A implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) para solucionar a questão do
transporte
ainda não saiu do papel
Foto: Paulo Freitas - 31/3/2004 - publicada com a matéria
METROPOLIZAÇÃO
A passos lentos
A Região Metropolitana da Baixada Santista completa hoje oito anos de criação
mas, até agora, segundo deputados estaduais, apresentou poucos resultados para a solução de problemas comuns
Carlos Ratton
Da Reportagem
Ao completar hoje oito anos de instituição, a Região
Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) ainda sofre de uma espécie de crise de visibilidade, com ações restritas a solucionar problemas individuais
de cada uma das nove cidades da Baixada.
Não seria difícil, numa pesquisa regional, constatar que apenas uma pequena parte dos
1,5 milhão de habitantes da região lembraria alguns benefícios trazidos desde que ela foi definitivamente tirada do papel, em 1996, pelas mãos do
então governador do Estado Mário Covas, falecido em março de 2001.
A falta de consciência é um dos principais motivos alegados do porquê da RMBS ainda
não ter mostrado sua cara, apesar de mais de 50 projetos estarem sendo desenvolvidos pelo Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da
Baixada Santista (Condesb) e cerca de R$ 11 milhões já terem sido comprometidos pelo Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana, até este ano.
Deputados - A deputada estadual Maria Lúcia Prandi (PT) é uma das parlamentares
que questionam os resultados práticos da metropolização. Segundo ela, até agora, foram dados passos muito lentos.
"O primeiro passo seria a metropolização dos transportes, que até então não aconteceu
e proporcionaria uma tarifa única para todas as cidades. Também não há participação da sociedade civil e dos legislativos e o Condesb não cumpre nem
o que a lei determina, que é a realização de audiências públicas a cada seis meses", comentou a parlamentar, salientando ainda a falta de soluções
de questões relacionadas à saúde pública.
Para a deputada, falta vontade política e visão de unidade por parte das autoridades
municipais e estaduais.
O deputado estadual Fausto Figueira (PT) também acredita que falta vontade política do
Governo do Estado e dos prefeitos municipais para que, de fato, a região metropolitana funcione.
"A RMBS só existe no papel. Uma das razões para que lea não funcione é a imaturidade
política dos prefeitos da região, que são incapazes de articular um projeto metropolitano para encaminhamento de soluções de problemas comuns",
afirmou.
VLT - O deputado estadual Marcelo Bueno (PTB) também é da opinião de que a
metropolização ainda está em processo bastante lento. "Não se conseguiu solucionar os problemas relacionados ao transporte público e à saúde. O
Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), por exemplo, ficou esquecido. É preciso mais união dos prefeitos e mais recursos para a região. O Condesb
funciona, mas a metropolização ainda não se completou", revelou.
11 milhões |
de reais já foram comprometidos até este ano pelo Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana da
Baixada Santista
|
|
Otero diz que regionalização é irreversível
O representante da Secretaria de Estado de Economia e Planejamento no Condesb e
presidente do Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista, Rivaldo Otero, afirmou que o processo de regionalização existe e
que a conscientização metropolitana é lenta, porém irreversível.
Ele lembrou que a metropolização começou a funcionar de forma mais efetiva a partir de
2000, mas que os resultados são significativos, servindo de exemplo para Campinas e São Paulo.
A Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem) - braço executivo do Condesb - foi
criada dois anos depois do conselho, assim como o Fundo Metropolitano (que agrega aportes financeiros do Estado e dos municípios).
"A diretoria da Agem, por exemplo, só se completou em 2000, quando se começou a falar
em projetos e o Governo do Estado passou a mandar as verbas. A contrapartida dos municípios começou a ser depositada com a implantação do fundo e,
no início, com atrasos", lembrou.
Rivaldo Otero explicou que, mesmo com as dificuldades iniciais, o Condesb conseguiu
desenvolver projetos metropolitanos importantes. Ele citou a instalação do Corpo de Bombeiros em Itanhaém - que atende às cidades de Mongaguá e
Peruíbe - e a reforma do Hospital da Zona Noroeste - que também atende a munícipes de São Vicente e Cubatão, entre outros.
Com relação aos projetos da Agem, Otero salientou o Sinalvim, que nada mais é do que
uma sinalização viária padronizada nos nove municípios.
Otero ressaltou que o Condesb é um órgão normativo, deliberativo e praticamente
voltado ao planejamento. Nesse sentido, ele destacou ainda o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana, o Plano Diretor de
Turismo - que gerou o Roteiro dos Fortes e o Caminho de Anchieta; o Plano Viário Metropolitano e o Sistema Cartográfico Metropolitano; entre outros.
Diretor da Agem, Koyu Iha explicou que muitas das prioridades são definidas no Condesb
e conduzidas ao orçamento do Estado. "O que é muito bom. O problema é que muitas vezes querem tornar o conselho palco de embates políticos sobre
temas estaduais e nacionais, que fogem da esfera metropolitana".
