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PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
VIII - A naturalidade dos brasileiros e a nacionalidade dos estrangeiros
Estudemos agora o mapa da naturalidade dos brasileiros e
da nacionalidade dos estrangeiros, que vai estampado à página XVII, da parte segunda deste volume.
Havia, em 31 de dezembro, 49.165 brasileiros contra um total de 39.802 estrangeiros,
ou seja um excesso de pouco mais de 19% daqueles sobre estes, reunidos os dois sexos. A população nacional representava 55% e a estrangeira 45% da
cifra total da população.
A população estrangeira masculina, na cidade, era de 13% superior à nacional. Em todo
o Município a percentagem decaiu pela predominância do elemento brasileiro na zona rural, mas ainda assim, conservou uma superioridade de 2½% sobre
a população nacional.
A superioridade dos homens estrangeiros tem sua explicação em duas causas naturais. A
primeira é a imigração, porquanto, geralmente, os imigrantes, sobretudo os portugueses, como o demonstra o mapa, vêm para cá sozinhos. Dos 23.055
portugueses aqui domiciliados, 65% eram varões, dos espanhóis 57% e dos italianos 58%. Da população estrangeira presente em Santos a 31 de dezembro
do ano passado, 63% era de indivíduos do sexo masculino. A segunda causa é a que se relaciona com o excesso de óbitos do sexo masculino sobre os
femininos, nos primeiros anos de vida, o que determina o decréscimo dos algarismos da população nacional daquele sexo.
Os recenseamentos das nações européias, como já o dissemos, demonstram sempre o
predomínio do sexo feminino, em virtude das correntes humanas que emigram para os países novos. Estes, pelo contrário, acusam o excesso do elemento
masculino. O censo de Portugal, efetuado a 1º de dezembro de 1911, acusa um saldo de 302.694 mulheres.
O recenseamento de Santos veio, portanto, confirmar a veracidade da seguinte dupla lei
estatística: "Nos países sem emigração, e com mais razão nos que a têm, as mulheres são mais numerosas que os homens; nos países de grande imigração
e pouca ou nenhuma emigração, os homens sobrepujam numericamente as mulheres".
Todos os Estados brasileiros têm filhos em Santos, domiciliados na zona urbana. Na
zona rural, porém, não há nenhum natural de Goiás; e o Amazonas e o Piauí não têm nela representantes do sexo forte.
Os estados de população mais numerosa estavam assim representados, em ordem
decrescente:
Estados
|
|
Número de brasileiros
|
|
Brasileiros por 100 habitantes
|
H.
|
M.
|
Total
|
H.
|
M.
|
Total
|
S. Paulo |
19.170
|
19.601
|
38.771
|
38
|
49
|
43
|
Rio de Janeiro |
836
|
756
|
1.592
|
1,6
|
1,9
|
1,7
|
Santa Catarina |
323
|
396
|
719
|
0,6
|
1,0
|
0,8
|
Sergipe |
340
|
228
|
568
|
0,6
|
0,5
|
0,6
|
Minas |
271
|
247
|
518
|
0,5
|
0,6
|
0,5
|
Pernambuco |
223
|
258
|
481
|
0,4
|
0,5
|
0,5
|
Bahia |
216
|
200
|
416
|
0,4
|
0,5
|
0,4
|
Distrito Federal |
182
|
180
|
362
|
0,3
|
0,4
|
0,4
|
Rio Grande do Sul |
143
|
174
|
317
|
0,2
|
9,4*
|
0,3
|
*(N.E.: SIC - os números indicam que o percentual deveria ser 0,4 e
não 9,4)
Convém notar que a população de naturais de Sergipe é notoriamente maior que a que se
encontra no mapa. Mas a culpa é das próprias pessoas que preencheram as listas e que responderam deficientemente ao quesito respectivo.
Ao passo que em 39.802 estrangeiros apenas 24 não declararam sua nacionalidade, em
49.165 brasileiros 4.442 deixaram de acusar sua naturalidade. É bem de ver que devem estar incluídos nessa grande cifra os sergipanos, que não foram
recenseados como tais.
