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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE
Antecipando a fundação

No início do século XXI, acentuou-se uma tendência já verificada nos últimos anos do século anterior: com a descoberta do potencial turístico dos roteiros históricos, cidades como Santos, São Vicente e até São Paulo lutam por demonstrar que são ainda mais antigas, remontando todas aos anos imediatamente posteriores à chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia em 1500.

Três análises publicadas na imprensa seguem essa tendência e mutuamente se completam, começando pelo artigo publicado em 17 de janeiro de 1997 no Jornal da Tarde/OESP, em que o autor procura antecipar a data da fundação de São Paulo, de 1554 para cerca de 1532/1534:


Charge publicada com o artigo, sem autoria identificada

São Paulo, 443 anos?

Por Antonio Penteado Mendonça (*)

Eu tenho um amigo que quer porque quer mudar a história do Brasil. Ele descobriu indícios fortíssimos de que algumas passagens estão erradas e resolveu comprar a briga para corrigi-las, o que acho fantástico, principalmente se nós nos lembrarmos de que o Brasil tem uma das histórias mais fantasiosas do mundo, baseada em achismos e em interesses políticos, que sem a menor cerimônia adulteram os fatos, modificando completamente o que está escrito nos documentos.

Pois é aqui que eu quero colocar a colher torta, quem sabe influenciado pela coragem do meu amigo: no próximo dia 25 São Paulo estará comemorando 443 anos de idade, só que São Paulo não tem 443 anos. Mais uma vez a nossa história está errada, sendo que a história de São Paulo está errada exclusivamente para agradar aos jesuítas, eles sim há 443 anos instalados no alto do planalto de Piratininga, numa epopéia que faz parte da epopéia maior que é a verdadeira história da Cidade e de seu povo, e que começa antes de 1554, com a chegada de João Ramalho, pelo menos 22 anos antes.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, logo depois de tocarem na Bahia, eles buscaram o Sul, atrás do Rio da Prata, que deveria ser, de acordo com a sua interpretação do Tratado de Tordesilhas, a fronteira natural entre as suas terras e as terras espanholas. Não é à toa que São Vicente é a cidade mais antiga do País. Ela, já muito antes de ser elevada à condição de primeira vila, desempenhava um papel relevante na conquista do Brasil, como posto avançado em direção ao Prata e como base de apoio para as frotas e naus que demandavam o Sul e que paravam nas suas costas para se reabastecerem de víveres e de água.

Já em 1503 os documentos antigos mostram uma atividade econômica regular em sua baía, com seu porto servindo de escala para praticamente todos os navios que buscavam as latitudes mais meridionais, e de escoadouro para a produção de portugueses e espanhóis instalados na terra, tanto no litoral, como no interior, em paragens tão distantes quanto Assunção do Paraguai.

Não bastasse São Vicente ser de fácil acesso para os navios, era ali que acabava o misterioso caminho do Peabiru, a estrada que ligava o litoral brasileiro ao coração do império Inca, varando o sertão de São Paulo, entrando pelo território do Paraná, para alcançar Assunção e se juntar a outra estrada que subia os Andes, até atingir Cuzco e Quito, as duas grandes cidades daquele povo.

O comércio entre portugueses e espanhóis através do Peabiru e do porto de São Vicente era tão intenso que Martim Afonso de Souza, ao chegar com sua expedição colonizadora, não hesitou em elevar a currutela informal, criada ao longo das três primeiras décadas do século 16, à condição e primeira vila oficial do Brasil.

Mas Martim Afonso fez mais: acompanhado de João Ramalho, que já conhecia o planalto do outro lado da serra de Paranapiacaba, ele subiu os quase mil metros de pirambeira que protegiam os mistérios do sertão da cobiça portuguesa, com duas finalidades claras. A primeira era verificar pessoalmente as reais condições do lugar, e a segunda, fundar um ponto avançado, que controlasse os movimentos dos espanhóis ao longo do Peabiru.

Assim, no mesmo ano de 1532, que viu São Vicente elevada à condição de primeira vila do País, Martim Afonso de Souza fundou uma segunda povoação, no alto do planalto, à qual deu o nome de Vila de Piratininga, com o fim específico de defender São Vicente e de servir de porta de entrada para o continente desconhecido que se estendia no rumo do principal rio que cortava a região e que, bem a propósito, corria para o interior, ao invés de correr para o mar [N.E.: o Tietê].

Atualmente, a localização da Piratininga original é desconhecida, como é desconhecida a localização da Vila de Santo André da Borda do Campo, fundada por João Ramalho mais ou menos na mesma época.

O fato que merece destaque é que o colégio dos padres jesuítas, este sim fundado em 25 de janeiro de 1554, se chamava São Paulo de Piratininga. Vale dizer, o colégio dos jesuítas fundado no alto do planalto, do outro lado da serra do mar, homenageava o apóstolo São Paulo e estava em Piratininga, ou pelo menos muito próximo da povoação fundada pelo donatário da capitania, com o auxílio de João Ramalho, 22 anos antes.

Se não bastasse isso, a São Paulo atual é fruto da soma das populações das duas vilas, que foram obrigadas, em princípios de 1560, em função da defesa contra os índios, a se fundirem numa única, com os moradores de Santo André da Borda do Campo se mudando para os altos ao redor da colina onde estava instalado o colégio dos jesuítas, e onde já estavam os moradores da Vila de Piratininga original, fosse lá ou não sua primeira localização, e os índios de Tibiriçá e Caiubi, os dois caciques que controlavam o planalto.

