Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0287j08.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/17/10 19:48:59
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TELECOMUNICAÇÃO
Um século de telecomunicações (10-H)

Leva para a página anterior
Datam dos anos finais do século XIX as primeiras referências sobre os serviços de telecomunicações em Santos. E, apesar de ser importante porto e estar próxima a centros de negócios como a capital paulista, só na década de 1980 (como o resto do Brasil) começou a ter serviços como a discagem direta à distância. Passou pelas eras dos telegramas, do telex, do fac-símile (fax ou telefax), do videotexto, dos BBSs e desembarcou na Internet, com todos os seus recursos.

Clique na imagem para voltar ao índice da obraUm pouco da história da telefonia brasileira está neste álbum, editado em novembro de 1984 pela empresa Telecomunicações de São Paulo S.A. (Telesp), em comemoração ao 100º aniversário da instalação dos serviços telefônicos em São Paulo. Este exemplar (número 1.091, de uma edição de 3.000 exemplares) fazia parte da biblioteca mantida pelas telefonistas do posto telefônico santista (Tráfego). Quando a empresa foi privatizada e se desfez de muitos de seus arquivos, em 7 de julho de 1989, este álbum foi oferecido a um dos funcionários, Francisco Vazques Carballa, que o mantém no seu acervo. Continua aqui a transcrição integral da obra, de 150 páginas não numeradas:

Onde o cemitério está na Consolação e a cadeia na Liberdade

Carl von Koseritz, um jovem alemão que veio ao Brasil aos 21 anos, engajado em tropa mercenária da qual mais tarde se afasta para tornar-se professor, jornalista e político, destaca em seu ensaio Imagens do Brasil:

"São Paulo é uma bela cidade que, no ano de 1875, possuía ao todo 20.205 habitantes e que hoje, decorridos nove anos, conta cerca de 35.000 almas. (...) A cidade, que é das mais velhas do Brasil, tem o aspecto de todas as velhas cidades. Na parte antiga as ruas são estreitas, tortuosas, ligadas em todas as direções es interrompidas por uma quantidade de praças pequenas e irregulares, como por exemplo as da Sé e Sete de Setembro, a Praça Municipal, o Largo do Rosário e mesmo o Largo de São Bento. Há becos que não têm mais de 20 ou 30 passos de comprimento, pois casas ou igrejas levantadas no meio de uma rua a dividem em dois becos.

"Em resumo, o caráter de todas as velhas cidades, o qual nos faz pensar nos tempos em que não havia câmaras municipais com engenheiros e outros empregados no gênero. A parte nova, que se estende para o Sul e para o Norte, aquém do Anhangabaú, é regularmente construída, possui quarteirões bem desenhados, ruas largas e tem aspecto moderno.

"Com o meu amor pelas velharias, a antiga cidade me pareceu mais amável, ainda que possua demasiado número de igrejas, coisa chocante para um homem pouco habituado a elas. A cidade, com os seus 35.000 habitantes, possui nada menos de 19 igrejas, sem contar várias igrejas e conventos que são hoje destinados a fins oficiais, como por exemplo o palácio presidencial. (...) E que igrejas! Edifícios enormes, construídos na sua maior parte de taipa, mas que ainda estão de pé. E será difícil demoli-las, pois com o tempo a taipa empregada, que é de qualidade especial, se petrifica. No coração da cidade, em uma distância de três quadras, se encontram sete igrejas, uma sempre olhando para a outra e às vezes nascidas aos pare e se tocando como os irmãos siameses.

"Antigamente São Paulo tinha 17 conventos, mas agora só possui 4, que são os da Luz, São Bento, Carmo e Santa Tereza. De todos, o dos beneditinos é o mais rico. Não tem monges e é dirigido por um abade vindo da Bahia. Este abade parece ser informado das novas concepções financeiras, pois alugou os muros da sua igreja para anúncios coloridos, no estilo do Rio.

"A vida da capital se concentra no Triângulo, que é formado pelas ruas de São Bento, Direita e da Imperatriz. A Rua de São Bento, que é a mais importante da cidade, prolonga-se do largo do velho convento de São Francisco, no qual se acha a Universidade, até a praça do convento dos beneditinos. É estreita e não muito arejada; mas ali se concentrou todo o comércio da cidade e a rua possui alguns belos edifícios como a esplêndida casa do dr. Antonio Prado e o grande prédio do Grande Hotel.

"Virando-se da Rua de São Bento para a Rua Direita, admira-se a grande animação, as vitrinas etc. É uma rua bonita e larga, que lembra muito o Rio; quiosques com bandeirolas, anúncios coloridos em todas as paredes, grandes lojas etc., dão a esta rua um aspecto de grande cidade, que não se nota nas outras.

"A hipotenusa é a Rua da Imperatriz, muito larga na parte inferior mas que depois se estreita e se bifurca em uma quantidade de becos e bequinhos. Aqui está a grande confeitaria de Nagel, com fábrica de gelo, aqui estão as lojas de Garraux e de outras firmas conhecidas. É uma bonita rua, com muitas lojas elegantes.

"Aquele Triângulo (...) forma a parte mais animada da cidade, o local de passeio dos estudantes e o ponto de encontro de todas as personalidades de marca. Quem passa pelo meio-dia ou à tarde nas três ruas, encontra todos os seus conhecidos e, se falhar algum, então vai-se pelos estreitos becos até o Largo do Rosário, de onde partem os bondes e, no Café Java ou diante dele, encontrará quem procura.

"São Paulo tem um bem organizado sistema de bondes. Uma linha vai até o Brás (cerca de uma hora distante), uma outra, não muito mais curta, até a Liberdade. Mais adiante uma para Santa Cecília, outra para o Comércio da Luz, outra para a Consolação e agora o eminente engenheiro alemão dr. Alfredo Kuhlmann constrói uma linha para Santo Amaro, que terá muito futuro.

"A cidade tem água abundante e é iluminada a gás. É calçada em quase toda a extensão, mas somente nas ruas principais o calçamento é a paralelepípedos, como no Rio. O resto é ainda com pedras irregulares e as calçadas laterais são de grandes lajes de granito. Em todas as praças há carros de aluguel e também se vêem muito belas carruagens particulares, atreladas em excelentes meio-sangues, porque os habitantes do rico São Paulo apreciam muito os cavalos de raça, coisa em que estão fazendo inveja aos riograndenses.

"Uma particularidade de São Paulo: parece que os paulistas eram em geral idealistas, pois deram nomes curiosos a partes de sua cidade. Assim, o lugar mais solitário da zona nova se chama Campos Elíseos e uma pequena ilha no ribeirão Anhangabaú, onde está o quartel-general das lavadeiras, se chama Ilha dos Amores! O cemitério está na Consolação e a cadeia na Liberdade (...).

"São Paulo é uma bela cidade e sobretudo muito capaz de se expandir, pois ainda lhe resta dez vezes o espaço que atualmente está coberto por casas".

Leva para a página seguinte da série