governamentais (ONGs) e de empresas.
Com as primeiras doações de equipamentos, esse novo grupo
que começava a se articular entrou em contato com centros comunitários
que atuavam em favelas para fundar as primeiras Escolas de Informática
e Cidadania (EICs).
A campanha
conseguiu criar uma vinheta para a televisão, divulgada pela Rede
Globo. Nesse momento, Baggio percebeu que tudo estava sendo feito em termos
muito amadorísticos, pois o telefone divulgado para contatos era
o da casa dele e recebia ligações a qualquer hora do dia.
Isso levou a um contato com o Fundo Inter-Religioso, que tinha um sistema
de telemarketing com mais de dez linhas telefônicas, uma das quais
cedida para o grupo. Ficou claro então que se poderia criar um movimento.
O passo seguinte
foi a organização de um encontro, ao qual compareceram cerca
de 60 pessoas que também partilhavam o sonho de democratizar a informática.
O resultado desse processo foi a criação, em abril de 1995,
do Comitê para Democratização da Informática
(CDI).
O Comitê
- que a princípio estava estruturado em grupos de articulação,
de manutenção e de educação, com o objetivo
de montar e sustentar EICs em comunidades de baixa renda e em grupos que
trabalham com portadores de necessidades especiais - de um pequeno conjunto
de voluntários, transformou-se (em novembro de 1995) na primeira
ONG de informática do Brasil.
Através
desse trabalho, por exemplo, foi possível a Adílio Cabral
dos Santos, aos 14 anos, aprender a usar um programa gráfico para
fazer cartões de Natal, vendidos a R$ 1,50. Ele mora na Casa da
Carioca, uma instituição que ajuda crianças de rua
a retornarem a seus lares. Junto com Francisco de Souza, de 16 anos, é
um dos maiores talentos que emergiram do curso de informática para
adolescentes nessa entidade, cujo laboratório de informática
foi montado com equipamento doado pela Unisys.
Veja, nesta série:
(1)
Do sonho para a realidade
(2)
Democracia e informática se unem
(3)
Como funciona o trabalho do CDI
(4)
Manuais explicam a forma de montar a escola
(5)
Um manual do CDI - algumas páginas |