Veja os projetos da Agem |
1 - Sistema Cartográfico Metropolitano da Baixada Santista |
2 - Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado |
3 - Sistema de Informações Metropolitanas |
4 - Plano Viário Metropolitano |
5 - Plano Viário Metropolitano Módulo Cargas |
6 - Plano de Valorização das Intervenções Propostas no Estudo de Impacto
da Segunda Pista da Rodovia dos Imigrantes |
7 - Programa Regional de Identificação e Monitoramento de Áreas Críticas
de Inundações, Erosão e Deslizamentos |
8 - Plano Diretor de Turismo da Baixada Santista |
9 - Sinalização Vertical Metropolitana |
Em trâmite |
1 - Pesquisa de Origem e Destino de Cargas |
2 - Plano Cicloviário Metropolitano |
3 - Pesquisa de Origem e Destino de Passageiros |
4 - Projeto Caminhos de Anchieta |
Com participação indireta |
1 - Macrozoneamento Ecológico-Econômico da RMBS |
2 - Levantamento das Características Físico-Operacionais da Rede
Estrutural do Sistema Viário de Interesse Metropolitano |
3 - Avaliação do Impacto da Segunda Pista da Imigrantes sobre o
Sistema Viário da Baixada Santista |
4 - Plano de Bacias |
5 - Serra do Mar |
6 - Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) |
7 - Serviço de Verificação de Óbitos |
8 - Túnel Submarino Santos-Guarujá |
9 - Aeroporto Civil Metropolitano |
Obs.: De 2000 até 2003, o Condesb realizou 113 deliberações de caráter metropolitano
(Fonte: Condesb). |
Presidente do Fundo destaca reforma do Hospital da ZN, que atende a munícipes de outras
cidades
Foto: José Moraes - 28/4/2004 - publicada com a matéria
Presidente do Condesb defende palavra final dos prefeitos
O prefeito Beto Mansur, que atualmente é presidente do Condesb, avalia o processo de
metropolização como válido, mas diz que os prefeitos é que deveriam ter a a palavra final nas decisões. "O Estado deveria apenas agir como suporte
às decisões. Eu, inclusive, já enviei essa proposta à Assembléia Legislativa", revelou.
Para Mansur, a RMBS teve avanços, mas alguns problemas já deveriam ter sido
equacionados, como os da área da Saúde. Ele afirmou que nunca conseguiu convencer os demais prefeitos a adotarem uma câmara de compensação para a
área.
"Não sou contra Santos atender pacientes de outras cidades, mas o valor gasto deveria
ser enviado à cidade em que a pessoa foi assistida. A câmara de compensação iria desafogar o atendimento", revelou.
O prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, defende um replanejamento um pouco
diferente do de Mansur. "No passado, justificava-se que Santos recebesse a maior parte dos recursos. Hoje, essa cidade sofre com a pressão por vagas
por atender pessoas dos demais municípios", afirmou, acreditando que Santos deveria ser um centro de referência de especialidades, enquanto os
hospitais de outras cidades poderiam receber os recursos para atender Cirurgia Geral, Clínica Geral, Ginecologia e Pediatria.
O prefeito de São Vicente, Márcio França, afirmou que a metropolização é uma realidade
e que entre os benefícios está o ganho de status e força política para a região. "Em São Vicente, saltamos de 17% para 85% de saneamento
básico, graças à força que ganhamos por sermos uma região metropolitana".
O prefeito de Guarujá, Maurici Mariano, também acredita que existe consciência
metropolitana e que os municípios têm ganhado com o processo de metropolização. "Houve conscientização na área da Segurança e muitas obras têm saído
por meio do Condesb. Falta a existência de uma secretaria, com verba específica e com maiores condições de operacionalidade", afirmou.
|
Políticos dizem que cidades ganharam força
|
|
União - Para Lairton Goulart, prefeito de Bertioga, a metropolização vem
funcionando em alguns aspectos, principalmente com relação à união dos prefeitos. "Mas é preciso, por exemplo, construir um hospital de referência
para acidentados. Bertioga não tem condições de assumir o atendimento de um politraumatizado. Precisamos de uma solução metropolitana para isso",
comentou.
Clermont Castor, prefeito de Cubatão, afirmou que o Condesb funciona. "Não possuo um
relatório dos avanços, mas sei que muitas questões foram solucionadas".
Orlando Bifulco, prefeito de Itanhaém, também não se queixa. "Sou um defensor da
metropolização e Itanhaém já colheu frutos dela, como a instalação de uma unidade do Corpo de Bombeiros - uma antiga reivindicação do Litoral Sul",
revelou.
O prefeito Artur Parada Prócida, de Mongaguá, pensa que os municípios ganharam mais
força política, mas que os interesses individuais ainda estão atrapalhando os entendimentos. "Nos últimos três anos, o Condesb teve atuação mais
expressiva, pois a maioria dos prefeitos passou a freqüentar as reuniões".
O prefeito de Peruíbe, Gilson Bargieri, disse que há consciência metropolitana e que
houve a abertura de diálogo entre as lideranças municipais. "Aos poucos, conseguiremos apoio do empresariado e um mar de oportunidades será aberto
na região".
|
|
Otero: projetos importantes
Foto: Raimundo Rosa - 12/11/2003
|
Koyu Iha: embates políticos
Foto: Paulo Freitas - 27/11/2003
|
Fotos publicadas com a matéria
|