Emissário será debatido em reunião
O prefeito João Paulo Tavares Papa, os procuradores Antônio José Donizetti
Molina Daloia e Luiz Antônio Palácio Filho, além de técnicos da Sabesp, reúnem-se hoje, às 14 horas, para discutir a situação da plataforma do
Emissário Submarino. Os representantes do Ministério Público Federal (MPF) entendem que a praia deve ter suas características originais restauradas.
POLÊMICA - Ministério Público Federal entende que
a plataforma do emissário descaracteriza a praia
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria
Segunda-feira, 8 de
Maio de 2006, 07:56
EMISSÁRIO
MPF responsabiliza Sabesp e a Prefeitura
Procuradores da República insistem na retirada da plataforma
Da Reportagem
Procuradores da República que atuam no caso da
plataforma do Emissário Submarino acusam a Prefeitura de contrariar os interesses da Cidade ao defender a Sabesp em processo que tramita na Justiça
Federal.
"Causa estranheza o fato de a Prefeitura ter defendido a Sabesp em juízo", dizem os
procuradores Antônio José Donizetti Molina Daloia e Luiz Antônio Palácio Filho, em resposta a questionamentos feitos por e-mail, por A
Tribuna, no início da semana passada.
Daloia e Palácio são os responsáveis pela ação civil pública que resultou em uma
liminar que proíbe qualquer intervenção física na plataforma, temporária ou permanente. Eles não quiseram conceder entrevista falada, como fora
solicitado por A Tribuna. Prefeitura e Sabesp são rés no processo.
Remoção do aterro - Conforme a ação, impetrada em abril do ano passado, os
procuradores querem que a Sabesp restaure as características originais daquele trecho da Praia do José Menino, retirando a plataforma. A tubulação
do emissário não seria afetada.
A remoção do que o MPF chama de "aterro" foi acertada entre Sabesp e União na época da
construção do emissário de esgotos, na década de 70. Daloia e Palácio acusam a empresa de não ter honrado o compromisso.
"A ação visa o tratamento adequado para a área, ou seja, que a Sabesp seja
responsabilizada pelo dano que causou ao deixar irregularmente o aterro no local, descumprindo o compromisso e o projeto original do emissário",
alegam.
Por isso, enquanto não ocorre a retirada, os procuradores pedem que à Justiça condene
a estatal a realizar e implantar melhorias, como iluminação, segurança e ajardinamento - serviços que hoje são custeados pela Prefeitura.
Em primeira análise, a solicitação não foi atendida pelo juiz da 4ª Vara Federal de
Santos, Marcelo Souza Aguiar (veja quadro). O MPF já entrou com recurso para reformar a decisão.
"Cabe à Sabesp, e não aos munícipes de Santos, arcar com os custos de tratamento
adequado da área", frisam os procuradores. "A postura da Prefeitura contraria os interesses do próprio Município, na medida em que, ao defender a
Sabesp e pretender efetuar gastos elevados com o local, faz com que os próprios munícipes tenham de arcar com os custos do tratamento da área,
deteriorada por terceiro, no caso, a Sabesp".
Urbanização - Os gastos a que os procuradores se referem são os investimentos
planejados pelo Governo Papa para a criação de uma área de lazer na plataforma. O projeto, batizado de As ondas - Santos 21, está em estudo,
mas não pode ser executado devido às restrições impostas pela Justiça Federal, com base na ação civil pública do MPF. A festa de inverno,
tradicionalmente realizada na área do emissário, também está vetada.
"Mesmo diante da condição de provisoriedade da plataforma, a Prefeitura por diversas
vezes tratou o local de forma irregular, inclusive para a construção de edificação de grande porte", argumentam os procuradores, numa clara
referência às obras do Museu Pelé, que chegaram a ser iniciadas em 2003, mas foram embargadas por decisão judicial.
