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Manoel: "Levar o lixão para lá"
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Regina: "É para os lados de SV"
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Fotos: Mingo Duarte
PLANO DIRETOR
Santistas desconhecem onde fica o continente
As discussões em relação a essa área do Município são antigas, mas estão
restritas a técnicos, estudiosos e legisladores
Arminda Augusto
Da Editoria Local
Muito se fala em área continental, mas uma enquete
rápida nas ruas, com os moradores da Santos-ilha, prova que nem todos sabem onde ela fica ou como se chega lá. As discussões em torno dessa área,
que são antigas, acabam sempre se restringindo a técnicos, estudiosos da questão ambiental, legisladores ou responsáveis por estabelecer políticas
públicas de ocupação.
A Tribuna selecionou apenas quatro moradores e formulou duas únicas perguntas:
Você sabe onde é a área continental? Na sua opinião, o que deveria ser instalado lá?
A comerciante Regina Correa Rocha diz que já ouviu falar, muito vagamente, e tem a
"impressão de que é para os lados de São Vicente". Sozinha, confessa que não conseguiria chegar lá, ainda mais se dependesse de ônibus para isso.
"Mas acho que se é tão grande assim, deveriam instalar casas populares e indústrias para gerar emprego".
Valdecir Pigossi, ex-perueiro e atualmente desempregado, também não sabe para que lado
fica o continente de Santos, apesar de já ter ouvido falar no assunto várias vezes. "Esse assunto parece muito distante da gente", justifica. Na sua
opinião, a prioridade de ocupação deveria ser a indústria, "chamariz de emprego e desenvolvimento".
Parque da Xuxa - Irinete de Carvalho Gonçalves, despachante policial,
perguntou: "Não é lá que a Xuxa queria instalar um parque?". Ela ouviu falar em um parque na área continental, mas não sabe onde fica nem como se
chega lá. A ocupação, sugere, deveria ser com casas populares. "Mas é tão longe, né? Quem vai querer ir para lá?"
O portuário aposentado Manoel Motta é exceção à regra. Apesar de, inicialmente, ter
confundido com o continente de São Vicente, confessa que precisaria pegar a Rio-Santos para chegar em bairros como o Caroara. Para a ocupação,
entende que deveria ser levada adiante a proposta de levar o lixão de Santos para lá, no Sítio das Neves.
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Valdecir: "Assunto tão distante"
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Irinete: "É tão longe, né?"
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Fotos: Mingo Duarte
Acesso é feito de duas formas
Nos meios técnicos, convencionou-se chamar o trecho do Município onde moram os 412 mil
habitantes de Santos-sede, ou Santos-ilha, área com 39 km², já totalmente ocupados. A Santos-continente tem 231 km² e fica em um trecho que se
estende do alto da Serra do Mar até o entroncamento das rodovias Rio-Santos e Cônego Domênico Rangoni (ex-Piaçagüera-Guarujá). Para o Norte, a
região vai até o bairro conhecido como Caroara, divisa entre Santos e Bertioga (veja mapa).
Para chegar a esse pedaço de terra, o motorista tem duas opções: pegar a balsa na
Ponta da Praia e atravessar um trecho do Guarujá, ou ir pela Piaçagüera-Guarujá, via Cubatão. Na primeira opção, a área continental de Santos começa
próximo ao Monte Cabrão, que quase passa despercebido pelo motorista que se dirige ao Litoral Norte.
O Monte Cabrão fica à direita do viaduto onde começa a Rio-Santos. É literalmente um
morro, margeado pelo Canal de Bertioga e com a parte baixa densamente ocupada. Estima-se que vivam ali cerca de 600 pessoas, algumas em áreas de
risco.
A segunda opção para chegar ao continente é pela antiga Piaçagüera-Guarujá. Santos
começa quando acaba a área da Cosipa, no trecho conhecido como Vale do Quilombo.
O que tem lá - Além do Monte Cabrão, o continente de Santos tem ainda dois
outros trechos habitados. A Ilha Diana, com 52 famílias, fica na curva de um braço do Rio Diana, logo atrás da Base Aérea de Santos. Sua população é
mais ou menos fixa e composta, na maioria, por famílias ali estabelecidas há mais de 60 anos.
Outro núcleo densamente habitado é o bairro do Caroara, há 40 quilômetros da
Santos-sede. Pela Rio-Santos, é de fácil identificação: é o único trecho da rodovia, antes de chegar a Bertioga, onde foram colocadas lombadas pelo
DER.
