Imagem: reprodução da primeira página da
A Tribuna de 20/2/1965
Jato da FAB explodiu no estuário
Choque contra rede de alta tensão foi a causa do acidente -
Capitão-aviador teve morte horrível - A aeronave era do tipo Gloster Meteor - Içamento hoje
Lanchas do Grupamento de Bombeiros e
da Companhia Docas de Santos
vasculham a área onde caiu o avião,
observadas por um helicóptero
do Serviço de Buscas e Salvamento da
Força Aérea Brasileira
Foto publicada com a matéria
Um jato do tipo Gloster Meteor pertencente à Força Aérea Brasileira, sediado na Base Aérea
de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, explodiu por volta das 15,30 horas de ontem, no estuário do porto local, entre os armazéns 27 e 29 da Companhia
Docas de Santos. O aparelho era pilotado pelo capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio e fazia parte de uma esquadrilha de quatro aeronaves que
minutos antes haviam iniciado exercícios de acrobacia a baixa altura. O piloto teve morte instantânea, sendo possível localizar apenas partes de
seu corpo. As demais aeronaves, logo após o desastre, tomaram o rumo do Rio de Janeiro.
Populares que se encontravam nas
imediações do local do desastre
acompanharam os serviços de buscas
Foto publicada com a matéria
O desastre
Segundo o depoimento de vários elementos que na hora do desastre trabalhavam no trecho
compreendido entre os armazéns 27 e 29 da CDS, o aparelho voava baixo, ou seja, realizava um vôo rasante, quando bateu contra os fios de alta
tensão (44 mil volts) localizados à altura do armazém 27. Esses fios são sustentados por torres de aproximadamente 60 metros, o que dá uma idéia
da altura a que o aparelho voava.
No impacto com os fios a aeronave perdeu parte da fuselagem e ficou completamente desgovernada;
todavia, percorreu ainda cerca de 400 metros em direção ao mar, explodindo antes mesmo de tocar a água. Com a explosão, ouvida até pelos moradores
de Guarujá, o aparelho desintegrou-se, sendo os destroços lançados num raio de mais de 500 metros.
No momento da explosão do aparelho, navegava pelo estuário uma pequena lancha, a Possante,
que rebocava dois chatões empregados no transporte de banana, o Rio Icanhema e o Silva Jardim. Este último naufragou em conseqüência
das avarias sofridas. Um dos tripulantes da lancha Possante sofreu ferimentos.
O chatão Silva Jardim foi
atingido por um estilhaço do avião. Em conseqüência, a embarcação, que é utilizada no transporte de banana, naufragou
Foto publicada com a matéria
Primeiros socorros - Os primeiros socorros foram prestados pelos componentes da guarnição
de uma lancha da Polícia Marítima que se encontrava nas imediações do local do desastre. A tripulação da embarcação
logrou recolher parte do corpo do capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio e pedaços da nacelle do aparelho. Mais tarde chegaram ao local
duas lanchas do Grupamento de Bombeiros, que realizaram buscas para localizar o restante do aparelho, no fundo do mar.
Ao mesmo tempo, chegava também o capitão dos Portos, comandante Roberto Coutinho Coimbra; o
comandante da Base Aérea, tenente-coronel Joinvile Rosa, além de vários delegados de Polícia e o inspetor-geral
da Companhia Docas de Santos, engenheiro José Menezes Berenguer.
Por volta das 16,20 horas, vários fragmentos do aparelho já haviam sido localizados, inclusive em
frente ao armazém 30. A essa altura, inúmeras embarcações participavam do trabalho, sendo que duas delas ficaram incumbidas de garatear
(vasculhar o fundo do mar). Também tomou parte nas buscas um helicóptero do Serviço de Buscas e Salvamento, que, no entanto, não teve êxito em sua
missão.
Localização - Somente por volta das 19,30 horas é que os encarregados da busca lograram localizar
à altura do armazém 29 o restante dos destroços do aparelho. Dado, entretanto, o adiantado da hora, as autoridades da Aeronáutica decidiram que o
içamento só se dará na manhã de hoje. Quanto ao corpo do piloto, nenhuma outra parte se encontrou, nem mesmo seu pára-quedas, que, segundo
testemunhas, foi rasgado quando da explosão do avião, estando por certo preso à parte não localizada do corpo do capitão-aviador João Jorge
Macieira Gaio.
O ferido - Como já salientamos, além da morte do piloto e de danos materiais de certa
monta, em conseqüência do desastre sofreu ferimentos um elemento que viajava na lancha Possante. Trata-se de Hudson Ferreira, marítimo, de
34 anos, casado, residente na Rua Bartolomeu de Gusmão n. 89, em Vicente de Carvalho, o qual apresentava
escoriações generalizadas. Depois de atendido no Pronto-Socorro, o marítimo foi dispensado.
Mergulhadores do Grupamento de
Bombeiros trabalharam ativamente para a localização dos destroços e do corpo do capitão-aviador João Jorge Macieira Gaio. O que restou do avião
foi encontrado somente por volta das 19,30 horas
Foto publicada com a matéria
Faltou energia - O choque do Gloster Meteor contra os fios de alta tenção
originários da Usina da CDS em Itatinga provocou a falta de energia em todo o cais do porto e, em conseqüência, a paralisação dos serviços
portuários. A rede foi rebentada, pelo que a CDS está providenciando a reparação dos danos. Enquanto durar o serviço de reparo, alguns bairros
abastecidos pela Usina de Itatinga ficarão com o fornecimento de energia prejudicado, tais como o Boqueirão,
Ponta da Praia e Macuco.
A Companhia Docas, por sua vez, deverá receber energia da Cidade de Santos - Serviços de
Eletricidade e Gás, a fim de evitar que os serviços portuários continuem paralisados.
Somente parte da fuselagem do avião
sinistrado foi encontrada.
O restante será içado na manhã de hoje
Foto publicada com a matéria
Graves conseqüências - Afirmamos no início que o desastre poderia atingir a proporções
mais graves, isso porque explodiu a aeronave a cerca de 60 metros de várias embarcações pertencentes à Companhia Docas de Santos, ancoradas ao
armazém 29, inclusive a cábrea Sansão.
Além disso, a essa hora centenas de trabalhadores se encontravam no
local. Aliás, convém assinalar que a reportagem, ao chegar ao local, ouviu de vários operários que o desastre ocorrera em conseqüência da
imprudência do piloto que, desgarrado de seus demais companheiros, teria efetuado vôo demasiadamente baixo.
Imagem: reprodução parcial da última
página de A Tribuna de 20/2/1965
Jato da FAB explodiu no Estuário
O avião, segundo as testemunhas, explodiu
antes de atingir a água. Seus destroços foram arremessados num raio superior a 500 metros, sendo que alguns deles chegaram a danificar embarcações
que passavam pelo local no momento do acidente
O clichê mostra, ao alto, à esquerda,
quando parte da fuselagem do aparelho era desembarcada de uma lancha da Base Aérea; à direita, a lancha Possante, seriamente danificada; embaixo,
à esquerda, parte do avião sinistrado e, finalmente, o inspetor geral da CDS, sr. José Menezes Berenguer, juntamente com funcionários da empresa,
quando examinava um pedaço do avião que foi encontrado à altura do armazém 29
Fotos publicadas com a matéria |