Divisão - O caso da plataforma divide a população santista. Alguns setores
criticam a postura do MPF, que estaria impedindo a urbanização de uma das últimas áreas nobres ainda desocupadas na Cidade. O local sofre com o
abandono e já foi palco de manifestações a favor da urbanização, como a ocorrida no último dia 23, com a participação de aproximadamente 600
pessoas.
Por outro lado, há correntes da sociedade que apóiam
os procuradores. "É relevante esclarecer", sustentam Daloia e Palácio, "que o MPF recebeu muitas mensagens sobre a plataforma, sendo a imensa
maioria de apoio".
Serviço - Para ler a ação civil pública do MPF na
íntegra e as notas oficiais já divulgadas pelos procuradores, acesse www.prsp.gov.br/santos e clique em
Plataforma do Emissário.
Segundo os procuradores federais, a remoção do
"aterro" foi acertada entre Sabesp e União
Foto: arquivo, publicada com a matéria
Segunda-feira, 8 de Maio de
2006, 07:58
ENTREVISTA: Antônio José Donizetti Molina Daloia e Luiz Antônio Palácio Filho,
procuradores federais
"A ação busca uma melhor solução para a Cidade"
Os procuradores do MPF Antônio José Donizetti Molina Daloia e Luiz Antônio Palácio
Filho dizem que a Prefeitura não pode repassar aos munícipes os gastos com a manutenção da plataforma do Emissário Submarino. O ônus, segundo eles,
cabe à Sabesp. Leia a seguir a entrevista que os procuradores concederam por e-mail a A Tribuna, na semana passada.
A Tribuna - Qual a avaliação dos procuradores sobre o posicionamento da
Prefeitura com relação ao emissário?
Antônio José Donizetti Molina Daloia e Luiz Antônio Palácio Filho - Quatro
pontos devem ser considerados. Em primeiro lugar, causa estranheza o fato de a Prefeitura ter defendido a Sabesp em juízo. A população santista
possui o direito de que a Sabesp, causadora do dano, seja responsabilizada pelo custeio do adequado tratamento da área. Portanto, a postura da
Prefeitura contraria os interesses do próprio município, na medida em que, ao defender a Sabesp e pretender efetuar gastos elevados com o local, faz
com que os próprios munícipes tenham de arcar com os custos do tratamento de área deteriorada por terceiro, no caso, a Sabesp.
O segundo ponto é que, mesmo diante da condição de provisoriedade da plataforma do
emissário, a Prefeitura por diversas vezes tratou o local de forma irregular, inclusive para a construção de edificação de grande porte, além disso
custeada com recursos públicos e destinada à exploração privada, que certamente pode ser realizada em outra área que não na praia.
O terceiro aspecto está relacionado com a realização de empreendimentos paralelos no
local, de grandes proporções, que, além de privatizar área de uso comum do povo, causam diversos incômodos e até acidentes, e também motivam
reclamações por parte da população.
O quarto aspecto é a falta de cessão da União para tais obras no local, que é bem
ambiental e de uso comum do povo. Diante das irregularidades, foi necessário, inclusive, acionar a Prefeitura para impedi-la de praticar estas e
outras irregularidades e de continuar gastando recursos dos munícipes na área degradada pela Sabesp.
AT - Os procuradores acreditam, de fato, que um dia será possível remover a
plataforma e deixar a Praia do José Menino como originalmente era?
Daloia e Palácio - A possibilidade técnica não foi descartada até o momento.
Ademais, a TV Tribuna divulgou recentemente estudos do Instituto Geológico apontando as graves conseqüências para as praias da região decorrentes da
omissão da Sabesp em remover o aterro irregular do emissário.
AT - Caso a Sabesp não faça a remoção, os procuradores pretendem cobrar alguma
punição judicialmente em uma ação específica?
Daloia e Palácio - A ação civil pública possui pedido de multa para o caso de,
após decisão judicial em tal sentido, a Sabesp se recusar a cumprir a obrigação. Ainda assim, as leis asseguram outros instrumentos para garantir o
cumprimento das decisões judiciais. Além disso, é importante ressaltar que a ação proposta pelo MPF e pela União também pede que a Sabesp seja
obrigada a efetuar a manutenção da área, através da realização de melhorias para o uso comum da população, como iluminação, segurança e
ajardinamento, enquanto a plataforma não for removida.
