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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CABOS
O jato, o navio e o cabo de alta tensão (1)

Acidente fatal ocorreu em fevereiro de 1965, no estuário do porto santista

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Entre as duas margens do porto santista existem cabos para transmissão de eletricidade em alta tensão, proveniente da usina de Itatinga (pertencente ao complexo portuário) e destinada a alimentar as instalações portuárias. Instalados em 1910, com a construção da usina, os cabos são presos a duas torres metálicas, uma de cada lado do Estuário, em Guarujá e em Santos. Em 19 de fevereiro de 1965, um jato militar bateu nesses cabos e explodiu, matando seu tripulante, como foi registrado pelo jornal santista A Tribuna, em um sábado, 20 de fevereiro de 1965, na primeira e na última páginas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução da primeira página da A Tribuna de 20/2/1965

Jato da FAB explodiu no estuário

Choque contra rede de alta tensão foi a causa do acidente - Capitão-aviador teve morte horrível - A aeronave era do tipo Gloster Meteor - Içamento hoje

 

Lanchas do Grupamento de Bombeiros e da Companhia Docas de Santos

vasculham a área onde caiu o avião, observadas por um helicóptero

do Serviço de Buscas e Salvamento da Força Aérea Brasileira

Foto publicada com a matéria

Um jato do tipo Gloster Meteor pertencente à Força Aérea Brasileira, sediado na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, explodiu por volta das 15,30 horas de ontem, no estuário do porto local, entre os armazéns 27 e 29 da Companhia Docas de Santos. O aparelho era pilotado pelo capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio e fazia parte de uma esquadrilha de quatro aeronaves que minutos antes haviam iniciado exercícios de acrobacia a baixa altura. O piloto teve morte instantânea, sendo possível localizar apenas partes de seu corpo. As demais aeronaves, logo após o desastre, tomaram o rumo do Rio de Janeiro.

Populares que se encontravam nas imediações do local do desastre

acompanharam os serviços de buscas

Foto publicada com a matéria

O desastre

Segundo o depoimento de vários elementos que na hora do desastre trabalhavam no trecho compreendido entre os armazéns 27 e 29 da CDS, o aparelho voava baixo, ou seja, realizava um vôo rasante, quando bateu contra os fios de alta tensão (44 mil volts) localizados à altura do armazém 27. Esses fios são sustentados por torres de aproximadamente 60 metros, o que dá uma idéia da altura a que o aparelho voava.

No impacto com os fios a aeronave perdeu parte da fuselagem e ficou completamente desgovernada; todavia, percorreu ainda cerca de 400 metros em direção ao mar, explodindo antes mesmo de tocar a água. Com a explosão, ouvida até pelos moradores de Guarujá, o aparelho desintegrou-se, sendo os destroços lançados num raio de mais de 500 metros.

No momento da explosão do aparelho, navegava pelo estuário uma pequena lancha, a Possante, que rebocava dois chatões empregados no transporte de banana, o Rio Icanhema e o Silva Jardim. Este último naufragou em conseqüência das avarias sofridas. Um dos tripulantes da lancha Possante sofreu ferimentos.

O chatão Silva Jardim foi atingido por um estilhaço do avião. Em conseqüência, a embarcação, que é utilizada no transporte de banana, naufragou

Foto publicada com a matéria

Primeiros socorros - Os primeiros socorros foram prestados pelos componentes da guarnição de uma lancha da Polícia Marítima que se encontrava nas imediações do local do desastre. A tripulação da embarcação logrou recolher parte do corpo do capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio e pedaços da nacelle do aparelho. Mais tarde chegaram ao local duas lanchas do Grupamento de Bombeiros, que realizaram buscas para localizar o restante do aparelho, no fundo do mar.

Ao mesmo tempo, chegava também o capitão dos Portos, comandante Roberto Coutinho Coimbra; o comandante da Base Aérea, tenente-coronel Joinvile Rosa, além de vários delegados de Polícia e o inspetor-geral da Companhia Docas de Santos, engenheiro José Menezes Berenguer.