O Estado do Rio aparece também com 1.592 filhos residentes em Santos, ao passo que o
Distrito Federal figura apenas com 362. A Comissão de Recenseamento pensa que é isso devido também à má resposta aos quesitos, parecendo-lhe que
grande parte dos algarismos referentes ao Estado do Rio pertencem ao Distrito Federal. Os recenseados responderam simplesmente - Rio de Janeiro,
por terem nascido nessa cidade, e os apuradores, à falta de elementos de investigação, incluíram-nos no Estado fluminense, pois que, conforme as
Instruções distribuídas, os naturais da Capital da República deveriam declarar-se nascidos no Distrito Federal.
Os estados com menos representantes em Santos eram: Goiás, com 1 homem e 3 mulheres, e
Amazonas, com 2 homens e 6 mulheres.
A proporção de paulistas para brasileiros era de 78%, para estrangeiros de 97% e para
o conjunto da população de 43%.
As nações estrangeiras que mais contribuíram para a cifra da nossa população estavam
assim representadas, em ordem decrescente:
Nações
|
|
Número de estrangeiros
|
|
Estrangeiros por 100 habitantes
|
H.
|
M.
|
Total
|
H.
|
M.
|
Total
|
Portugal |
14.986
|
8.069
|
23.055
|
30
|
20
|
25
|
Espanha |
4.828
|
3.515
|
8.343
|
9
|
8
|
9
|
Itália |
2.066
|
1.488
|
3.554
|
4
|
3
|
3
|
Turquia |
602
|
309
|
911
|
1,2
|
0,8
|
1,1
|
Japão |
364
|
287
|
651
|
0,7
|
0,7
|
0,7
|
O Paraguai e o Chile eram as nações que menor número de representantes tinham em nosso
Município: apenas 3 cada qual.
É conveniente observar que o mapa acima abrange toda a população recenseada em 31 de
dezembro, a saber: residentes presentes, residentes ausentes, população à parte e população flutuante, assim terrestre como embarcada.
Os portugueses estavam na proporção de 46% para o total da população nacional, de 57%
para o total da população estrangeira e de 25% para o conjunto da população recenseada.
Os espanhóis e os italianos estavam, respectivamente, na proporção de 16% e 7% para a
população nacional, de 21% e 8% para a população estrangeira e de 9% e 3% para o total da população recenseada.
Os japoneses eram apenas 651, apesar de haver quem suponha que eles se elevavam a mais
de 1.000. O recenseamento dessa colônia foi feito com extremo cuidado, tendo mesmo a Comissão nomeado um intérprete para colher, ao lado dos
agentes, todas as informações necessárias à veracidade do trabalho.
Nos asiáticos em geral figuram mais 34 indivíduos, os quais, entretanto, não aumentam
o número de japoneses, porque naquela cifra estão também incluídos alguns chineses que aqui se achavam no dia do recenseamento.
Deduzindo-se do número total de cada nacionalidade os indivíduos que se achavam de
passagem pelo nosso porto, a bordo de vários navios nele ancorados, teremos a seguinte cifra da população estrangeira efetivamente domiciliada entre
nós:
Nações
|
Número de indivíduos
|
Homens
|
Mulheres
|
Total
|
Alemanha |
171
|
307
|
478
|
Áustria-Hungria |
122
|
104
|
226
|
Argentina |
49
|
75
|
124
|
Bélgica |
24
|
12
|
36
|
Chile |
7
|
3
|
10
|
Espanha |
4.779
|
3.512
|
8.291
|
Estados Unidos |
48
|
32
|
80
|
França |
96
|
122
|
218
|
Holanda |
40
|
30
|
70
|
Inglaterra (Escócia e Irlanda) |
215
|
94
|
309
|
Itália |
1.719
|
1.445
|
3.164
|
Japão |
364
|
287
|
651
|
Paraguai |
7
|
3
|
10
|
Portugal |
14.738
|
8.049
|
22.787
|
Rússia |
53
|
119
|
172
|
Suíça |
34
|
23
|
57
|
Turquia |
572
|
308
|
880
|
Uruguai |
14
|
17
|
31
|
Africanos em geral |
--
|
4
|
4
|
Americanos em geral |
13
|
7
|
20
|
Asiáticos em geral |
26
|
3
|
29
|
Europeus em geral |
96
|
70
|
166
|
Ignoradas |
17
|
8
|
25
|
Soma
|
23.204
|
14.634
|
37.838
|
Há ainda a deduzir as cifras relativas a forasteiros vindos dos Estados do Sul, da
Capital da República, do interior e da Capital de S. Paulo, e que aqui se achavam eventualmente na noite de 31 de dezembro de 1913.