Assim, quer seja aceita a tese de que a São Paulo de hoje é a continuação da Vila de Piratininga fundada por Martim Afonso de Souza, quer seja aceita a tese da fusão com Santo André da Borda do Campo, em ambos os casos a cidade é perto de 20 anos mais velha do que a idade que lhe é atribuída, o que traz um dado novo para a discussão: se a verdade histórica for restabelecida, a cidade e São Paulo passa a ser a segunda cidade mais antiga do Brasil.

(*) Antonio Penteado Mendonça é titular do programa 'Crônica da Cidade' da Rádio Eldorado AM e autor do livro homônimo.

Relembrando a atuação do espanhol Cosme Fernandes desde 1501, este segundo texto foi publicado na edição de 21 de janeiro de 1996 do jornal santista A Tribuna:

Historiadora afirma que SV já existia em 1501

Quando Martim Afonso de Souza chegou à Baía de São Vicente, já havia um porto especializado no tráfico de escravos índios, de Cosme Fernandes

Da Sucursal de São Vicente

Quando Martim Afonso de Souza chegou a São Vicente, já existia uma povoação com fama de porto de tráfico de escravos índios, liderada pelo espanhol Cosme Fernandes, que aqui se estabeleceu em 1501. A polêmica versão é defendida pela historiadora vicentina Eulâmpia Requejo, que acaba de concluir uma cartilha sobre a fundação de São Vicente, na qual defende a tese de que a missão de Martim Afonso de Souza era mais militar do que colonizadora.

Segundo Eulâmpia, Cosme Fernandes era um "espanhol-judeu" e veio para o Brasil logo após o descobrimento, no navio do cartógrafo Américo Vespúcio. "Ele foi embarcado, com outros degredados, em Cananéia, que fora habitada antes até de São Vicente. Mas tinha na lembrança a Baía de São Vicente, para onde veio depois, a pé, com outros degredados", disse.

Cosme Fernandes teria então se especializado, em São Vicente, na captura e comércio de escravos índios para a Europa, explicou Eulâmpia: "São Vicente criou fama de porto de tráfico de escravos e a provável riqueza de Cosme Fernandes, que era um espanhol, chegou ao conhecimento da Coroa Portuguesa. D. João III resolveu, então, mandar Martim Afonso com sua esquadra para tirar a liderança do espanhol da incipiente vila, além de construir cadeia e instalar Casa de Leis, que veio a ser a primeira Câmara do Novo Mundo", disse.

A prosperidade do espanhol Cosme Fernandes, então líder de São Vicente, teria sido denunciada a D. João III por Henrique Montes, que vivia na vila, segundo a historiadora. Eulâmpia, que diz ter consultado documentos e feito releitura de livros de História, contou que, antes da chegada de Martim Afonso, o espanhol bateu em retirada com alguns ajudantes, depois de atear fogo a algumas casas da vila.

"Ele voltou para Cananéia, deixando então a vila livre para Martim Afonso de Souza fundá-la oficialmente", afirmou Eulâmpia, dizendo que escreveu tal versão não para contestar os feitos de Martim Afonso, mas "apenas para resgatar fatos importantes, que mostram a antiguidade de povoações como São Vicente e Cananéia".

O terceiro texto foi publicado no Jornal da Orla, de Santos, em 5 de janeiro de 2003, propondo que os cerca de um milhão de habitantes fixos no território da Baixada Santista criem uma comemoração unificada, estreitando os laços entre as nove cidades da região metropolitana da Baixada Santista (até então praticamente só existentes no papel), aproveitando uma data que coincide com o auge da temporada turística das férias de verão:

OPINIÃO & DEBATE

22 de janeiro de 2003: aniversário de 501 anos da Baixada Santista

Ademir Pestana (*)

No dia 22 de janeiro de 1502, há 501 anos, chegava por estas plagas a expedição de Américo Vespúcio, dando a denominação cristã da costa brasileira. E esta nossa seria São Vicente, o santo da data em que ele chegou à atual Ponta da Praia, no braço de mar que pensaram ser um rio. Seria o lugar a que chegaria também, depois, Martim Afonso, na comunidade do "Bacharel" que expulsou, 30 anos depois, em 1532. É, SV foi fundada aqui, a Baixada é uma só e suas cidades, por erro histórico, falseiam suas datas de aniversário - comemorando os dias de sua emancipação. É hora de corrigir isso e legitimar estes eventos na sua dimensão, unificando mais de um milhão de seres pelas revelações da história, engrandecendo esta memória com unidade.

Foi esta expedição de 1502 que trouxe o "Bacharel da Cananéia", um degredado, intelectual maçônico e subversivo para a Coroa Portuguesa - fundador de comunidades que forjou a primeira organização social brasileira, aqui. Seria, pois, a 22 do primeiro mês do ano a data de fundação da Baixada Santista, a ser comemorada pelas 9 cidades - por sorte, na temporada. Por que não reunir este esforço de festa, em uma costa desenhada para o turismo, com legitimidade histórica? Temos 500, todos - Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande, Cubatão, Bertioga, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe!

A geografia da Baixada Santista, (muito pouco) ensinada desde os bancos escolares, não é real, são meras representações administrativas recentes, fronteiras desenhadas em espaços assimétricos pela mão humana - que não construiu tanta beleza, ao contrário. Estas linhas imaginárias não estiveram sempre onde estão e não existirão sempre, são apenas construções efêmeras. É preciso resgatar o caráter histórico e humano dessa unidade de mares e montanhas inseparáveis e grandiosas.

Os municípios da região não nasceram sozinhos - o que só aconteceu com Santos e São Vicente, aliás, juntos, irmãos xifópagos, siameses, corsos, diria Dumas. Por muito tempo foram uma coisa só. Vamos comemorar juntos; será aqui o maior evento do planeta, atraindo milhões de pessoas, para comemorar os 501 anos da Baixada Santista, sem egoísmo nem separatismo.

(*) Ademir Pestana é vereador do PPS em Santos.

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