É no Caroara onde a Prefeitura instalou, há uma semana, a Coordenadoria da Área
Continental, criada em 93, que até então funcionava no Paço Municipal. O Caroara é um dos bairros mais críticos de todo continente em termos de
ocupação e loteamentos irregulares.
Originalmente, o bairro tinha quatro ou cinco grandes chácaras, todas legalmente
estabelecidas. A partir dos anos 60, as chácaras começaram a ser subdivididas e vendidas irregularmente. Hoje, a preocupação da Prefeitura é coibir
novas ocupações ou desmatamentos nesse trecho.
Com 16 casas, Iriri é pouco divulgado
No meio da vegetação remanescente da Mata Atlântica existe ainda um quarto núcleo
habitado, que poucos santistas sequer ouviram falar. É o bairro de Iriri, a cerca de um quilômetro de Caroara, do lado direito da Rio-Santos. A
estimativa é de que tenham aproximadamente 16 casas, todas com água e iluminação pública.
Segundo o coordenador da Área Continental, Adelino Gonçalves, Iriri é um povoado
antigo, de população fixa, mas que não oferece risco de crescer desordenadamente. "Temos mantido uma fiscalização constante, e agora estamos
procurando melhorar a infra-estrutura", disse.
A preocupação da coordenadoria tem sido Monte Cabrão, localizado a 18 quilômetros da
Santos-ilha. Sem fiscais em número suficiente ou um posto da Guarda Municipal, o Monte Cabrão tem sido invadido por moradores de baixa renda, que do
dia para a noite substituem a vegetação por barracos, muitos em área de risco.
Estima-se que 600 pessoas morem nesse local. O adensamento é maior na parte baixa do
monte, às margens do Canal de Bertioga. Segundo Adelino, depois da Prefeitura instalar a coordenadoria no Caroara, a intenção agora é construir uma
subsede no Cabrão, dotar a principal via de acesso de cancelas e transferir para lá um posto da Guarda Municipal. "Será a única forma de garantir
que nenhuma outra casa seja construída irregularmente".
Caroara é habitado, fica há 40 quilômetros de distância do município-sede e é um dos
bairros mais críticos em termos de ocupação
Foto: Carlos Nogueira
No Caroara, há destruição de mangue
Caroara é o bairro do continente mais densamente ocupado, com cerca de 4.500
moradores, que ali se instalaram nos anos 60. Quem percorre a "avenida" principal, onde está instalada a coordenadoria, não pode imaginar que é nas
quebradas das ruas secundárias onde o desmatamento está mais intenso.
Segundo Adelino Gonçalves, coordenador da área desde o ano passado, oficialmente
existem apenas quatro ruas no bairro: Andrade e Soares, Tamoio, Caramuru e Xavantes. As demais, e são muitas, são todas irregulares, construídas à
revelia da Prefeitura e sem considerar plano de drenagem ou existência de vegetação nativa.
Um dos casos mais críticos, talvez por ser recente, é o aterramento clandestino que um
dos moradores promoveu no final da rua conhecida como Xavantes. Um extenso trecho de mangue estava literalmente sendo destruído para facilitar a
ligação dessa rua com a estrada. A ação da coordenadoria e da Polícia Florestal foi rápida, mas ainda hoje o cenário impressiona: parte das raízes
que afloram do mangue estão soterradas pelo aterro e pequenos caranguejos, perdidos com a destruição do habitat, entram e saem de tocas improvisadas
nas pedras.
Adelino Gonçalves explica que a situação fundiária do bairro é complicada, e por isso
vem tentando formalizar um convênio com o Instituto de Terras do Estado (Itesp). Sem sucesso.
Incômodo e inimigos - Antes da coordenadoria se instalar no bairro, os abusos
eram mais freqüentes. Corretores vendiam irregularmente lotes sem escrituras, ruas eram abertas sem qualquer critério.
"Eu sei que minha presença aqui incomoda muita gente, e vai incomodar mais ainda", diz
Gonçalves, que espera uma grande valorização de toda a área continental quando o túnel for construído entre Santos-ilha e Guarujá. "Hoje, ninguém
está querendo vender, porque sabe que o valor vai triplicar".
O Caroara tem pouca infra-estrutura, mas é o bairro melhor provido de todo o
continente. Não tem rede de esgoto nem as ruas são pavimentadas, mas os moradores contam com uma escola municipal, uma policlínica, coleta de lixo
três vezes por semana e, futuramente, um posto dos correios e da Polícia Militar. |