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Conclusão
Na primeira parte destas notas
procuramos comparar os dois grandes produtores de iluminação: o gás e a eletricidade. Deixamos inteiramente de parte o moderno agente, ora lançado
no mesmo campo em que se debatem aqueles dois esforçados lutadores.
O acetileno fornece incontestavelmente uma luz poderosa e soberba pelo brilho.
Tem sobre o gás um certo número de vantagens. Produz 16 vezes mais luz sob o mesmo volume. Aquece
o ambiente 7 vezes menos, e gera 5 vezes menos ácido carbônico, para a mesma quantidade de luz.
A matéria-prima é o carbureto de cálcio que, ao princípio muito caro, baixa todos os dias
de preço, a ponto de que o gás acetileno pode hoje competir com o gás comum e até com a luz elétrica. Em combustores ao ar livre, pode ser
de 2 a 3 vezes mais barato do que o gás.
Rivaliza com as lâmpadas elétricas de incandescência; porém, é ainda hoje mais caro do que o gás
em bicos Auer.
Tem a vantagem de se adaptar a lâmpadas portáteis e a pequenas instalações domiciliares bastante
econômicas.
É menos tóxico do que o gás comum.
Com a mesma canalização do gás existente seria possível produzir de 15 a 20 vezes mais luz, com o
acetileno.
Outras razões, porém, levaram-nos a desprezá-lo.
Explosividade - Um volume de ar misturado com 3 até 20 volumes de acetileno, faz explosão
inflamando-se. O perigo é máximo quando a relação é de 1 para 7. É verdade que o gás comum também é explosivo pela mistura; mas a sua ação é menos
intensa e os limites do perigo mais restritos.
As fugas do acetileno em espaços limitados são muito mais para temer. É bem possível que todos
esses inconvenientes venham a desaparecer. Infelizmente, na atualidade, uma série de desastres tem servido de entrave às tentativas de iluminação
em maior escala.
Assim, no livro mais completo que conhecemos sobre o assunto, diz Georges Pelissier: "É
pouco provável que o acetileno chegue algum dia a ser canalizado em grande".
Outra razão é o suprimento da matéria-prima.
Para poder contar com o carbureto de cálcio a preço baixo, seria necessário fabricá-lo entre nós.
E aqui parece-nos que os dados experimentais contra-indicam a solução, para o caso.
Até hoje, o meio de produção é a eletricidade; e nas maiores fábricas cada quilo de carbureto
produzido exige o gasto de quase 5 cavalos elétricos-hora.
Um quilo de carbureto atuando sobre a água produz 300 litros de acetileno; ou cerca de 500
velas-hora.
Cada cavalo-elétrico gera em lâmpadas incandescentes cerca de 200 velas, e em lâmpadas de arco
700. Logo, aproveitando diretamente a corrente elétrica, pode-se obter 2 ou 4 vezes mais efeito do que com o acetileno.
Eis-nos, portanto, limitados ao gás e à eletricidade.
As observações que fizemos resumem-se, em essência, nas seguintes:
1ª - O gás de carvão mineral queimando ao ar livre não produz bom rendimento em luz.
2ª - Nos bicos recuperadores, e principalmente nos de incandescência, aproveita-se o poder
calorífico do gás para produção de luz, com grande economia.
3ª - O carvão de pedra em motores de vapor e máquinas eletrogênias dá melhor rendimento em luz do
que quando produz gás para iluminação.
4ª - O gás de iluminação em motores de explosão e compressão gera corrente elétrica mais
economicamente do que o carvão nas máquinas de vapor.
5ª - O gás d'água e o gás pobre, em motores, geram corrente elétrica ainda mais
economicamente do que o carvão ou o gás de iluminação.
6ª - Tanto para o gás como para a luz elétrica, o parcelamento do poder iluminante obriga sempre
a maiores dispêndios.
7ª - A concentração de grande força luminosa em um foco poderoso produz sempre considerável
economia.
8ª - A maior arma que encontram as companhias de gás contra a luz elétrica são os combustores de
incandescência.
Nos combustores modernos de gás comprimido (Bandsept, Denayrouse, Saint-Paul etc.), consegue-se o
consumo de 1,5 até 1 litro por vela-hora.
Mas o bico até hoje mais em voga é o Auer, que pode consumir 3 até 1,5 litros por vela-hora. A
única condição indispensável é de manter a pressão constante. Para isso devem ser empregados, além dos grandes reguladores na rede de
distribuição, pequenos reguladores ou reômetros em cada bico. A pressão deve ser conservada fixa, de 40 a 45 milímetros.
Admitidos os nossos cálculos, um bico Auer de 32 velas (tipo BB) custaria por hora:
Juro e amortização da instalação
............................. 1,500 réis
Manguito, substituição e tratamento
........................ 3,744 réis
64 litros de gás
.................................................... 11,232 réis
Soma ............. 16,476 réis
A câmbio de 8, custaria a lâmpada-hora 55,60 réis.
Os 200 focos nas avenidas custariam por ano
200 l. x 4.015 h x 55,6 rs. = 44:646$800.
Com o bico Auer n. 3, obter-se-ia 4 vezes mais luz, com despesa inferior a 110:000$000.
Fica, pois, incontestavelmente verificado que é a companhia do gás, já efetivamente aparelhada,
quem pode desenvolver e melhorar a iluminação de Santos mais economicamente.
Só resta, pois, que aquela empresa entre em acordo com a Câmara para o referido fim.
Se, porém, não se der o fato, deve a municipalidade abrir concorrência para a iluminação elétrica
das avenidas.
Para poder conseguir essa iluminação a preço cômodo, convém dar a quem contratar o fornecimento
de luz, concessão para utilizar-se das estradas e ruas para a colocação dos condutores de transporte e distribuição de correntes elétricas para
todas as suas aplicações industriais.
O prazo de concessão não deverá exceder de 18 anos. No contrato estabelecer-se-ão tarifas máximas
para os particulares e a porcentagem do abatimento para a luz pública. Essas tarifas poderão ser revistas de 5 em 5 anos.
Servirão de base para a escolha das propostas o preço da luz, o abatimento para a luz pública, as
condições da concessão e a idoneidade.
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