AT - Há alguma possibilidade de acordo entre o MPF e a Prefeitura, no sentido
de permitir o uso da plataforma de maneira legal e ambientalmente correta?
Daloia e Palácio - Há, desde que os réus cumpram suas obrigações legais.
AT - O MPF sofre críticas porque teria elaborado a ação sem ouvir setores da
sociedade interessados na urbanização da plataforma. Essas críticas procedem?
Daloia e Palácio - Essas críticas não procedem. Reafirma-se, é importante que a
população santista e da região tenha acesso à informação de qualidade, pois, conforme pode ser observado, a ação proposta pelo MPF e pela União
busca uma melhor solução para a população e para a Cidade, pois pretende que a área seja mantida em condições adequadas para uso comum da população,
mas quer que o trabalho seja custeado por quem causou o dano à praia e ao mar, ou seja, pela Sabesp.
Portanto, a Imprensa possui um relevante papel no estado democrático, com o dever de
informar corretamente a população santista e da região. O interesse público defendido pelos autores decorre da correta e efetiva aplicação da
Constituição Federal e das leis e, portanto, a decisão judicial está correta na parte em que impediu a Prefeitura de interferir no local.
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"O trabalho deve ser custeado
por quem causou o dano à praia e ao mar, ou seja, pela Sabesp"
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Segunda-feira, 8 de Maio de
2006, 08:00
Papa rebate e nega estar contrariando interesses da Cidade
O prefeito João Paulo Tavares Papa disse ontem que o Ministério Público Federal (MPF)
"extrapolou" ao avaliar o posicionamento da Prefeitura no processo judicial da plataforma do emissário. "Não fui eleito para contrariar interesses
da Cidade, e sim para interpretá-los e fazê-los acontecer", rebateu Papa. "O fato de não concordar com os procuradores não significa que eu esteja
indo contra os interesses dos santistas".
O prefeito disse que até gostaria de ver a Sabesp arcando com os custos de conservação
da plataforma, como quer o MPF. "Nós economizaríamos um bom dinheiro". Mas ele teme que isso leve tempo demais para acontecer. "Sabemos que a
Justiça nem sempre é ágil. E uma ação como essas pode levar uma eternidade para ter um desfecho".
Na visão de Papa, o mais novo projeto da Prefeitura para a plataforma, denominado
As Ondas, não impede que no futuro o aterro do emissário seja removido, como desejam os procuradores. "Não estamos propondo grandes
edificações", explica, diferenciando essa das outras propostas de uso da plataforma, como a construção do Museu Pelé.
"Queremos apenas urbanizar, fazer uma extensão do jardim da praia e da ciclovia. Se
daqui a 30 anos a Justiça decidir que a plataforma tem que ser removida, remove-se a plataforma. Mas a urbanização terá cumprido seu papel nesse
período". A Sabesp foi procurada, mas informou que não se pronunciará sobre o caso, pois o processo ainda está sub judice.
Acordo - Hoje, às 14 horas, Papa, técnicos da Sabesp e os dois procuradores da
República que atuam no caso estarão reunidos na sede do MPF, no Centro. O encontro foi convocado pela Justiça Federal. Na pauta, estará a realização
da festa de inverno, que tradicionalmente ocorre na plataforma. Conforme a decisão em vigor, o evento também está proibido.
A intenção da Prefeitura é flexibilizar a liminar que impede intervenções físicas na
área para poder promover a festa, que beneficia entidades assistenciais. "Já estudamos outros locais, mas não encontramos nenhum que reúna as mesmas
condições da plataforma", afirmou Papa. "Se tivermos que fazer em outro lugar, a festa terá de ser repensada. Mas estou otimista quanto a um
acordo".
Palácio e Daiola estranham a defesa feita pela
Prefeitura
Fotos: arquivo, publicadas com a matéria
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