Imagem: reprodução da página 122 da revista, com vista aérea da capital paulista
São Paulo - A Chicago Detroit latina
Por Thomas E. Stimson, Jr.
Se você pudesse levar um
norte-americano para a cidade de São Paulo no Brasil e depois lhe perguntasse em que lugar no mundo ele estava, as chances são de que sua resposta
seria algo assim:
"Em algum lugar nos Estados Unidos, eu acho. Provavelmente, na Califórnia. Eu não reconheço estes belos edifícios, mas eles são muito novos e
modernos no estilo, e as pessoas, lojas e tráfego parecem todos familiares".
Assemelhando-se a uma típica cidade norte-americana em mais de uma forma, São Paulo tem sido muitas vezes chamada de Chicago da América do Sul.
Do ponto de vista climático é mais como Los Angeles. Mas a sua indústria automobilística em expansão em breve poderá brindar São Paulo com o nome de
"Detroit Latina".
Instalações da Willys-Overland (e seu
sedan criado em 1955), da Fiat e da Daimler-Benz
Fotos: reproduções da página 123 da revista
Automóveis de linhas tanto europeias como norte-americanas estão a caminho de um
boom no Brasil. Um veículo com cinco anos de idade custa tanto como um carro novo nos Estados Unidos, principalmente por causa das taxas de
importação elevadas. Esta filosofia de governo tem a intenção de estimular a produção nacional, e a ideia está funcionando.
Fabricantes estrangeiros estão se mudando para a região de São Paulo com dinheiro e experiência e ergueram montadoras que já estão produzindo. A
Ford está construindo caminhões em São Paulo. No bairro periférico de São Bernardo do Campo, a Willys-Overland produz jipes, a Volkswagen está
completando uma nova fábrica, a Simca já está em operação e a Mercedes-Benz produz tanto carros de passeio como caminhões e vem ampliando suas
plantas industriais. A Chevrolet e a International Harvester estão construindo caminhões também em outras localidades próximas.
Rampa de acesso em concreto do edifício
Verde Mar, em Santos
Fotos: reproduções da página 124 da revista
Essas montadoras esperam produzir 250.000 veículos em 1960. Não é um dado
impressionante? Não, até você perceber que não havia mais do que 750 mil veículos automotores em todo o Brasil há um ano. Para os próximos anos, os
números da produção têm elevação exponencial.
Como exemplo disso, a Willys-Overland do Brasil, tão logo começou sua produção,
descobriu que não seria capaz de acompanhar a demanda. Resultado: outra área, de meio milhão de pés quadrados, está sendo criada às pressas para a
conclusão, incluindo uma indústria laminadora, uma planta industrial de transmissão e edifícios de armazenamento, além de instalações de refeitório,
hospitalares e administrativas. Com estas novas instalações, será possível produzir 104 jipes, 62 peruas Jeep e 84 carros de passeio por dia. Este
carro de passeio é baseado na relativamente pequena Willys sedan de quatro portas, que começou a ser produzida nos Estados Unidos em 1955. Ele vai
competir com os carros europeus no mercado sul-americano.
Entrada de um clube privado paulistano e
vista do trampolim de sua piscina
Fotos: reproduções da página 124 da revista
Há alguns estranhos paradoxos nesta cidade em rápido crescimento. Não é um centro
turístico, mas há cerca de 4 mil norte-americanos na cidade. O Brasil é rico em ferro e carvão, mas um olhar de raios-X para aqueles arranha-céus, o
orgulho de São Paulo, mostra que quase nenhum tem um esqueleto de aço. Muitos são de concreto armado.
Outra esquisitice, e uma das razões para o boom industrial de São Paulo, é a sua energia elétrica abundante. Inteligente engenharia
aproveitou uma situação topográfica única: rios que se originam a apenas alguns quilômetros do Atlântico fluem para o interior em vez de desaguarem
diretamente para o oceano. Isto porque na costa atlântica, a apenas 40 quilômetros a Leste da cidade, o solo se ergue abruptamente em um penhasco
escarpado mais de 3 mil pés acima do nível do mar, e em seguida se inclina para baixo em direção ao interior.
Vale do Anhangabaú: "Rua central em São
Paulo mostra estacionamentos, árvores alinhadas, calçadas, tão bem planejadas como as vias separadas"
Foto: reprodução da página 125 da revista
Para obter eletricidade, os engenheiros inverteram o fluxo de um rio por um sistema de
barragens e usinas de bombeamento e formaram um canal para levar a água de um grande rio que a ele se junta. Agora, a água desviada flui para o
Leste, sendo guardada em reservatórios. Dos reservatórios, mergulha para o nível do mar, e em sua queda faz girar as turbinas da
maior usina de força da América do Sul.
