Ricócó e sua inseparável flauta ornada com fitas e flores
Foto e legenda publicadas com o texto
Em fase política não me recordo de outra tão agitada
como foi a da eleição para presidente da República e que eram candidatos Ruy Barbosa e Hermes da Fonseca. Foi uma luta titânica entre os civilistas
e hermistas.
Dias antes da eleição as propagandas e as cabalas de ambos os partidos davam já o
aspecto de diversão pública. O Largo do Rosário era o ponto da pescaria de eleitores em cujos anzóis feitos
com verbosidade fluente e melíflua, os pescadores punham iscas de diversos modos: de dinheiro, de ternos de roupa, de sapatos novos,
de chapéu, de empregos garantidos, de promoções e de tudo quanto o grande estoque do armazém das arábias possuía a granel.
Apareceram nessa lufa-lufa os retratos em esmalte dos dois candidatos ao poder.
A mocidade e mesmo a velhice partidárias de um e outro candidato manifestavam a sua
opinião, a sua simpatia, exibido nas lapelas os retratos de Ruy e Hermes. As moças também entraram na luta e a maior parte era civilista.
Para que não faltasse uma nota cômica na séria agitação de se eleger o presidente da
nossa República, o Ricócó, o tipo mais popular daquela época, tomava parte nas reuniões, trajando à pastorinha, tocando numa flauta de cana
do reino, fazendo discursos, dando vivas a Rui - se os civilistas punham-lhe nas mãos uma moeda; e vivas ao Hermes - se os hermistas faziam a mesma
coisa.
Era tão incolor nessa questão eleitoral o nosso pobre Ricocó que usava na fita do
chapéu os pequenos retratos dos dois candidatos em disputa.
Dias depois teria-se o pleito, saindo vencedor o marechal Hermes da Fonseca.
Capa do livro de Carlos Victorino
Exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no
Comércio de Santos
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