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COMO FOI FECHADO O ANCHIETA,
PARA HUMANIZAR A CIDADE?
Até hoje existem pessoas na cidade que não compreenderam este
episódio histórico da intervenção municipal, para o fim da tortura e do manicômio, resultando em uma política nacional que chegaria doze anos depois
em forma de lei federal.
Dia destes, este autor foi interpelado sobre esta ação da prefeita
Telma de Souza, como crítica, pois que tinha resultado "no fechamento e abandono de um hospital, hoje entregue aos mendigos" – sem compreender que a
instituição opressiva foi liquidada. O fim do Anchieta, heróico, exemplo nacional e mundial, ainda não foi entendido. O prédio da Rua São Paulo 95,
fruto de embates judiciais sobre sua desapropriação pelo município e posterior devolução aos proprietários, permanece abandonado como símbolo de
tanta violência. Antes assim.
Ao mesmo tempo em que era preciso curar a chaga e fechar
definitivamente o Anchieta, vivíamos uma contradição: era preciso melhorá-lo para os que o habitavam. Para isso, foram estabelecidas rotinas
médicas, uma casa experimental em que se reaprendia como despertar, escovar os dentes, comprar o pão, fazer o café, preparar o almoço, o
jantar.
Para dentro do Anchieta vieram os familiares e com eles fizeram
assembléias, festas, saídas monitoradas com os pacientes e integração com os de fora, abertura progressiva das portas do hospital fechadas há
tantas décadas – melhor comida, mais limpeza.
Mas a estratégia para marcar o fim do manicômio foi simples e
determinada, construindo da base os NAPS em que ele se descentralizaria. A criação de enfermarias por critérios geográficos foi essa estratégia,
aproximando os pacientes dos funcionários de cada uma, assim como seus familiares e até vizinhos da antiga moradia, fortalecendo os laços. Apesar de
sua pequena estrutura, mas com trabalho eficaz, estas enfermarias seriam os futuros NAPS, substituindo o Anchieta aterrador.
Loucura e doença mental são coisas diferentes, dizem os psiquiatras,
embora possam se relacionar. Loucura é um tipo de comportamento, uma faceta da sociedade presente nas mais variadas manifestações. As doenças
mentais são transtornos de saúde, que podem afetar o comportamento, pensamento e sentimentos.
Disfunção bioquímica ou genética ou, como diz Jung, uma tentativa do
organismo de se reorganizar, a loucura é basicamente a perda da noção do eu, quando a pessoa pensa que é Napoleão ou Deus, quando perde a
identidade. |