A maior parte da energia é gerada no subsolo na segunda maior usina geradora
subterrânea no mundo. A caverna de força, cortada na rocha sólida, tem 395 metros de comprimento e 130 metros de altura, contendo seis grupos
geradores de mais de 65.000 quilowatts cada. A capacidade total da planta de Cubatão é de 864.000 quilowatts.
"Grandes edifícios de escritórios em
construção refletem a tendência brasileira de arquitetura em concreto reforçado"
Foto: reprodução da página 125 da revista
Menos familiar para os norte-americanos do que o Rio de Janeiro, São Paulo é a maior
cidade do Brasil e o maior centro industrial da América Latina; sua população de 3,2 milhões só é superada em toda a América Latina pela Cidade do
México e por Buenos Aires. O estado de São Paulo, da qual a cidade é a capital, tem aproximadamente o tamanho do Arizona, e cerca de 10 milhões de
habitantes. Principal estado agrícola no Brasil, São Paulo produz 45 por cento de café do país, 60 por cento do algodão e uma alta porcentagem de
açúcar de cana, batata, cítricos e bananas.
Meia dúzia de cidades de 100.000 habitantes se situam dentro de um raio de 60 quilômetros da cidade de São Paulo, e nesses subúrbios industriais há
diversas indústrias como as de vidro e cerâmica, rayon, plásticos, refrigeração, pintura e produtos farmacêuticos. Esta cidade dinâmica e
seus satélites produzem um terço da renda nacional e pagam 43 por cento do imposto de renda do Brasil.
Os paulistas se gabam de que sua cidade usa 40 por cento da eletricidade industrial do
Brasil, produz 46 por cento do produto industrial nacional, é a capital bancária do Brasil, tem três universidades, quatro estações de televisão, e
em seus arredores estão 40 por cento dos jornais do Brasil e 44 por cento das estações de rádio.
Cobertura do edifício "Verde
Mar", em Santos
Foto: reprodução da página 126 da revista
De 1940 a 1950, São Paulo foi a cidade que mais cresceu no mundo e nada indica ainda
que tenha começado a desacelerar. A indústria está se expandindo mais de 10 por cento ao ano. Novas casas estão sendo concluídas a cada seis a oito
minutos. Brotam no horizonte da cidade novas formas a cada vez que você olhar para ele.
E todos os arranha-céus de 20 e 30 andares têm molduras de concreto armado (colunas de concreto e vigas de aço liso derramado em torno, reforçando
varas de 1/2 a 1 1/2 polegadas de diâmetro) com paredes de cortina de tijolo ou telha oca. Um edifício de 45 andares utilizando essa técnica está em
construção, um edifício de 56 andares é planejado. Sem vigas de aço. Por quê?
Engenheiros visitantes dificilmente podem acreditar em seus olhos, quando inspecionam uma cobertura sobrecarregada de concreto armado sólido
com apenas cinco centímetros de espessura, suspensa 10 pés sobre uma calçada. Ou uma coluna de canto para um edifício de escritórios que não é nem
redondo ou quadrado, mas 7 1/2 por 36 polegadas, uma forma projetada para fornecer mais espaço no interior.
Aqui está a explicação. Dr. Oscar Niemeyer, destacado arquiteto brasileiro, estudou concreto reforçado com o famoso Corbusier em Paris durante os
anos 20, viu que era ideal para as condições do Brasil e propôs a Le Corbusier fundar uma escola lá. Essa influência teve uma reação em cadeia. Com
aço caro e difícil de obter e nenhum problema em particular com terremotos, o concreto armado se tornou padrão.
Usina Henry Borden, em Cubatão
Foto: reprodução da página 126 da revista
O Brasil ainda é um país importador de aço, apesar do fato de que, provavelmente, um
quinto do melhor minério de ferro do mundo está localizado no estado de Minas Gerais, Norte do Rio de Janeiro. No Sul do Brasil são as reservas de
carvão estimadas em cinco milhões de toneladas. Carvão e minério são reunidos em Volta Redonda, perto do Rio, na maior usina siderúrgica da América
Latina. A produção de aço, que foi recentemente elevada para 2 milhões de toneladas por ano, está sendo aumentada ainda mais, porém a demanda é tão
grande que a importação deve continuar pelos próximos anos.
Onde há automóveis, são necessárias boas estradas, mas apenas uma pequena percentagem das 200 mil milhas brasileiras de estradas é pavimentada. Um
programa de melhoria está em andamento e vários milhares de milhas de estradas estão sendo pavimentados a cada ano, e está sendo iniciada uma rede
de autoestradas com pedágio. As estradas não melhoradas são uma das razões para a popularidade do jipe, que é usado até mesmo para o serviço de táxi
em algumas áreas rurais.
