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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - DESLIZamentos... (4)
Início de março de 1956: começa o drama - F

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Terreno sedimentar, com fina capa de solo, quando enfrenta chuva forte e não tem mais cobertura vegetal que fixe o solo... o resultado é um deslizamento de terras, e quem estiver no caminho sofre as conseqüências. Nos morros santistas, ocorreram vários deslizamentos célebres, como o que soterrou um grupo de piratas holandeses (caso excepcionalmente atribuído a um milagre da santa padroeira da Cidade), ainda no século XVII. Outros casos destacados aconteceram em 1928, 1956 e na década de 1980, motivando enfim a realização de um amplo trabalho de contenção das encostas e monitoramento da situação geomórfica nos morros santistas.

Em 20 de março de 1956, o jornal santista A Tribuna registrava, na página 5 - ortografia atualizada nesta transcrição:


Imagem: reprodução da matéria original

Chuvas torrenciais desabam novamente sobre a cidade

Volta o trânsito a sofrer paralisações parciais e, como sempre, vários pontos da cidade sofreram fortes inundações - Perigoso o estado sanitário dos terrenos baldios alagados - Novo desabamento na entrada do túnel do Monte Serrate

Novo aguaceiro tornou a cair sobre a cidade, durante vinte e quatro horas seguidas. Desde a tarde de domingo (que, ironicamente, começou com uma clara manhã de sol) chove pesadamente sobre o litoral santista. Chuva aos cântaros, sem raios e sem ventos, mas de um espantoso volume de águas.

A história de Santos registra poucos períodos de chuvas tão prolongadamente fortes como esse que atravessamos, desde o Carnaval, quando cessou a onda de calor que torturou a cidade desde o princípio do ano. Entretanto, a chuva, que pôs fim à forte canícula de janeiro, causou transtornos mais sérios para os santistas. O sistema de drenagem da cidade não tem dado vazão às águas e, a todo momento as ruas estão alagadas, o trânsito interrompido, os bondes paralisados, os ônibus recolhidos, os automóveis enguiçados, os circuitos telefônicos inteiramente avariados.

Mas, até agora - e ainda está bem vivo, na memória de todos - o desastre maior, causado por esse período anormal de chuvas fortes, foi o desabamento do morro de Santa Terezinha, no dia 1º do corrente, quando a chuvarada atingiu um volume poucas vezes registrado pela história de Santos.

Alagada a cidade - As chuvas de ontem, embora bem menos intensas do que as do dia 1º, tornaram a alagar a cidade e a causar os mesmos transtornos para o trânsito, para o transporte, para a população.

Ruas inteiras ficaram interrompidas. Está mais uma vez comprovado que as galerias pluviais são insuficientes para atender ao rápido escoamento das águas, em muitos pontos da cidade. No cruzamento da Rua Bahia com a Marechal Deodoro, mesmo durante chuvas mais brandas, a estagnação das águas é infalível, a exemplo do que acontece em muitos pontos da Avenida Presidente Wilson, principalmente no cruzamento com a Rua Newton Prado.

Outro local, que freqüentemente se inunda, é em frente à Santa Casa, precisamente diante dos portões de entrada e saída das ambulâncias do pronto-socorro.

Desabamento no túnel - Novamente, à entrada do túnel, do lado da Av. Cláudio Luís da Costa, na via que demanda à Praça dos Andradas, verificou-se um desabamento na encosta do morro. Já, no dia 1º do corrente, naquele mesmo local, um considerável volume de terra havia interrompido o trânsito. Naquele dia, entretanto, os dolorosos acontecimentos do Marapé absorveram todas as atenções e a entrada do túnel ficou sem as providências que reclama para uma definitiva solidificação.

Na manhã de ontem, repetiu-se o desabamento. Não chegou a ser de grande volume, mas foi suficiente para interromper o trânsito e teria sido mais grave se, na queda, colhesse algum automóvel ou algum pedestre. Acresce, ainda, que naquela encosta do morro há alguns chalés, o que deve concorrer para mais urgente solidificação do local. Esses desabamentos parciais prenunciam, possivelmente, acontecimentos mais graves.

