Técnico explicou que o tremor foi causado, provavelmente, por fissuras na crosta terrestre.
Segundo ele, em todo o mundo , não há como prever a ocorrência de terremotos
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
FENÔMENO - Outros abalos, menores, não estão descartados. O que foi registrado na
noite de terça-feira teve 5,2º na escala Richter
Novos tremores podem ocorrer
Alerta é do especialista em Sismologia da USP, José Barboza
O especialista em Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto
Barboza, disse ontem que não é possível descartar novos tremores de terra na costa paulista. Isso porque, segundo ele, após haver um abalo, podem
ocorrer "microtremores" no entorno do epicentro (no caso, a 215 quilômetros da costa de São Vicente).
Frase |
"Temos catalogados registros de terremotos
sentidos na época de dom Pedro I" |
José Roberto Barboza, especialista em Sismologia da USP |
Imagem: charge de Max, na página 2 dessa edição de 24/4/2008. Refere-se aos problemas causados pela
expansão do porto avançando sobre uma cidade também em expansão
SISMOLOGIA
Novos tremores de terra no litoral não estão descartados
De acordo com especialistas, outros "microtremores" podem ser registrados na costa litorânea
paulista
Bruno Guedes
Da Redação
Não é possível descartar a possibilidade de novos tremores de
terra na costa paulista. É o que afirma o especialista em Sismologia José Roberto Barboza, técnico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).
Isso porque, segundo ele, após a ocorrência de um tremor, podem acontecer outros "microtremores"
no entorno do epicentro (a 215 quilômetros da costa de São Vicente), que podem ou não ser sentidos pela população.
O chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), Lucas Vieira Barros, também
afirma que novos tremores de terra poderão ocorrer, mas a tendência é a de que tenham magnitude inferior aos 5,2 graus da escala Richter (que vai
até 9) registrada terça-feira.
Sobre a possibilidade de ocorrerem tremores mais intensos na mesma região, Barros disse que "não é
impossível, mas é pouco provável". O chefe do observatório disse que, se o epicentro do tremor fosse mais próximo da costa, "poderia até matar".
O abalo sísmico, sentido às 21 horas da última terça-feira no Litoral Paulista, Capital e interior
do Estado, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais, em um raio aproximado de 700 quilômetros, conforme o IAG, foi o sétimo maior
registrado no Brasil em intensidade.
O tremor foi causado por fissuras na crosta terrestre, segundo José Roberto Barbosa. As fissuras,
comuns em diversos pontos, estão relacionadas com o afastamento das placas tectônicas, movimento que começou há milhões de anos e é contínuo. O
movimento natural das estruturas, explicou Barbosa, acaba criando uma tensão nessas falhas geológicas.
"É como esfregar duas pedras, uma na outra, até o momento em que sai uma faísca. Essa faísca é a
força liberada pela tensão, assim como na tensão criada pela falha nas rochas", exemplificou o técnico do IAG.
Ocorrências - O Corpo de Bombeiros não recebeu notificações de trincas ou rachaduras em
construções e não atendeu ocorrências causadas pelo tremor na noite de terça-feira, mas os telefones chegaram a ficar congestionados em alguns
momentos.
Somente em Santos, a central telefônica da corporação contabilizou mais de 300 chamados entre 21h
e 21h30. O normal para esse intervalo de tempo é de, no máximo, 30 telefonemas. "Todos ligavam procurando saber o que tinha acontecido, se era
alguma explosão ou se era mesmo um terremoto. Não houve notificação de comprometimento das estruturas", ressaltou o tenente Marcos Brizola de
Barros, do 6º Grupamento da corporação.
Em São Vicente, 200 pessoas ligaram para o Corpo de Bombeiros. De acordo com o tenente, com o
aumento no número de chamados, houve contato com o instituto da USP, que mede os tremores de terra, para que os bombeiros pudessem informar a
população. "Foi algo incomum. Nunca tinha visto isso nos 21 anos que trabalho na Baixada".
Sem vistorias - A Defesa Civil de Santos também registrou um número de chamados fora do
comum: foram mais de 80, em poucos minutos. A maioria de bairros da Zona Leste. Geólogo do órgão, Carlos Gallo disse que nenhuma das ligações dava
conta de problemas nas estruturas de construções e, por isso, não houve vistorias ou interdições.
Edificações com estruturas precárias, como barracos ou moradias em áreas de risco, são as mais
sensíveis a terremotos. Apesar de Santos ter pouco mais de mil moradias em áreas de risco nos morros, além das submoradias das favelas da Cidade, a
Defesa Civil informou que não fará vistorias para averiguar possíveis rachaduras em virtude do abalo sísmico.
"Porque não recebemos notificações sobre isso de moradores. Não há motivo para pânico", afirmou
Gallo.
Também não houve registro de comprometimento de moradias nos órgãos de Defesa Civil das outras
cidades da Baixada Santista.
Segundo o técnico do IAG José Roberto Barboza, o tremor foi causado por fissuras na crosta
terrestre
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
Terremotos não podem ser previstos
O técnico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, José Roberto
Barboza, lembrou que, em todo o mundo, não há como prever a ocorrência de terremotos. Nem há como saber onde estão as falhas geológicas da placa
tectônica sul-americana, bem abaixo do Brasil, que ocasionaram os tremores de terra de maior magnitude até hoje.
A única coisa que pode ser feita, acrescentou ele, é o mapeamento dos locais habitualmente
acometidos pelos abalos sísmicos. Nesse sentido, tanto a USP quanto a Universidade de Brasília (UnB) possuem catálogos com relatos de tremores desde
1560.