Devido à falta de boas estradas, o Brasil depende fortemente do transporte aéreo e tem
a fama de ser o segundo, atrás apenas dos Estados Unidos em volume de tráfego aéreo. Isso apesar do fato de que os voos em muitas rotas terminam
antes do escurecer por falta de radioajudas de tráfego aéreo e de instalações para aterrissagem noturna.
O principal aeroporto de São Paulo é o mais movimentado do Brasil, um dos poucos equipados para operações noturnas, e é servido por 25 companhias
aéreas, das quais 14 operam voos internacionais. Este único aeroporto lida com cerca de 8 mil voos regulares comerciais por mês, transportando 100
mil passageiros e 4 milhões de libras de carga.
Jardim em apartamento de cobertura com
graciosa obra decorativa abstrata, um guarda-sol em vigas de concreto
Foto: reprodução da página 127 da revista
Porto marítimo 40 milhas distante
Quarenta milhas distante de São Paulo fica seu porto, Santos, o mais movimentado do Brasil. Mais de 5.000 navios
oceânicos escalam o porto anualmente, com mais de 8 milhões de toneladas de carga. As cidades foram primeiro ligadas por
ferrovia, mais recentemente por uma estrada de alta velocidade em duas pistas.
Dutos sobem a escarpa costeira levando para São
Paulo óleo combustível e gasolina, antes movimentados por trem, mas a ferrovia quase nem nota a perda deste negócio. Está tão ocupada que tem
colocado de volta em serviço algumas das antigas locomotivas a lenha que antigamente rebocavam os comboios por suas linhas. Nos trilhos, mesmo hoje,
você pode ver modernos equipamentos a diesel, locomotivas a vapor convencionais e os primitivos de carvão, todos em atividade.
São Paulo pode ser frio e úmido no inverno, enquanto ao nível do mar Santos goza de um clima tropical o ano inteiro e por isso tornou-se, com as
suas comunidades praianas adjacentes, uma área de recreio por todo o ano. Um típico homem de negócios paulista envia a família para Santos para o
inverno e se junta a ela nos fins de semana.
A natureza cosmopolita de sua população é uma das razões para a sua vitalidade. São Paulo começou como uma missão jesuíta em 1553, tornou-se uma
aldeia em 1660, alcançou o status de cidade em 1711. Começando por volta de 1870, ondas de imigrantes da
Itália, Alemanha, Japão,
Espanha e Portugal se mudaram para essa área. Uma pequena porcentagem
veio dos Estados Unidos, um número de famílias sulistas que se deslocam para São Paulo após a Guerra Civil. O
paulista hoje é descrito como altamente laborioso, individualista e independente.
"Vista a partir do telhado de um alto
prédio de apartamentos mostra muralhas de janelas e canteiros para plantio previstos para os inquilinos"
Foto: reprodução da página 127 da revista
Os 4.000 cidadãos norte-americanos residentes em São Paulo são em sua maioria
funcionários de empresas dos Estados Unidos que investiram um bilhão de dólares na indústria local. A Câmara Americana de Comércio de São Paulo tem
40 anos de idade. O diretor de Economia do Consulado Americano em São Paulo responde a perguntas sobre as condições de vida e oportunidades de
comércio.
Potenciais emigrantes para o Brasil devem se lembrar que embora alguns brasileiros
falem inglês e espanhol, o português é a língua comum. E eles devem saber que a inflação é hoje um problema, que os recém-chegados podem achar que é
difícil fazer face às despesas com uma renda que possa ser considerada adequada nos Estados Unidos. Uma empresa de serviços públicos, por exemplo,
teve de conceder aos seus empregados um aumento salarial de 35 por cento no ano passado.
Parte do
Edifício Sobre as Ondas, no Guarujá, em concreto reforçado
Foto: reprodução da página 128 da revista
Um folheto informativo para os iniciantes tem outras palavras de cautela: é mais
seguro ferver a água de beber. Lavar verduras com produtos químicos antes de cozinhar. Transporte de ônibus em São Paulo, às vezes na hora do
rush representa ficar de pé na fila durante uma hora. A energia elétrica em áreas residenciais, anunciada como 110 volts, pode oscilar entre 90
e 135 volts. A pressão da água é variável. E você pode esperar um ano para ter um telefone instalado.
Mas estas são dores de crescimento de uma cidade em crescimento. São Paulo e o próprio Brasil estão crescendo tão rápido que nem tudo pode manter o
ritmo. Mas é um ritmo progressivo, e São Paulo está correndo em um futuro dinâmico.
Ferry-boat
entre as duas margens do Estuário, entre Santos e Guarujá
Foto: reprodução da página 128 da revista |