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FOUCAULT, MARX E A TEORIA DO MANICÔMIO
"Fazer da palavra uma arma destrutiva e terna, levar a
linguagem ao limite de suas possibilidades" (Foucault)
As torturas e esquartejamentos, marcas de ferro quente nos internos
em prisões e manicômios eram comuns até o início do século XIX – escreve o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), quem propôs a ruptura
radical com a tradição iluminista e positivista baseada na autoridade e coerção, para quem a liberdade educa. As instituições, esses hospícios e
manicômios, sempre foram "casas dos horrores", como escreve a literatura, seus internos estigmatizados.
As instituições repetem a violência da própria sociedade, na evolução
do poder punitivo a todos os que divergem e contrariam as normas e postulados da produção em série do sistema capitalista, que tem como princípio a
finalidade única do lucro. Esse fetiche obsessivo do capitalismo da reprodução do capital levou à sua desumanização e às guerras de conquista.
A exclusão é a política aplicada aos divergentes, que se mascarou mas
que permaneceu, elemento fundamental do sistema econômico baseado na exploração do homem pelo homem, calcada no rebaixamento dos salários,
permitindo o que o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) chamou de "mais valia" – a diferença entre o preço pago pela força de trabalho e o valor
que o capitalista consegue extrair do produto. É no trabalho não pago que reside o caráter de roubo assentado sobre a sociedade capitalista, que se
torna criminosa em suas ações. Nesse sistema, quem não tem e não produz tem valor equivalente – nenhum, sequer como gente.
Fazendo crescer a miséria, a opressão, a escravidão e as guerras, a
destruição da natureza transformada em instrumento de produção como o homem - no regime que, segundo Marx, produz seus próprios coveiros, dele
e do planeta. São destas políticas que decorre a marginalidade e as prisões, instrumentos repressivos como a polícia e o exército, garantindo a
mão-de-obra rebaixada e sucateada, o manicômio e a loucura. Na construção de uma nova sociedade, é mister derrubar seus pilares fundamentais e isto
foi feito aqui.
Na perspectiva da imposição globalizadora privatizando os serviços
públicos e tendências maximizadoras da exploração do trabalho, bem diferente da globalização desejada de 1868 na Associação Internacional dos
Trabalhadores, firma-se o objetivo neoliberal movimentando uma contra-tendência às taxas de lucro do capitalismo em crise, com ataque direto aos
salários e ampliação dos horários com precarização das condições de trabalho.
Evidente é o fato gerador da loucura. Porém, aceitar uma indústria de
tratamento que submete seus pacientes é resignar-se aos ditames do sistema econômico: revoltar-se deveria ser a regra, mas foi exceção. Valeu o
exemplo de Santos, que fez a Revolução que a cidade precisava. |