O esqueleto do navio a motor, em construção nos estaleiros Lazzarini, na Bocaina, para a Sociedade
de Navegação Itanhaém Ltda.
Foto publicada com a matéria original
A indústria das construções navais em Santos
Em outubro será lançado à água um navio para o transporte de bananas
O
litoral do nosso estado, como o de alguns outros do Brasil, já teve, em tempos idos, uma apreciável representação na indústria de construções
navais. No Pará, como no Maranhão; na Bahia, como na Guanabara, o estaleiro de construção naval tinha tal vitalidade que lançava ao mar navios de
grande porte, mercantes e de guerra, que iam do ligeiro palhabote à pesada corveta de quinze vergas cruzadas.
Em Santos, como em Santa Catarina, construíam-se e
aparelhavam-se, há meio século atrás (N.E.: cerca de 1880, portanto),
rijos cascos de madeira de lei com mastros pejados de velame, que a época transformou, depois, em ferro e máquinas propulsoras.
Dos trabalhos respeitantes à profissão de marinheiro,
viviam, então, muitos milhares de homens em todo o vasto litoral do país, confeccionando a variada vestimenta dos mastros e seu velame, que
empregava mestres, cosedores, garruncheiros, entralhadores etc. Tudo isso ficou reduzido, com a adoção das máquinas a vapor, a uma pequena
expressão, pois os cascos, de ferro ou aço, são importados do estrangeiro e com eles as máquinas, que amortalharam a navegação à vela.
Vem este intróito a propósito do assunto representado
pelo nosso clichê: a construção de um navio, nos estaleiros do construtor naval sr. Vicente Lazzarini, na Bocaina,
para a Sociedade de Navegação Itanhaém, Ltda., e sob o traçado do técnico sr. Julio Puiz.
Nestes últimos tempos, é esta a mais importante
construção naval feita no nosso Estado, inteiramente com materiais nacionais. O navio que aí vemos nos estaleiros Lazzarini tem de comprimento 25
metros, de boca 6 e de pontal 2,40, deslocando 160 toneladas. A construção é toda de madeiras de lei, em que nosso país é tão rico, podendo-se
concluir, pelo conjunto do cavername, da sua grande resistência. Tudo ali é de procedência nacional, inclusive pregos, de ferro ou de cobre,
cavilhas, arrebites e outros acessórios de metal, fornecidos pela Casa Pharol, à Praça Iguatemy
Martins.
Só não são nacionais os dois motores Diesel, de 50 H.P.
cada um, que vêm a caminho, da Alemanha. O combustível será o óleo cru.
As firmas proprietárias deste navio são as seguintes:
Simões, Michel e Cia.; Miguel, Dias e Clerigo; O. Ribeiro Filho; Praça e Amargos; Fortes e Martinez; Arnaud e Irmãos Rodrigues; dr. Affonso Krug;
José Ribeiro de Araujo e Antenor de Azevedo, todas proprietárias de grandes bananais no Sul do Estado, pertencendo todas, também, ao Centro dos
Agricultores de Santos.
O barco destina-se ao transporte de bananas, de
Itanhaém para Santos, devendo ser entregue aos seus proprietários no mês de outubro.
O seu custo, aparelhado e pronto a navegar, vai à
quantia de 180:000$000.
No clichê, produto de uma fotografia tirada no
estaleiro pelo nosso fotógrafo, vê-se o construtor Vicente Lazzarini (em mangas de camisa) e um grupo de proprietários do navio. |