Lorde Gorila, um dos criadores...
Foto por Walter Mello e legenda publicadas com a matéria
Dona Dorotéia reúne foliões na Ponta da Praia
Da Editoria Local
O tradicional desfile Dona
Dorotéia, vamos furar aquela onda? acontece hoje, a partir das 15 horas, na Avenida Bartolomeu de Gusmão, na Ponta da
Praia. Realizada pelo Clube de Regatas Saldanha da Gama, a edição deste ano terá pela primeira vez o apoio da
Secretaria de Cultura (Secult).
O desfile contará, mais uma vez, com um de seus criadores, o funcionário público estadual
aposentado Luiz Vieira de Carvalho, o Lorde GOrila, que atualmente mora no Rio de Janeiro.
A abertura oficial da patuscada será feita pela Corte Carnavalesca, seguida das apresentações
especiais das Penosas do Itararé e Nereidas Tricolores. Depois, pelos não-patuscos, desfilam: Caciques do Macuco, Foliões Vascaínos, Maria Infância
e Mocidade Alegre do Estuário.
As Raparigas do Último Gole, com o tema As Raparigas do Último Gole nos Jardins da Dinda. Deus
nos Acuda!, abrem a apresentação da categoria patuscos. A seguir, desfilam: A Bola Vai Rolar, Grêmio Recreativo UTI, Loucas de Guarujá e Jardim
da Casa da Dinda (N.E.: a Casa da Dinda era a nababesca residência em Brasília do presidente
Fernando Collor de Mello, muito comentada na época).
O encerramento da festa, cuja concentração será defronte do Aquário Municipal, estará a cargo do
trio elétrico Leite Moça e da Banda Sol Nascente. A patuscada tem apoio da Prefeitura e da Polícia Militar.
Lorde Gorila - Ele tem duas filhas, duas netas, cinco bisnetos e uma tataraneta. Nasceu em
Petrópolis (RJ), mas morou em Santos de 1919 a 1927, quando foi para Ribeirão Predo e, dois anos depois, novamente para o Rio, onde reside até hoje,
no bairro de Copacabana. Perto de completar 90 anos (em março), a animação contagiante continua a mesma da época de juventude. Alegre, descontraído
e antigo malandro das rodas de samba cariocas freqüentadas por Pixinguinha, o funcionário público estadual aposentado Luiz Vieira de Carvalho, o
Lorde Gorila, poderá ser visto hoje fantasiado de mulher no Banho da Dorotéia, brincadeira que ajudou a fundar, na década de 20. Ontem à noite, ele
foi homenageado pela Prefeitura.
- Como surgiu a Dorotéia?
- Anos antes de 1923, eu e mais cinco amigos, todos sócios do Saldanha, costumávamos tomar banho
de mar fantasiados de mulher, um domingo antes e durante o Carnaval em frente ao clube, onde havia uma praia naquela época. Resolvemos organizar um
desfile no ano de 23 para agrupar mais gente e socializar a festa. Um dos sócios conseguiu três caminhões, que enfeitamos com bambus. Contratamos a
banda Gaita Galega e fundamos o bloco da Dorotéia.
- Qual a origem do nome?
- Havia uma peça no Teatro Guarani, com o humorista Pinto Filho, que fazia
o personagem de um cabo de polícia. Em uma das cenas ele se dirigia para uma mulher embaixo de um guarda-sol e ele lhe perguntava: Dona Dorotéia,
vamos furara aquela onda? Houve, no grupo, quem não quisesse o nome, por achar muito comprido, mas venceu meu argumento de ser algo diferente.
- Como foi a aceitação?
- Naquele ano, desfilamos da Ponta da Praia ao José Menino, e as pessoas iam entrando. Com o
passar dos anos a festa foi crescendo, mas eu voltei para o Rio.
- A brincadeira, hoje, está muito diferente da que vocês idealizaram?
- Digamos que o espírito sim, porque as fantasias de mulher permaneceram.
- Houve anos em que o sr. não veio. Foi por causa dessa descaracterização?
- Me entristece ver o que está acontecendo. Antes, a brincadeira era sadia e familiar; a juventude
tem outra visão do que é diversão. Mas a solidão foi o maior motivo. Os amigos foram morrendo e perdi a motivação. Não há mais ninguém da minha
época vivo.
- Havia outra atividade carnavalesca santista que o sr. gostasse?
- Lembro com carinho do Bloco Flor do AMbiente, do Santos FC, na época do Urbano Caldeira. Era
muito animado.
- Como bom folião que mora na capital do Carnaval, o sr. sai em alguma escola de samba?
- Não. É um espetáculo bonito, rico, mas não tem nada de samba. Daquele samba do malandro de
morro, como havia no Bloco Bola Preta, do qual eu participava com meu amigo Pixinguinha. O bom era a roda de samba, nos bares, nos becos, onde eram
compostos lindos sambas.
- Aproveitando que o sr. está no Rio desde 1929, e em Copacabana, bairro tradicional das noites
cariocas, como se sente vivendo em uma das capitais mais violentas do País?
- É horrível. Ninguém mais sai depois das 18 horas. O pior são os menores de rua, que assaltam até
mesmo com garrafas quebradas. Copacabana perdeu o charme e não apaixona mais, assim como o Rio. Não se vê um prédio ou casa sem grade, e nem isso
adianta. Gosto de Santos. Ainda dá para andar na praia.
...do tradicional desfile-patuscada, recebe homenagem hoje. Na foto, ele é o segundo à direita
Foto: reprodução de arquivo, por Reinaldo Ferrigno, e
legenda, publicadas com a matéria
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