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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - DESLIZamentos... (5)
Final de março de 1956: mais calamidade - A

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Terreno sedimentar, com fina capa de solo, quando enfrenta chuva forte e não tem mais cobertura vegetal que fixe o solo... o resultado é um deslizamento de terras, e quem estiver no caminho sofre as conseqüências. Nos morros santistas, ocorreram vários deslizamentos célebres, como o que soterrou um grupo de piratas holandeses (caso excepcionalmente atribuído a um milagre da santa padroeira da Cidade), ainda no século XVII. Outros casos destacados aconteceram em 1928, 1956 e na década de 1980, motivando enfim a realização de um amplo trabalho de contenção das encostas e monitoramento da situação geomórfica nos morros santistas.

Em 25 de março de 1956, o jornal santista A Tribuna registrava, na última página (reservada às notícias de última hora), continuando nas páginas internas dessa edição - ortografia atualizada nesta transcrição:


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Calamitosas conseqüências do temporal desta noite

Desabou um grupo de moradias no morro dos Ingleses, ao lado de Nova Cintra, no fundo da Rua Carvalho de Mendonça, recolhendo-se até a manhã de hoje 19 mortos e 25 feridos - Outros desabamentos - Ruiu uma avalancha no Monte Serrate, atrás da Santa Casa Velha às 11 horas de hoje, e outra na Rua Senador Feijó às 12 hs.

Pela segunda vez no mesmo mês de março, as chuvas produzem mais um desastre de dolorosas proporções, com perda de vidas, de gente humilde habitante dos morros da cidade. Começando a chover na noite de ontem, cerca das vinte e uma horas, a persistência e a continuidade dos temporais que se sucederam, tornando-se às vezes violentos, fazia temer que nova catástrofe se produziria.

As inundações começaram a registrar-se desde as 22 horas, quando as dificuldades do trânsito se acentuaram. Perto de meia-noite, tudo estava mais ou menos intransitável, nos pontos baixos da cidade. Os canais igualaram seu nível aos leitos das ruas.

O desabamento do Morro dos Ingleses - Aproximadamente às 24 horas, conforme os moradores nos asseguraram, ouviu-se o surdo rumor do deslocamento de pedras e terra na encosta do Morro dos Ingleses. Uma venda, situada ao fim da Rua Carvalho de Mendonça, na Av. Moura Ribeiro, ainda estava aberta àquela hora. Dali saíram os primeiros homens para dar o alarma e buscar, através da tempestade, os primeiros auxílios às vítimas.

Seis casebres, calcula-se, foram envolvidos no desabamento. Alguns ruíram e se misturaram à avalanche. Outros rodaram até o pé do morro. Pedras e terras sepultaram as vítimas. Uma verdadeira cachoeira, despencava continuamente, até a manhã de hoje, sobre esse quadro de escombros e destroços.

Os primeiros socorros - Avisada a polícia, dirigiram-se as autoridades e bombeiros para o local, sendo também solicitado auxílio ao Corpo de Bombeiros de São Paulo.

O local é de difícil acesso; fica ao lado da subida para o Morro de Nova Cintra e a menos de 800 metros do trecho que desabou a 1º do corrente, no fundo da Rua Godofredo Fraga.

A chuva continuava caindo impiedosamente, e o estafante trabalho dos bombeiros, policiais e homens do povo, para retirar feridos e mortos, prolongou-se pela madrugada.

O primeiro balanço que pudemos dar, nas primeiras horas da manhã de hoje, apresentava o seguinte registro: 19 mortos, sendo dois homens, 3 mulheres e 14 crianças. O delegado de plantão, dr. Manoel Luiz Ribeiro, confirmou-nos esses dados.

Entretanto, informes que obtivemos na Santa Casa deixaram entrever maior número de vítimas: seriam 17 mortos, já no necrotério, 8 ainda no local. Entretanto, mais um morto se somaria a esses, dum desmoronamento ocorrido na Caneleira, perto de São Vicente. Um morto, teria ficado ali soterrado. Trata-se de um paralítico, que não quis ser retirado.

