60 anos de futebol em S. Paulo
De Vaney
[11] - Campos e estádios
O campo-berço do futebol brasileiro é
a Chácara Dulley, mas quem escutou, pela primeira vez, o ruído do pique de uma bola foi a Várzea do Carmo. Ali, Charles Miller deixou cair ao solo
brasileiro aquela bola que ele, juntamente com outra, trouxera de Southampton, onde disputara a sua última partida na Inglaterra.
Na Chácara Dulley, depois que de lá saiu o São Paulo Athletic, foi treinar o "Hans Nobiling
Quadro", e mais atrás, na Chácara Witte, onde se instalou o Internacional, treinaram e jogaram também os elementos do Mackenzie, enquanto a melhor
praça de esportes da cidade passava a ser a do São Paulo Athletic, na Rua da Consolação.
Isso até 1899.
Em 1900, o C. A. Paulistano adaptou o Velódromo (Rua da Consolação, entre as ruas Martinho Prado e
Olinda) para jogos de futebol, e, em 1901, o Germânia arrendava um terreno no Parque Antártica, lá nivelando o seu campo.
Em 1903 coube a vez à A. A. das Palmeiras de jogar em seus domínios, no espaço compreendido entre
as ruas Martim Francisco, Tatuí, Baronesa de Itu, Alameda Angélica, onde surgiu o primeiro campo palmeirense.
O Velódromo monopolizou, durante muitos anos, todas as atenções. Raros eram os jogos nos campos do
Germânia (Parque Antártica) e Consolação (São Paulo Athletic).
Mais tarde, em 1914, o Velódromo foi obrigado a desaparecer. A urbanização da cidade assim o
exigia.
A APEA, então, levou as arquibancadas do Velódromo para a Floresta, onde, ao lado, os jogadores
corintianos estavam construindo seu próprio campo.
De 1914 a 1917 é a Floresta quem pontifica, com exclusividade, vivendo ali o futebol paulista as
suas grandes tardes.
Em 1917, porém, surgem os campos do Parque Antártica, remodelados, e em fins desse ano inaugura-se
a formosa praça de esportes do Paulistano, no Jardim América.
Mas a Floresta não perde a majestade. E é ali, até 1920, que se disputa a quase totalidade dos
sensacionais choques das seleções de São Paulo e do Rio.
Com a Floresta, o Jardim América e o Parque Antártica, São Paulo está perfeitamente apto a
suprir-se em acomodações ao público. O Parque Antártica, sempre se ampliando, é, porém, o cenário preferido para os grandes jogos, a partir de 1921.
O Ipiranga, o São Bento, o Sírio Libanês, a Portuguesa de Desportos, que substituíra o Mackenzie,
possuem bons campos para jogar, e isso permite ao público o necessário conforto, aumentando-lhe, assim, as possibilidades do futebol paulista, como
atração popular.
Em 1928, as instalações do Coríntians, no Parque São Jorge, adquirido ao Sírio, apresentam-se
magníficas, e, na Moóca, o Juventus tem o seu campo na Rua Javari.
Em 1933, patrimônio esportivo de São Paulo se enriquece com a construção e a entrega ao
público do estádio do Parque Antártica, de propriedade do Palestra.
Parece que, com o estádio palestrino, o assunto da acomodação das platéias está resolvido. Mas o
problema ressurge desde logo e imediatamente se apercebe que o impasse apenas foi adiado... O futebol paulista cresce de instante a instante. O
interesse do público não tem limites. O Parque Antártica, em 1938, num jogo paulistas e cariocas, parece uma pequenina concha, em comparação com o
oceano de gente que ali se quer alojar.
É quando São Paulo oferece ao Brasil - 1940 - um monumento de arte, de beleza arquitetônica e que
dá a impressão, clara, de haver garantido ao futebol de São Paulo uma tranqüilidade quanto a acomodações, que deverá durar, pelo menos, 30 anos: o
Pacaembu.
Não dura nada, porém, essa tranqüilidade. O estádio se abarrota, em 1942, e muita gente não pode
ver S. Paulo x Coríntians, com a estréia de Leônidas da Silva.
Agora, São Paulo vai construir um novo estádio, com capacidade para 150.000 pessoas.
Por quanto tempo o problema estará solucionado?
***
Não para, não se detém, o futebol de São Paulo!
O pique da bola, tombada das mãos de Charles Miller em 1894, não foi o pique de bola, apenas!
Aquilo foi batida de varinha mágica, de vara de condão!
E lá se vai, garboso, cônscio de seu valor, em busca de
novos louros, o futebol de São Paulo.
***
O progresso, no futebol paulista, sob a direção da
Federação Paulista de Futebol, não é um milagre, não é uma função, não é um organismo, não é uma constituição: é um destino a ser cumprido, e que se
cumprirá sempre, ontem como hoje, hoje como amanhã e amanhã para todo o sempre!
Ilustração de J.C. Lobo publicada em A Tribuna com
o texto
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