60 anos de futebol em S. Paulo
De Vaney
[1] - Pórtico
As
correntes se dividem. Para uns, o que vale, o que deve predominar no futebol é a intuição, a argúcia, o discernimento rápido, o "sexto sentido".
Para outros, no entanto, o primordial é a obediência aos
planos táticos, é a submissão aos sistemas, é a sujeição aos imperativos que se originam à luz das estratégias.
Aos adeptos do futebol heterodoxo, que se resume na liberdade de ação, nada se lhes afigura mais
revoltante do que o futebol metodizado, futebol preso aos enleios dos cálculos, atado aos emaranhamentos das planificações que se consubstanciam no
desdobramento dos lances, através das restrições limitadas pela função dos compassos, das réguas e dos esquadros.
Para esses, a ação deve ser instantânea, reflexa, biológica, sem atributos postiços e a jogada
deve obedecer a uma imposição de momento, e nunca às exposições dos teoremas, às figuras geométricas, feitas e traçadas, antes, pelas mãos dos
técnicos, nos quadro-negros das concentrações.
Em contraposição, para os que formam o núcleo dos que aplaudem o futebol ortodoxo, os esquemas
terão, necessariamente, que vestir-se com as roupagens das ciências matemáticas, enfeitando-se com os "py", os "ômegas", os "poliedros", dos
compêndios algébricos e geométricos, e aceitando Einstein, muito mais como o símbolo do futuro treinador de futebol do que, propriamente, como atual
sábio que parece ser...
O estudo histórico do futebol de São Paulo deverá ter por base a sua progressão no terreno
técnico. E essa denominação demonstrativa de desenvolvimento não poderá ser analisada, é claro, sem que se busque averiguar, inicialmente, como
fonte primordial, a base de introdução do aprendizado; dos primeiros passos, em suma. |