Os feridos - São os seguintes os feridos que foram atendidos no Pronto Socorro, em conseqüência do desabamento do morro dos Ingleses: um menor de 12 anos, com fraturas; Hugo Lopes Guimarães, de 42 anos; Maria Aparecida Guimarães, de 28 anos; Ojars Melbardis, de 30 anos; Ana Rita do Nascimento, de 32 anos; uma macróbia de 100 anos, Elisabeth Maria de Sousa; José Tibúrcio da Silva, de 33 anos; João Peralis de Oliveira, de 43 anos; um menino de 5 anos; José Raimundo, de 32 anos; Helena Aparecida, de 3 anos; Herculano Praxedes, de 40 anos; Coleta Praxedes, de 27 anos; Terezinha Francisca da Silva, de 20 anos; Jorge Rosa de Oliveira, de 24 anos; José dos Santos, de 52 anos; Luiz Marietti, de 28 anos; Agostinho Esmeraldo Froniro, de 16 anos; Carmelina Rosa Torres, de 55 anos; Albertina Ribeiro da Silva, de 28 anos; André Hilário dos Santos, de 23 anos.

Os trabalhos de socorros - Até as 11 horas de hoje continuavam os trabalhos de desentulho e busca de outros corpos, o que é possível se verificar. No local esteve o prefeito da cidade, sr. Antônio Feliciano, empenhando-se em tomar as providências cabíveis. As autoridades contaram com a colaboração popular em ampla medida.

Outros desabamentos - Outros desabamentos, todos ameaçadores, mas sem que se registrassem vítimas, ocorreram nos morros do Embaré, Itararé, Prainha, Nova Cintra e Matadouro.

Alguns prédios também ameaçam ruir, sendo necessário proceder à evacuação dos moradores, como o edifício América, na Av. Almirante Cócrane, esquina da Av. Bartolomeu de Gusmão.

Corre uma avalancha no Monte Serrat - Atrás da Santa Casa Velha, até onde fica o leiloeiro Garófalo, no fundo da Rua Rubião Júnior, pouco depois das 11 horas de hoje, domingo, uma enorme avalancha, com terra e pedras, correu pela encosta. O local, que é densamente povoado, desde a Santa Casa, até a Rua Rubião Júnior, começou a ser imediatamente evacuado.

Uma torre de alta tensão em perigo - Conforme verificação da polícia, no morro de Nova Cintra, ligação 33, uma barreira soltou-se a poucos metros de uma torre de alta tensão, tornando perigosa a estabilidade dessa instalação. O plantão da polícia comunicou o fato à City.

A interrupção da energia e da luz - Pouco depois das 24 horas de sábado, verificou-se em vários pontos da cidade interrupção prolongada nas correntes de luz e força.

Essa anormalidade decorreu de grandes desmoronamentos na Vila Matias, provocando invasão das águas na casa das máquinas e impedindo assim o trabalho dos geradores que fornecem energia aos bondes.

Alguns setores da cidade continuaram desligados, dado o desconhecimento da verdadeira condição das linhas.

A City trabalha com intensidade a fim de restabelecer a iluminação pública.

Outro desmoronamento do Monte Serrate - Atrás da Rua Tiro Naval, cerca do meio dia de hoje, produziu-se o maior desmoronamento, quando pedras e terra correram sobre os prédios situados entre a "Internacional" e "Marmoraria Porta", ns. 252 e 256 da Rua Senador Feijó, e com o violento impacto os atiraram para o meio da rua e o outro lado, chegando a derrubar o edifício fronteiro em parte. Instalações e carros que estavam recolhidos na garagem da "Internacional", o entulho dos dois prédios totalmente destruídos, fecharam completamente a Rua Senador Feijó.

O serviço de remoção dos escombros começou imediatamente. Próximo o local ao Corpo de Bombeiros, a corporação entrou em serviço minutos após o desastre.

Até o momento em que nos retiramos do local, 13 horas, não havia informações sobre mortos nesse local, o que se deve supor, sendo que só por muita felicidade não haverá ali vítimas pessoais. Feridos, as ambulâncias os recolheram diversos no local. A grande escavadeira do DER ia entrar em ação.

O Edifício Concórdia e as notícias alarmantes - Estações de rádio chegaram a anunciar que o edifício Concórdia ruíra. É necessário que a população se ponha em guarda contra notícias que se propalam sem fundamento, e é incrível que órgãos de informação se entreguem, sem maior exame, à divulgação de informes como esse. Num momento de tantas angústias, a informação carece ser apurada em fontes idôneas, e é lamentável que se chegue a excessos dessa natureza.

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