"Temos catalogados registros de terremotos sentidos na época de dom Pedro I", comentou o técnico.
Como não há como prever, ao menos há como fazer com que pessoas que moram em locais mais sujeitos aos terremotos estejam preparadas para uma
possível ocorrência.
No Japão, por exemplo, onde os terremotos são freqüentes pela proximidade com o encontro de duas
placas tectônicas, há simulações em edificações para reduzir a possibilidade de mortes. "Temos algumas estações sismológicas no Estado, mas a idéia
é levar para outros locais", afirmou Barboza.
Danos - De acordo com o especialista da USP, o Brasil registra regularmente tremores de
terra, sendo que as ocorrências se concentram nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Acre e no litoral do Sudeste.
Um mapa com todos os tremores de terra desde 1767 impressiona: cada ponto representa a ocorrência
de um terremoto. Alguns, mais fortes, nem foram sentidos pela população. Outros, de menor magnitude (que atingiram menos graus na Escala Richter),
tiveram uma maior percepção dos moradores do local.
Isso porque os efeitos dependem também da profundidade em que ocorrem. No Acre, por exemplo, há
diversas ocorrências, mas a maioria com mais de 200 quilômetros de profundidade.
Apesar do histórico de tremores, estragos significativos foram registrados somente no terremoto
que atingiu o município de Itacarambi, no Norte de Minas Gerais, ocorrido em 9 de dezembro do ano passado
(N.E.: 2007). A ocorrência, de 4,9 graus,
provocou o desabamento de casas e a morte de uma criança de cinco anos, a primeira vítima fatal deste desastre natural no Brasil.
Mas por que um terremoto de menor intensidade causa maiores conseqüências do que o ocorrido na
terça-feira? "Em Itacarambi, a região atingida tinha muitas construções precárias. Se o epicentro do tremor fosse no meio da cidade, somente as
construções de pior qualidade provavelmente sofreriam. Os prédios e casas com boas estruturas poderiam ter algumas trincas".
Tsunami - O técnico do IAG da USP disse ainda que o risco de tsunami com um terremoto como
o ocorrido é nulo. "Só é possível essa ocorrência em tremores acima de 7 pontos na Escala Richter".
Tremores no Brasil(*) |
Posição |
Local |
Ano |
Escala Richter |
1º |
Serra do
Tombador/MT |
1955 |
6,2 |
2º |
Costa do Espírito
Santo |
1955 |
6,1 |
3º |
Costa de Santa
Catarina |
1939 |
5,5 |
4º |
Serra de Codijás/AM |
1983 |
5,3 |
5º |
Mogi-Guaçu/SP |
1922 |
5,2 |
6º |
Costa de Porto
Alegre |
1992 |
5,2 |
7º |
Costa de São
Vicente |
22/4/2008 |
5,2 |
8º |
João Câmara/RN |
1986 |
5,1 |
9º |
Serra do
Tombador/MT |
2005 |
5,0 |
10º |
Pacajus/CE |
1991 |
5,0 |
(*) Nos últimos 100 anos |
Fonte: IAG-USP |
BOLETIM SÍSMICO BRASILEIRO
Imagem publicada com a matéria
Governo estuda criar uma rede sismográfica
De São Paulo
A magnitude dos terremotos ocorridos nos últimos seis meses no Brasil fez o
projeto de criação de uma rede sismográfica nacional ganhar força. Ontem, o chefe do Departamento de Sismologia da Universidade de Brasília (UnB),
Lucas Barros, apresentou os detalhes da proposta aos assessores do gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
"O tremor de ontem (terça-feira) ajudou a sensibilizar as autoridades sobre
a necessidade da rede. Precisamos de parcerias porque criar estações e operá-las não é algo barato", comentou. A reunião estava marcada havia alguns
meses, mas coincidentemente ocorreu no dia seguinte ao registro do maior tremor de terra no Estado de São Paulo.
O projeto da rede de sismografia prevê inicialmente a instalação de 40
estações de monitoramento em pontos considerados estratégicos - locais em que já foi registrada alguma movimentação anteriormente. Cada estação vi
detectar os tremores, incluindo os de magnitude inferior a 2 pontos na escala. "Hoje é difícil registrar os sismos pequenos. As estações que existem
estão distribuídas de maneira disforme e os instrumentos estão ultrapassados", explicou o professor.
Segundo Barros, as 50 estações que já existem no Brasil estão concentradas
nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, pois os equipamentos geralmente estão próximos de hidrelétricas. "Há locais como a Amazônia, por exemplo, que
não têm cobertura". Ele calcula que cada nova estação custe US$ 25 mil. A criação da rede, no entanto, não permitirá que novos sismos sejam
previstos. Barros explica que a principal função é monitorar os pontos em que a atividade sísmica é maior e, se necessário, pensar em medidas que
possam dar maior segurança à população quando o tremor ocorrer.
Mapa - Em 2002, o geomorfólogo Allaoua Saadi, do Instituto de
Geociências da Universidade Federal de Minas (UFMG), mapeou 48 falhas geológicas no território brasileiro. Essas falhas estão geralmente onde ocorre
a liberação da energia dos choques das grandes placas tectônicas. Mas, segundo Saadi, nem todas são monitoradas. "E a minha pesquisa era um pontapé
inicial. Devem existir outras. Não cheguei ao oceano, por exemplo". [Agência Estado] |