PLANO DIRETOR
Uso da área continental se restringe a 24 km²
Considerada um santuário ecológico, mas a única opção de crescimento do
Município, a região tem 231,6 km²
Arminda Augusto
Da Editoria Local
Parque aquático, indústria não-poluente, pequenos
núcleos habitacionais e até aeroporto. São inúmeras as utilidades já apontadas para a área continental de Santos, aquele trecho de terra de que
muito já se disse ser cinco vezes superior à parte ocupada e saturada da Cidade, mas que nem todo morador da ilha, considerado o município-sede,
sabe exatamente onde fica.
Ao mesmo tempo em que a consideram um santuário ecológico, também é vista como a única
possibilidade de expansão urbana e econômica do Município. Vários projetos já foram sugeridos para o continente, mas sua efetiva ocupação só deverá
acontecer depois do ano 2000, quando uma série de outros fatores, como a própria construção do túnel entre Santos e Guarujá, estiver definida e
resolvida.
A área continental de Santos tem 231,6 km², mas nem tudo está sendo destinado à
ocupação urbana, pelo novo Plano Diretor Físico do Município. O plano, que desde o ano passado vem sendo discutido na Secretaria de Meio-Ambiente (Semam),
é o primeiro passo para a elaboração das leis de Uso e Ocupação do Solo, aquelas que "vão dizer" o que pode ou não ser instalado tanto na
Santos-ilha, como na Santos-continente.
Para o continente, a proposta é reservar apenas 24,65 km² à ocupação urbana, onde
serão permitidos loteamentos, condomínios residenciais, empreendimentos comerciais, industriais e algumas áreas para a ampliação retroportuária.
Além dessa, existem outras duas zonas, com restrições às atividades.
Limitações ambientais - Uma delas é o Parque Estadual da Serra do Mar, com
135,18 km², cuja utilização está vetada a qualquer tipo de empreendimento. A proteção é federal e estadual. A outra área é a de proteção ambiental,
com 71,77 km², definida no Plano Diretor e com base em dados geográficos, hidrográficos e da flora nativa ali existente.
O uso está restrito à implantação de atividades consideradas de baixo impacto
ambiental, como reservas de lazer e turismo, desenvolvimento de pesquisas e educação, ecoturismo e extrativismo auto-sustentado.
A Lei de Uso e Ocupação do Solo para o continente foi traçada em reuniões conjuntas
entre Prefeitura e Estado. Segundo João Paulo Tavares Papa, titular da Semam, essa é a condição primeira para que uma legislação seja viável. "Não
adianta elaborar uma lei ambiental muito rígida ou muito liberal, se não estiver em consonância com o que existe de âmbito estadual e federal".
APA engessou - A Lei de Proteção Ambiental (APA) é o que existe em vigor, e
data de 92. Além de ter destinado à ocupação urbana apenas 6 km², a lei foi elaborada sem considerar os parâmetros do que determinava o Parque
Estadual da Serra do Mar ou os estágios de degradação da vegetação existente.
Além disso, atribuiu espaço a atividades de alto impacto sem perfil para o Município,
como a agropecuária. Mesmo assim, a APA significou um avanço em termos de legislação ambiental municipal, porque foi a primeira a vigorar na área
continental.
"Até então, essa área nem aparecia no mapa. Estava esquecida e abandonada", diz o
ex-chefe do Departamento de Planejamento no Governo David Capistrano, Carlos Eduardo Carriço. "Tudo que viver depois será um aperfeiçoamento, mas
que já tem um ponto de partida", completa.
Retroporto - Pela nova proposta da Prefeitura, algumas áreas já existentes
poderão ser expandidas, considerando a atividade já implantada. Uma delas é a retroportuária, que poderá ser ampliada nas proximidades da Ilha
Barnabé e da Cosipa.
"Não adianta desconsiderar a expansão do porto, até por conta do túnel que ligará
Santos ao Guarujá", diz o secretário. Outra área destinada à expansão é conhecida como Fazenda Cabuçu, uma antiga fazenda de bananas, próxima à
Rio-Santos, e atualmente só utilizada para trilhas de ecoturismo. A vegetação nesse local já não é nativa.
