Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0347k.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/15/10 10:07:26
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Profissões
Atividades que vão desaparecendo (10)

Com o tempo, diversas atividades acabam ou são substituídas por outras
Leva para a página anterior
Matéria publicada no jornal A Tribuna, em 22 de fevereiro de 2010 (página A-5):
 


Português de nascimento, seu Nelson montou salão próprio na Carvalho de Mendonça em 1940
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria

PERSONAGEM
A hora de pendurar a navalha
Barbeiro mais antigo de Santos, seu Nélson, aos 87 anos, pensa em parar de trabalhar após sete décadas

Da Redação

Seu Nelson pensa em parar de trabalhar. Aos 87 anos, o barbeiro mais antigo da Cidade não perdeu o encanto pelo ofício, mas sente que as pernas começam a cansar. E como o malandro de Chico Buarque, vai aposentar a navalha.

Numa época em que idéias e relações são cada vez mais efêmeras, Nelson Amaral teima. Há sete décadas atendendo no mesmo endereço, viu a mocidade da Rua Carvalho de Mendonça, os fregueses que envelheceram junto com ele e a mudança de hábito que quase lhe tirou o ganha-pão. "Antigamente, fazer barba era só na navalha. Agora, qualquer um pega a giletinha e faz em casa".

Há dez anos, ele chamou a atenção de A Tribuna ao publicar um anúncio. Era para avisar eventuais fregueses desinformados que ainda estava vivo. Não sabe dizer se a propaganda resgatou alguém, mas a clientela habitual se divertiu lendo o classificado: "Tiraram muito sarro".

Português de nascimento, seu Nelson chegou por aqui em 1924, com 2 anos de idade, e foi morar na Nova Cintra. Aos 15, já no Marapé, aprendeu a profissão que seguiria por toda vida. Em 1940, montou salão próprio no 639 de uma Carvalho de Mendonça ainda de terra batida, algumas casas, um açougue e o Bar Paraíso. "Naquele tempo, aqui só passava carro de boi", lembra.

Os carros ganharam motores, o comércio cresceu, a terra virou asfalto. Mas dentro da barbearia, o tempo parece ter corrido mais devagar. Entre os espelhos na parede, o velho motorádio de madeira ainda traz notícias do mundo. E nas mãos do barbeiro, a pedra hume, já aposentada em outros salões, segue cumprindo sua função. "Ajuda na cicatrização", explica ele.

Refém do tempo - A maior mudança em todos esses anos foi o ritmo de trabalho. A modernidade deixou os homens sem tempo de ir ao salão fazer a barba e criou penteados pouco ortodoxos. Seu Nelson não aprendeu a fazer cortes no estilo moicano nem escovas progressivas. O movimento foi caindo, caindo...

Ficaram uns fregueses fiéis, que aparecem sempre por lá, mesmo que seja só para gozar o barbeiro: "Dando entrevista para A Tribuna? Quem te viu e quem te vê".

Seu Nelson ama tudo isso. Mas, como costuma dizer, 70 anos não são 70 dias. Chega o cansaço, a vontade de passar mais tempo com os netos. Acha que vai trabalhar mais um ano ou dois.

Só não sabe o que vai fazer quando a saudade apertar. Confessa que nas folgas grandes sente falta do bate-papo no salão. A idéia de ficar em casa assistindo tevê não é agradável - a não ser em dia de jogo do Santos. Aquela molecada, diz ele, é abusada. "Dei muita risada vendo o Rogério Ceni desabar no chão quando o Neymar bateu o pênalti", diz, referindo-se ao gol do atacante na vitória santista sobre o São Paulo, no último duelo entre as equipes.

Leva para a página seguinte da série