Por volta das 16,20 horas, vários fragmentos do aparelho já haviam sido localizados, inclusive em frente ao armazém 30. A essa altura, inúmeras embarcações participavam do trabalho, sendo que duas delas ficaram incumbidas de garatear (vasculhar o fundo do mar). Também tomou parte nas buscas um helicóptero do Serviço de Buscas e Salvamento, que, no entanto, não teve êxito em sua missão.

Localização - Somente por volta das 19,30 horas é que os encarregados da busca lograram localizar à altura do armazém 29 o restante dos destroços do aparelho. Dado, entretanto, o adiantado da hora, as autoridades da Aeronáutica decidiram que o içamento só se dará na manhã de hoje. Quanto ao corpo do piloto, nenhuma outra parte se encontrou, nem mesmo seu pára-quedas, que, segundo testemunhas, foi rasgado quando da explosão do avião, estando por certo preso à parte não localizada do corpo do capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio.

O ferido - Como já salientamos, além da morte do piloto e de danos materiais de certa monta, em conseqüência do desastre sofreu ferimentos um elemento que viajava na lancha Possante. Trata-se de Hudson Ferreira, marítimo, de 34 anos, casado, residente na Rua Bartolomeu de Gusmão n. 89, em Vicente de Carvalho, o qual apresentava escoriações generalizadas. Depois de atendido no Pronto-Socorro, o marítimo foi dispensado.

Mergulhadores do Grupamento de Bombeiros trabalharam ativamente para a localização dos destroços e do corpo do capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio. O que restou do avião foi encontrado somente por volta das 19,30 horas

Foto publicada com a matéria

Faltou energia - O choque do Gloster Meteor contra os fios de alta tenção originários da Usina da CDS em Itatinga provocou a falta de energia em todo o cais do porto e, em conseqüência, a paralisação dos serviços portuários. A rede foi rebentada, pelo que a CDS está providenciando a reparação dos danos. Enquanto durar o serviço de reparo, alguns bairros abastecidos pela Usina de Itatinga ficarão com o fornecimento de energia prejudicado, tais como o Boqueirão, Ponta da Praia e Macuco.

A Companhia Docas, por sua vez, deverá receber energia da Cidade de Santos - Serviços de Eletricidade e Gás, a fim de evitar que os serviços portuários continuem paralisados.

Somente parte da fuselagem do avião sinistrado foi encontrada.

O restante será içado na manhã de hoje

Foto publicada com a matéria

Graves conseqüências - Afirmamos no início que o desastre poderia atingir a proporções mais graves, isso porque explodiu a aeronave a cerca de 60 metros de várias embarcações pertencentes à Companhia Docas de Santos, ancoradas ao armazém 29, inclusive a cábrea Sansão.

Além disso, a essa hora centenas de trabalhadores se encontravam no local. Aliás, convém assinalar que a reportagem, ao chegar ao local, ouviu de vários operários que o desastre ocorrera em conseqüência da imprudência do piloto que, desgarrado de seus demais companheiros, teria efetuado vôo demasiadamente baixo.


Imagem: reprodução parcial da última página de A Tribuna de 20/2/1965

 

Jato da FAB explodiu no Estuário

 

O avião, segundo as testemunhas, explodiu antes de atingir a água. Seus destroços foram arremessados num raio superior a 500 metros, sendo que alguns deles chegaram a danificar embarcações que passavam pelo local no momento do acidente

 

O clichê mostra, ao alto, à esquerda, quando parte da fuselagem do aparelho era desembarcada de uma lancha da Base Aérea; à direita, a lancha Possante, seriamente danificada; embaixo, à esquerda, parte do avião sinistrado e, finalmente, o inspetor geral da CDS, sr. José Menezes Berenguer, juntamente com funcionários da empresa, quando examinava um pedaço do avião que foi encontrado à altura do armazém 29

Fotos publicadas com a matéria