O Plano Diretor já está na Câmara para ser votado, mas as Leis de Uso e Ocupação do
Solo serão posteriores. Papa estima que fiquem prontas ainda neste semestre.
Atualmente, vigora a Lei Federal 750 que proíbe a supressão de qualquer espécie de
mata nativa para a instalação de equipamentos urbanos
Foto: Carlos Nogueira
Túnel vai facilitar o acesso
A ligação entre Santos-ilha e o continente está mais próxima, mas de forma indireta. A
discussão agora é interligar as duas margens do Porto, através de um túnel entre a Bacia do Macuco e uma área da Codesp em Vicente de Carvalho, em
Guarujá.
A proposta não requer desapropriações por estar situada totalmente em área da União.
Segundo a Assessoria de Comunicação da Codesp, a segunda e última audiência pública para discussão da proposta acontece no início desta semana. Após
essa fase, as empresas interessadas poderão comprar o edital e, depois, encaminhar os projetos executivos.
A principal vantagem do túnel é a redução da distância entre os terminais da Codesp
localizados nas duas margens do canal. Hoje, pela estrada, esse percurso tem 47,5 km, e será reduzido para apenas 5 km. O túnel terá 4.500 metros e
um custo estimado de US$ 269 milhões (R$ 304 milhões), sendo US$ 160 milhões (R$ 180 milhões) para o túnel, US$ 71 milhões (R$ 80 milhões) para
emboques e US$ 38 milhões (R$ 43 milhões) para obras complementares.
Com a redução da distância entre Santos e Guarujá, também ficará menor chegar à área
continental de Santos. "Com a aprovação das alterações da APA, do Plano de Gerenciamento Costeiro e a construção do túnel, os investimentos no
continente virão em seguida", acredita o titular da Semam, João Paulo Tavares Papa.
O Plano de Gerenciamento Costeiro está na Assembléia Legislativa desde o ano passado,
"chocando", segundo Papa. Esse plano estabelece quais as áreas de todo o litoral do Estado onde os empreendimentos são permitidos. Para que seja
viável, a Lei de Uso e Ocupação do Solo, de âmbito municipal, é necessário que os deputados aprovem o plano de gerenciamento. Enquanto isso não
acontece, permanece em vigor a Lei 750, federal, que proíbe a supressão de qualquer espécie de mata nativa para instalação de equipamentos urbanos.
As administrações passadas e o continente |
(1985 a 88) Oswaldo Justo foi o maior entusiasta da construção de um túnel ligando Santos-ilha a
Santos-continente. O túnel sairia nas proximidades da Ilha Barnabé, partindo do Valongo. O projeto não saiu do papel |
(1989 a 92) A área foi considerada a primeira unidade de conservação ambiental, com usos previstos na
Área de Preservação Ambiental (APA). Também foi criada a primeira ligação entre a Ilha Diana e o município-sede, através de um barco que
transportava os moradores. O projeto do túnel ou ponte não avançou. |
(1993 a 96) A lei que criou a APA foi alterada, mas não chegou a ser votada na Câmara. A principal
medida desse governo foi criar a Coordenadoria de Área Continental, em 93, e o Departamento de Saneamento Ambiental, ligado à Semam, destinado a
fiscalizar, entre outras tarefas, as ocupações irregulares no Monte Cabrão e Caroara. Também foi criada a primeira escola no Caroara, de 1ª a 8ª
séries, ainda existente. O túnel também ficou esquecido. |
(1997 até hoje) O projeto do túnel ganhou novo impulso, mas não com o continente. A ligação agora é
com o distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá. A lei da APA está sendo reestudada para ampliar a ocupação da área urbana, em consonância com
as leis estaduais e federais. Foi criada a primeira policlínica do Caroara e a Coordenadoria da Área Continental também foi instalada nesse
bairro. |
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