Façamos agora o cotejo destes algarismos com os algarismos do censo de 1872:
Províncias, hoje Estados
|
|
Número de indivíduos brasileiros
|
1872
|
|
1913
|
H.
|
M.
|
Total
|
H.
|
M.
|
Total
|
Amazonas |
--
|
--
|
--
|
5
|
6
|
11
|
Pará |
--
|
--
|
--
|
25
|
16
|
41
|
Maranhão |
--
|
--
|
--
|
40
|
28
|
68
|
Piauí |
--
|
--
|
--
|
11
|
9
|
20
|
Ceará |
--
|
--
|
--
|
96
|
73
|
169
|
Rio Grande do Norte |
--
|
--
|
--
|
117
|
38
|
155
|
Paraíba do Norte |
--
|
--
|
--
|
73
|
45
|
118
|
Pernambuco |
--
|
--
|
--
|
223
|
258
|
481
|
Alagoas |
7
|
--
|
7
|
97
|
43
|
140
|
Sergipe |
10
|
--
|
10
|
340
|
228
|
568
|
Bahia |
105
|
106
|
211
|
216
|
200
|
416
|
Espírito Santo |
--
|
--
|
--
|
17
|
22
|
39
|
Rio de Janeiro |
40
|
47
|
87
|
836
|
756
|
1.592
|
S. Paulo |
3.339
|
2.817
|
6.156
|
19.170
|
19.601
|
38.771
|
Paraná |
403
|
110
|
513
|
74
|
112
|
186
|
Santa Catarina |
--
|
--
|
--
|
323
|
396
|
719
|
Rio Grande do Sul |
--
|
--
|
--
|
143
|
174
|
317
|
Minas |
926
|
885
|
1.811
|
271
|
247
|
518
|
Goiás |
78
|
100
|
178
|
1
|
3
|
4
|
Mato Grosso |
28
|
22
|
50
|
15
|
13
|
28
|
Distrito Federal |
--
|
--
|
--
|
182
|
180
|
362
|
Soma
|
4.936
|
4.087
|
9.023
|
24.427
|
24.738
|
49.165
|
O Município Neutro, hoje Distrito Federal, não consta da nomenclatura do mapa de 1872,
parecendo que os seus representantes foram absurdamente incluídos na antiga Província do Rio de Janeiro.
Do estudo comparativo resulta que, há 41 anos, apenas 9 províncias tinham filhos
domiciliados em Santos, ao passo que agora todos os Estados têm aqui os seus representantes. Das Províncias do Norte, apenas Alagoas, com 7 varões,
Sergipe com 10 e Bahia com 105 homens e 106 mulheres, residiam em Santos naquele ano. Do Sul, o Rio Grande e Santa Catarina, cujas colônias são
atualmente numerosas, não tinham aqui um só filho.
Em compensação, o Paraná, que contribuía, então, para a cifra total da população
brasileira, com um contingente de 513 indivíduos, está hoje com a sua colônia reduzida apenas a 186. Minas Gerais, que era a contribuição numérica
mais forte - 1.811 indivíduos - está hoje reduzida à terça parte - 518 pessoas. Goiás, que contava cerca de 200 filhos, não tem hoje mais que 4; e
Mato Grosso cinge-se hoje a pouco mais da metade.