Estado sanitário da cidade - Um dos problemas criados pelas constantes chuvas deste mês, que não mereceu, ainda, a atenção devida das autoridades sanitárias e municipais, é o estado sanitário dos terrenos baldios, das ruas sem calçamento e das áreas onde a drenagem é efetuada por meio de valas.

Como é fartamente sabido, todos os terrenos baldios, cobertos de matagais, transformados em depósito de lixo, têm-se prestado a uma alarmante proliferação de ratos e insetos. Com o empoçamento das águas, o problema agravou-se seriamente. Os insetos, principalmente os pernilongos, estão proliferando em quantidade espantosa, primariamente através de valas onde as águas se empoçam nos terrenos baldios.

Entretanto, o aspecto mais grave do estado sanitário da cidade decorre do fato de que, com os períodos mais fortes de chuvas, as inundações tornam-se maiores, chegando a cobrir totalmente centenas de áreas baldias em todos os bairros da cidade. Disto resultam, nos matagais inundados, as mortes dos ratos e, às vezes, de outros animais. Quando baixa o nível das águas, tais corpos entram em decomposição, o que provoca o mau cheiro exalado dos terrenos abandonados, indiscutivelmente conduzidos a condições sanitárias perigosas.

Neste caso, mesmo antes de a Prefeitura prosseguir no seu ritmo de intimações, para limpeza, aos proprietários das áreas baldias, seria aconselhável uma urgente desinfecção dos terrenos inundados.

Desabamentos - Com as chuvas destes dois dias, houve dois outros desabamentos, além do que se verificou na boca do túnel do Monte Serrat. Ambos deram-se no domingo.

O primeiro verificou-se, às 22 horas, no Morro da Nova Cintra, onde uma grande pedra, deslocando-se da encosta, atingiu a casa da ligação 236, residência da família de Francisco Miranda, ajudante de motorista, 41 anos, casado, que ficou levemente ferido em um dos braços quando tentou impedir que tombasse um dos móveis de sua casa. Não houve vítimas.

O outro desabamento, também sem vítimas, deu-se na Santa Casa Velha, onde ruiu uma parede. O local abrigava 10 famílias, que se retiraram antes da queda da parede.


NOVAMENTE O SISTEMA DE DRENAGEM FLUVIAL NÃO FUNCIONOU - Santos voltou a sofrer mais vinte e quatro horas de chuva pesada. Novas inundações, outros pequenos desabamentos, interrupção do trânsito, bondes parados, ônibus recolhidos, carros enguiçados e, como sempre, ruas e mais ruas alagadas. (...)


(...) Está definitivamente comprovado que, em muitos pontos da cidade, o sistema de drenagem reclama uma urgente reforma, pois não dá vazão ao volume das águas pluviais, do que resultam as grandes estagnações que causam sérios transtornos à população. (...)


 (...) No cruzamento da Rua Bahia (fotos ao alto) com a Marechal Deodoro, por mais brandas que sejam as chuvas, as águas inundam as calçadas e aquele ponto central do Gonzaga fica isolado do resto da cidade. (...)


(...) Também em frente à Santa Casa (foto da direita, em baixo) verificam-se constantes empoçamentos, precisamente diante dos portões de entrada e saída das ambulâncias do Pronto-Socorro. As chuvas, que caem sobre a cidade desde domingo, provocaram alguns pequenos desmoronamentos. (...)


(...) Na boca do túnel (foto do centro, em baixo), considerável quantidade de terra tornou a interromper o trânsito, na manhã de ontem, quando desabou parte da encosta do Monte Serrate sobre a Avenida Cláudio Luiz da Costa. Já no dia primeiro de março, nesse mesmo local deu-se, como ontem, um desabamento de pequenas proporções, o que deve merecer a atenção dos engenheiros municipais, uma vez que tal repetição pode ser prenúncio, possivelmente, de acontecimentos mais graves
Foto e legenda publicadas com a matéria, na página 5


O tempo

Informa o Serviço de Meteorologia que o tempo permanecerá instável, ainda sujeito a chuvas. A temperatura entrará em declínio. Ventos do quadrante Sul com rajadas frescas. Temperatura em Santos, ontem: máxima, 23,0; mínima, 20,9.

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