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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Fonte lendária de São Tomé era no Canal 2

Estaria situada nas avenidas Bernardino de Campos e Floriano Peixoto

Existe uma conexão santista, raramente lembrada, nas lendas sobre o caminho do Peabiru e sobre São Tomé (ou Sumé, fundindo-se a tradição católica com antiga lenda indígena) mais conhecidas em São Vicente: uma fonte lendária, que teria existido no cruzamento das avenidas Bernardino de Campos (canal 2) e Floriano Peixoto (rua, na época).

Na sua edição especial de 26 de janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):


"E a Fonte de São Tomé atravessou, assim, algumas centenas de anos"
Ilustração de José Wasth Rodrigues, publicada com a matéria

NA SUA PASSAGEM PELA ILHA DE S. VICENTE
São Tomé deixara sua pegada numa laje...

A lenda santista formada nos primeiros tempos da colonização, em torno da Fonte de São Tomé

A lenda de Sumé, o falado Sumé indígena, teve origem em Santos; não era mais do que o São Tomé dos portugueses, e remonta aos primeiros tempos de São Vicente, quando a região era ainda ocupada e dominada pela gente do Bacharel, em aliança com Piqueroby, o principal dos chefes guaianases.

A Fonte de São Tomé era na altura da atual Avenida Bernardino de Campos, em seu cruzamento com a Rua Floriano Peixoto. Havia ali, então, um pequeno outeiro, cercado e bordado e pedrouços e lajes grandes, onde brotava um olho d'água cristalina. Numa das lajes aparecia, estampada na pedra, a configuração de um pé humano, grande demais em suas proporções.

A lenda nascera ali, daquele estranho decalque da natureza.

Quando os homens de Martim Afonso chegaram à nova terra, em grande parte operários, de pouca visão e nenhuma cultura, ignorantes de que no lugar já existira uma pequena civilização, anterior àquela que eles vinham iniciar, notaram que vários pontos da ilha e da região já tinham recebido sementes, encontrando o milho, a mandioca, o feijão, a cana-de-açúcar, a banana, e sinais de criação antiga, porcos e galinhas.

Daí o seu espanto, não dissipado pelo governador e seus nobres, que tudo faziam por esconder, da gente então trazida, as reminiscências de uma vida anterior da colônia, encabeçada e dirigida por um degredado de Portugal.

Prevaleceu, então, a lenda contada por alguns velhos guaianases, fiéis a Antonio Rodrigues, que haviam ficado com ele, naquele canto solitário de Tumiaru, alimentada pelo colono remanescente do povoamento irregular anterior, que explorava o fundo supersticioso do espírito brasílico, enlevando-o com visões e coisas imaginárias, gratas ao sabor mental daquela gente simples e natural que o acompanhava há tantos anos.

Sumé viera do alto, enviado por Tupã, das grandes florestas deliciosas do Toryba (paraíso), chegara àquela fonte para beber, e de tão alto e tão forte, deixara o seu pé impresso na primeira itapéba (laje) que pisou, como sinal eterno de sua passagem pelo lugar.

Ele trazia um grande saco às costas. Chamou a gente da região e, jogando pelo chão um punhado de sementes que enchiam aquele saco, mostrou a todos que do chão brotavam plantas que logo produziam alimento e riqueza, fartura para a tribo, deixando-lhes alguns punhados delas para que as plantassem, desaparecendo, em seguida, sobre as águas da baía. Sumé fora, assim, o pai da agricultura, e por isso aquela terra tinha ainda sinais de sua passagem, lembrança generosa dos grãos e raízes que ele deixara.

Crentes como eram, tão crentes quanto os próprios índios, os homens rudes de Martim Afonso acreditaram e transmitiram às novas gerações surgidas, mestiços e novos colonos, a história que se contava a respeito da fonte.

E a fonte de São Tomé atravessou, assim, algumas centenas de anos, até perder seu prestígio em princípios do século passado (N.E.: século XIX), quando foi arrasada, para aproveitamento do seu material na construção, calçamentos e escadarias de Santos e São Vicente.

Hoje, a Fonte de São Tomé é apenas uma memória, conservada nos livros de Frei Gaspar e outros, e sua lenda uma suave evocação dos primitivos tempos santistas e vicentinos.

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