A proporção das Províncias e Estados numericamente mais fortes, em relação à massa
geral da população, nos anos respectivos, era a seguinte:
Estados
|
|
Brasileiros por 100 habitantes
|
1872
|
|
1913
|
H.
|
M.
|
Total
|
H.
|
M.
|
Total
|
S. Paulo |
66
|
67
|
66
|
38
|
49
|
43
|
Minas Gerais |
18
|
21
|
19
|
0,5
|
0,6
|
0,5
|
Rio de Janeiro |
0,8
|
1,0
|
0,9
|
1,6
|
1,9
|
1,7
|
Santa Catarina |
--
|
--
|
--
|
0,6
|
1,0
|
0,8
|
Sergipe |
0,2
|
--
|
0,2
|
0,6
|
1,5
|
0,6
|
Paraná |
8
|
2
|
5,1
|
0,1
|
2
|
2
|
Bahia |
2
|
2
|
4
|
0,4
|
0,5
|
0,4
|
Vê-se que os principais elementos da população brasileira decresceram em relação à
massa geral da população, nos 41 anos decorridos do censo imperial, o que se explica pelo acréscimo constante da imigração que para aqui afluiu.
A cifra de estrangeiros em 1872 era muito pequena para que valha a pena estabelecer-se
qualquer comparação com a do ano de 1913.
Adotaram a nacionalidade brasileira, segundo se vê do mapa da
página XIX, 3.802 indivíduos.
A proporção de naturalizados por 100 estrangeiros era esta:
|
H.
|
M.
|
Total
|
População aglomerada .......... |
8,9
|
8,6
|
8,8
|
População esparsa ............... |
14,0
|
12,0
|
13,3
|
Total de naturalizados .......... |
9,7
|
9,1
|
9,5
|
A proporção de naturalizados em relação ao número das respectivas nacionalidades de
origem, era a seguinte, em ordem descendente:
Estrangeiros que adotaram
a nacionalidade brasileira
|
Por 1.000
estrangeiros
|
1 - Uruguaios |
161
|
2 - Italianos |
120
|
3 - Suíços |
118
|
4 - Belgas |
112
|
5 - Argentinos |
111
|
6 - Franceses |
105
|
7 - Espanhóis |
102
|
8 - Austro-Húngaros |
97
|
9 - Portugueses |
96
|
10 - Alemães |
95
|
11 - Turcos |
86
|
12 - Russos |
83
|
13 - Holandeses |
26
|
14 - Ingleses |
18
|
Da demonstração resulta que nas três maiores colônias aqui domiciliadas - a
portuguesa, a espanhola e a italiana - a tendência para adotar a nacionalidade brasileira está na razão inversa de sua massa numérica. Em primeiro
lugar figuram os italianos, depois os espanhóis e, finalmente, os portugueses.
É de notar que estes, não obstante a identidade de costumes, de língua e de tradições,
revelam fracas disposições para se identificar com o povo brasileiro, no tocante à sua incorporação à nossa vida política, pois figuram no nono
lugar da escala, fato que se observou também no recenseamento de 1893, da Capital do Estado, o qual evidenciou que os alemães, os franceses, os
suíços, os belgas e os norte-americanos tendiam mais que os portugueses a comparticipar politicamente os nossos destinos.
Nas três grandes colônias a que nos referimos, observou-se também que o grau de
adaptação à nossa existência política está na razão direta do grau de instrução dos indivíduos, como se vê deste rápido confronto:
|
Analfabetos por
1.000 indivíduos
|
Estrangeiros que adotaram a nacionalidade
brasileira por 1.000 indivíduos
|
Portugueses |
66,62
|
96
|
Espanhóis |
61,72
|
102
|
Italianos |
60,62
|
120
|
Os elementos menos incultos revelaram-se mais aptos a adotar a nossa nacionalidade.
No mapa figuram em primeiro lugar os uruguaios e logo depois os italianos. Seguem-se
os suíços e os belgas, cuja posição é exatamente igual à que lhes deu em S. Paulo o censo de 1893. Vêm depois os argentinos e os franceses (estes,
em S. Paulo, ocupavam o segundo lugar da escala, imediatamente depois dos alemães, que ocupavam o primeiro lugar). Os austro-húngaros, que na
Capital estavam em sétimo lugar, aqui se acham em oitavo. Os alemães vêm logo abaixo dos portugueses, 1 por 1.000 menos que estes. Seguem-se as
outras nacionalidades.
Releva repetir que os nossos cálculos são feitos sobre o conjunto da população
recenseada, inclusive a população de bordo, circunstância que não invalida tais cálculos, pois a população flutuante se renova todos os dias,
formando uma cifra média mais ou menos estável, pelo balanço entre os que entram e os que saem.
Imagem publicada no livro
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